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Guilherme Palenzuela
Juan Carlos Osorio foi anunciado no dia 26 de maio como sucessor de Muricy Ramalho no São Paulo, após um longo processo de escolha que atirou para diversos lados e não conseguiu sucesso com nenhum dos quatro alvos iniciais. Hoje, três meses depois, o colombiano de 53 anos cogita deixar o clube se o interesse da seleção mexicana se transformar em proposta oficial. A dúvida do técnico em relação à sua permanência acontece em parte pelo sonho de poder disputar uma Copa do Mundo, mas também porque o São Paulo de hoje é totalmente diferente daquele que lhe foi apresentado pelo presidente Carlos Miguel Aidar.
Promessa durou só 18 dias
No dia 20 de maio Carlos Miguel Aidar e o vice-presidente de futebol Ataíde Gil Guerreiro colocaram em prática o plano para contratar Osorio. Às pressas e em segredo, viajaram à Colômbia e passaram o dia com o técnico. O encontraram no centro de treinamento do Atlético Nacional, seu clube anterior, almoçaram com ele e terminaram o dia na casa de Osorio, discutindo a proposta e analisando vídeos do São Paulo. Naquela conversa, falaram o projeto do clube: seria necessário vender Rodrigo Caio, e apenas ele, para amenizar o problema financeiro, não poderiam ser feitos investimentos em contratações e seria necessário desenvolver atletas recorrento às categorias de base. Osorio aceitou.
A promessa durou 18 dias. Osorio chegou ao CT da Barra Funda no dia 1º de junho, comandou seu primeiro treino, e no dia 18 de junho o São Paulo anunciou a venda do zagueiro Paulo Miranda, tido pelo técnico colombiano como provável titular no esquema com três zagueiros. Foi o começo de um processo que transformaria o São Paulo do projeto apresentado em Medellín em um clube totalmente diferente.
O motivo: Rodrigo Caio
O São Paulo fechara no dia 12 de junho com o Valencia, da Espanha, a venda de Rodrigo Caio por 12 milhões de euros (R$ 47,5 milhões). Deste valor, o clube ficaria com 8,4 milhões de euros (R$ 33,3 milhões) – o São Paulo detém 90% dos direitos econômicos do atleta e o negócio previa 20% de comissão aos ex-agentes do jogador. A diretoria são-paulina acreditava que bastava essa venda para sanar os problemas do futebol – pelo menos disse isso na ocasião da proposta a Osorio.
Rodrigo Caio posou para fotos, anunciou a própria despedida, viajou à Espanha, mas não fechou com o Valencia devido a desacordo contratual, desavenças internas no clube espanhol e pedidos por diferentes exames médicos que fizeram com que o atleta desistisse da transferência – a história é tratada até hoje como segredo no Morumbi. Sem Rodrigo Caio e os R$ 33,3 milhões que ele renderia, o São Paulo precisou dar fim à promessa feita a Osorio.
Quatro titulares em duas semanas
A partir do fracasso do negócio em Valencia o São Paulo vendeu quatro jogadores que seriam titulares com Osorio em duas semanas. Depois de Paulo Miranda, no dia 18 de julho, para o Red Bull Salzburg, da Áustria, o volante Denilson foi vendido no dia seguinte, 19 de julho, ao Al Wahda, dos Emirados Árabes. No dia 30 de junho o empréstimo do zagueiro Dória acabou – mais tarde o departamento de futebol do São Paulo fechou negócio para contratá-lo por 6 milhões de euros (R$ 23,8 milhões), mas a operação foi vetada em reunião de diretoria por problemas financeiros. Na sequência, no dia 1º de julho, o volante Souza – o mais importante do time para Osorio – recebeu proposta do Fenerbahçe e foi vendido.
Críticas de Osorio aparecem
Dois dias após a venda de Souza, Osorio falou no CT da Barra Funda e intensificou as críticas ao desmanche do elenco. Disse que não havia sido avisado disso. “Entendo a decisão de vender jogadores, mas não compartilho dela. Eu penso que o certo seria vender dois jogadores […] Não me enganaram, mas não me falaram que existia a necessidade de vender cinco jogadores”, falou.
Toloi e mais três: oito saídas
A lista se completou com as saídas dos atacantes Jonathan Cafu e Ewandro, do meia Boschilia e agora com o zagueiro Rafael Toloi. As duas primeiras previstas e que não renderam quase nada aos cofres são-paulinos. A terceira foi um golpe duro no planejamento de Osorio. Boschilia era alternativa para o lugar de Ganso e vinha ganhando espaço – sua venda ao Monaco, da França, rendeu 6,3 milhões de euros (R$ 24,3 milhões) ao clube. A última, que se concretizou neste sábado, tirou de Osorio um de seus principais jogadores e só rendeu R$ 3,5 milhões – o São Paulo só detinha 25% dos direitos de Rafael Toloi.
Se a promessa era a saída única de Rodrigo Caio, a realidade se apresentou a Osorio com a perda de 28% dos jogadores de linha que lhe foram entregues. Quando ele assumiu, o elenco tinha 29 atletas além dos quatro goleiros. Com a saída de oito, a solução foi investir barato em contratações como o atacante Wilder e o zagueiro Luiz Eduardo, além de promover atletas da base, como o zagueiro Lyanco – os três reforços resgataram o elenco de 22 jogadores de linha para 25 atletas.
Auro deve sair até dia 31
Mas a lista não deve parar em oito saídas. O lateral Auro, que chegou a ser titular na ponta direita, tem proposta de empréstimo para ir ao Estoril, de Portugal e manifestou nos últimos dias desejo de sair.
São Paulo torce contra México, mas entende vontade
Nesta sexta-feira (21) a análise da parte mais próxima da diretoria do São Paulo foi que a derrota por 2 a 1 para o Ceará em casa, pela Copa do Brasil, não tira os méritos do trabalho de Osorio. Os dirigentes afirmam que não há justificativa para o time sair do Morumbi derrotado pelo time misto do lanterna da Série B, mas se apegam aos números – 73% de posse de bola e 22 finalizações – para ver pontos altos na atuação. Neste momento, sem saber ao certo o que irá acontecer, torcem para que a proposta da seleção mexicana não chegue e que, se chegar, não convença o técnico colombiano a abandonar o Morumbi.
No entanto, os próprios membros da diretoria entendem que o treinador tem argumentos para ser convencido a se mudar para o México. “O cobertor ficou muito curto”, falou um dirigente, sobre a saída de tantos jogadores e prevendo que na próxima semana Toloi e Auro também deixem o clube.