Religioso, inquieto e sereno nos gols, Osorio vence pressão no Castelão.

GloboEsporte.com

Marcelo Hazan

Em evidência após três derrotas e convite do México, técnico do São Paulo vibra de forma tímida após terceiro gol, faz sinal da cruz e cobra time com 3 a 0 sobre Ceará.

Juan Carlos Osorio dá orientações aos jogadores durante a vitória sobre o Ceará (Foto: Rubens Chiri / Site oficial do SPFC)

Imóvel depois do pênalti convertido por Rogério Ceni, um rápido sinal da cruz após Thiago Mendes ampliar e vibração tímida com as mãos ao ver Pato fechar o 3 a 0 a favor do São Paulo sobre o Ceará.

Juan Carlos Osorio entrou na Arena Castelão em evidência pela pressão das três derrotas seguidas (Goiás, Ceará e Flamengo) e o convite para treinar a seleção do México.

A possibilidade real de sair do Tricolor tornou tenso para o colombiano o decisivo duelo pelas oitavas de final da Copa do Brasil, na quarta-feira à noite, em Fortaleza. Mas nem esse clima foi capaz de mudar a personalidade do treinador. O GloboEsporte.com acompanhou o jogo dentro do gramado e ficou de olho nas reações do comandante antes, durante e depois da partida fundamental para lhe dar paz na continuidade no clube. Confira abaixo:

Antes do jogo, a torcida do São Paulo se agitou aparentemente sem motivo nas arquibancadas quando a resposta para a reação veio do túnel da Arena Castelão: Osorio apareceu no campo e observou a irrigação molhar o gramado. O coro com o nome do colombiano foi uma amostra da moral dele com os são-paulinos, responsáveis por dar apoio constante nas redes sociais. Todo esse carinho foi retribuído com um gesto inusitado do Profe: ele subiu uma das tradicionais escadas de acesso ao campo das novas arenas para tirar fotos com fãs e ficou literalmente nos braços da galera .

Osorio e Milton Cruz, do São Paulo, chamam jogadores no aquecimento (Foto: Marcelo Hazan)

Osorio está há quase três meses no Brasil e se esforça diariamente com aulas para aprender a língua portuguesa, mas tem dificuldade com algumas palavras. Por isso, o auxiliar Milton Cruz, com quem divide opiniões sobre o time, também o ajuda como uma espécie de mensageiro. Em diversos momentos durante o duelo com o Ceará, o colombiano o chamou para ajudá-lo na missão de passar orientações aos jogadores, como Hudson, por exemplo. Depois de o volante entrar, Osorio mostrou inquietação com um posicionamento considerado equivocado e fez Milton chamar o jogador na beira do gramado para corrigir.

Michel Bastos foi o jogador com quem Osorio mais se comunicou durante o 3 a 0 sobre o Ceará, mesmo após substituí-lo por Wesley, quando o cumprimentou. Em dois momentos na etapa inicial, o técnico deu orientações ao meia e como resposta recebeu um sinal de “tranquilo” com as mãos.

Depois, logo após a expulsão de Wellington Carvalho, aos 41 minutos do primeiro tempo, ele teve um papo ao pé do ouvido com o jogador. Em outro momento, Osorio consultou Michel com sinais para saber se teria de substituir algum dos atletas que havia sinalizado dor, mas não precisou fazer a alteração.

– Acho que pela minha experiência e liderança no grupo ele acaba conversando muito comigo e dando confiança, pelo fato de eu estar sempre jogando, independentemente da posição – disse Michel Bastos.

Agachado e sem qualquer reação, como uma espécie de estátua. Assim Osorio viu o gol de Rogério Ceni, de pênalti, que abriu caminho para a classificação do São Paulo. Depois, nos gols de Thiago Mendes e Alexandre Pato, o colombiano recorreu ao lado religioso e fez o sinal da cruz com as mãos. Osorio costuma carregar consigo uma oração da sua mãe e uma foto da família. O que chamou atenção foi a atitude imediata de convocar Hudson do aquecimento imediatamente após o São Paulo fazer 2 a 0 e o colocar na vaga de Wilder Guisao.

“Bom jogador”, disse Osorio para Fabinho na saída para o intervalo, no Castelão. No segundo tempo, o atacante acertou o travessão de Rogério Ceni, em falta cobrada aos 14 minutos do segundo tempo (veja no vídeo acima). Após o jogo, o atleta trocou de camisa com Pato.

Pato pede bola, e Osorio observa em jogo do São Paulo contra o Ceará (Foto: Marcelo Hazan)

Alexandre Pato e Osorio dividem uma relação especial no São Paulo, explícita principalmente no primeiro tempo do duelo com o Ceará. O atacante vive a melhor temporada da carreira, com 21 gols, e cresceu de produção justamente sob o comando do treinador.

Aberto pela esquerda, o atacante ficou várias vezes perto de Osorio, que pedia o jogo por aquele lado do campo ao time a todo instante. Após uma finalização perigosa do atacante parar no goleiro Luís Carlos, aos 33 do primeiro tempo, Osorio levou as mãos à boca parecendo não acreditar. Ainda assim, cada dividida ou tentativa de lance do jogador foram motivos para aplausos e incentivo.

– Nós conversamos muito. Ele me dá toques para ver o que posso fazer. Isso demonstra o trabalho dele. Tivemos posse de bola na maior parte do tempo e conseguimos virar o placar. A vitória é de todos e especialmente para o Osorio – disse Pato.

Mesmo com o placar de 3 a 0 consolidado no segundo tempo, Osorio seguiu cobrando os jogadores. Wesley, Reinaldo, Pato, Thiago Mendes. Agachado na maior parte do tempo durante a partida, ele recorreu diversas vezes às canetas vermelha e azul para fazer anotações.

O colombiano não parou de passar orientações até o apito final, quando enfim teve tranquilidade, sentimento precioso para o treinador seguir o trabalho no São Paulo depois da semana de instabilidade. Depois da vitória, Ceni disse ter observado Osorio cabisbaixo nos últimos dias por conta dessa situação de pressão.

– Aprecio profundamente e genuinamente o apoio da maioria dos torcedores, mas o futebol profissional no Brasil é como na Argentina e na Colômbia. É de resultados. Tanto a diretoria como o técnico podem pensar que os resultados não acontecem e que temos de tomar uma decisão. Eu espero que tenhamos uma boa reação e que o torcedor siga torcendo pelo São Paulo. O mais importante é São Paulo como time, como clube. Sou um ser humano. Tenho sentimentos, alegrias, saudades. Eu vim com um propósito, com o objetivo de ganhar no Brasil. É muito difícil quando você perde três jogos consecutivos – disse o treinador, após a vitória consolidada.