Menos de 24 horas se passaram entre o desligamento de Alexandre Bourgeois e o anúncio de Paulo Ricardo de Oliveira como seu substituto no cargo de CEO (Chief Executive Officer) do São Paulo, na semana passada. Para o executivo demitido, que diz ter sido ameaçado por um dos assessores do presidente Carlos Miguel Aidar, uma das maiores dificuldades para seu sucessor serão os entraves políticos.
– Não sei se ele tem experiência com política no futebol. Eu já tinha vivido política no Santos, em episódios menores no Palmeiras e Flamengo. Essa situação dos clubes é muito séria. No Brasil, 95% é política, 5% é gestão, com algumas exceções. Enquanto as pessoas no São Paulo estiverem colocando os interesses pessoais à frente da instituição, será impossível reverter o quadro atual – opina.
O quadro mais grave a ser revertido é o financeiro. Atualmente, a dívida do clube é de R$ 272 milhões. Foi para profissionalizar a gestão e renegociar os débitos que Bourgeois foi contratado, através de indicação do empresário Abílio Diniz. Pouco antes de completar três meses na função, no entanto, foi demitido. Uma das razões de sua queda, admitiu Aidar, foi política.
Dois dias antes da reunião que definiu sua saída, o CEO se encontrou com Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, presidente do Conselho Deliberativo e tido como oposicionista pela situação. Além disso, em nota assinada, Aidar elencou diversos outros motivos, como “desempenho pífio nas tarefas” e “perfil profissional incompatível”, sem experiência “em renegociações com bancos e instituições financeiras”.
– Os contratos que seriam renegociados por mim nunca passaram por minhas mãos. Eu não tinha acesso a nada. Tudo o que acontecia eu não sabia. É uma gestão pouco democrática. O presidencialismo tem que ser com democracia, não ditadura, onde cada um faz o que quer no seu canto. Isso não existe mais. Governança corporativa foi criada para isso, para evitar que um cara só tomando decisões quebre a empresa – argumenta Bourgeois, ao tirar parte (pequena) da responsabilidade das costas de Aidar.
– É importante deixar claro que ele não é o único responsável. Isso vem acontecendo há muito tempo. Ele herdou uma situação complicada. Mas, a partir do momento em que herda, o que tem que fazer? Tem que ter diagnóstico, formulação e vontade política. Sem formular soluções e vontade política para fazer, a situação do São Paulo piorou em um ano e meio. Entrei lá com esse objetivo, não consegui implantar. Espero que o próximo CEO consiga – disse.
Paulo Ricardo de Oliveira, o próximo CEO, é formado em Ciências Contábeis, Administração de Empresas e tem pós-graduação em Finanças e Marketing, além de formação em Governança Corporativa pelo IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa). É presidente da Penalty, ex-fornecedora de material esportivo do São Paulo, cargo que acumulará apenas até o final do mês. A partir de outubro, vai se dedicar exclusivamente à nova função.
Será com ele que o clube colocará em prática um novo plano de gestão – não o proposto pelo executivo antecessor –, que tem a inclusão de gestores remunerados em quatro áreas da diretoria (futebol, social e esportes amadores, marketing e administração). Outra missão de Oliveira será colocar em funcionamento o FIDC (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios), para levantamento de R$ 100 milhões até o fim do ano. Fundo derivado do que foi idealizado por Bourgeois, segundo ele, em parceria com a Infinity Asset Management.
– Foi pensado para que se possa investir no futebol via governança e CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que possa trazer investidores de verdade, incluindo jogadores, sem ferir a regra da Fifa. A Infinity, que é uma casa de gestão de recursos, me ajudou a finalizar o produto. Mas ficou um pouco desvirtuado. Onde chegou, acho difícil conseguir dinheiro, pois não há governança. Ninguém dá dinheiro para um lugar em que não se sabe quem está comandando – concluiu o CEO demitido.