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Marcelo Prado
A paixão do atacante pelo futebol começou na infância, no estádio de Pesqueira, a 215 quilômetros de Recife. De lá até a estreia pelo São Paulo, muita coisa aconteceu.
Uma estreia para guardar com carinho. Rogério foi apresentado na sexta-feira, vestiu a camisa 17 do São Paulo pela primeira vez no sábado, marcou um gol e foi um dos destaques da vitória sobre o Internacional por 2 a 0 no Morumbi. É o início de uma nova etapa do atacante que, apesar de ter apenas 24 anos, já rodou bastante no mundo do futebol.
O atacante é natural da cidade de Pesqueira, que fica a 215 quilômetros de Recife. Os avós são índios da tribo xucurus, e Rogério teve contato com a cultura indígena até os seis anos. Morava com os pais na comunidade de Roçadinho, na periferia da cidade pernambucana, onde dividia seu tempo entre os estudos e a bola de futebol.
Isso chegou a causar brigas entre os pais do atleta, José Manuel e Cícera. O primeiro queria que o filho ajudasse na roça, enquanto a segunda gastava o pouco dinheiro para manter o sonho do filho. De onde moravam até o estádio municipal da cidade, a distância era de nove quilômetros, trajeto que Rogério fazia de bicicleta. Até que, aos 14 anos, deixou a família para fazer teste e ser aprovado no Porto de Caruaru, onde se tornou um jogador profissional.
– Com 14 anos, saí de casa e fui aprovado no Porto. Sou um cara humilde, que procura trabalhar para a equipe. Apesar da pouca idade, rodei bastante no futebol e agora é uma alegria muito grande vestir a camisa do São Paulo – afirmou Rogério, que, apesar deste discurso comedido, foi mais incisivo logo após a vitória que recolocou o São Paulo no G-4 do Brasileirão.
– Fiz o que melhor sei fazer, que é ir para cima do adversário.
Em 2010, atuou no Central de Caruaru e, no ano seguinte, foi para o Náutico, onde começou a crescer de rendimento. Em 2011, começou a namorar Aline, uma garota que morava em Pesqueira. A união não foi aprovada pelos pai, José Romildo, que tinha medo de que a menina pudesse se aproveitar da ingenuidade de seu filho. Os dois brigaram e, dentro de campo, o desempenho do jogador caiu bastante. Foi então que o técnico Valdemar Lemos (irmão de Oswaldo de Oliveira, atual treinador do Flamengo) entrou em ação para resolver a incômoda situação.
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Valdemar foi até Recife, onde os pais do atacante moravam, para discutir o assunto. A trégua foi acertada. O namoro com Aline virou casamento, e eles tiveram um filho, David Juan, que está com três anos.
Em 2012, sofreu uma grave lesão no joelho esquerdo. Em partida contra o América-MG, rompeu o ligamento cruzado e ficou sete meses longe dos gramados. Quando se recuperou, já em 2013, foi emprestado e ficou um ano jogando no Al Dhafra, dos Emirados Árabes. Voltou um ano depois para jogar no Botafogo. No Rio, o sonho de atuar num grande do futebol brasileiro se transformou em pesadelo. Com atraso de salários, acabou não se destacando e retornou ao Náutico.
No início de 2015, um novo clube apareceu no destino de Rogério: o Vitória. E ele se destacou na Bahia. No Campeonato Brasileiro da Série B, havia marcado dez gols e era um dos principais artilheiros da competição. Com isso, chamou a atenção do São Paulo, que desembolsou R$ 1,2 milhão para contratá-lo em definitivo. Seu vínculo com a equipe do Morumbi vai até setembro de 2018.
Feliz com o desempenho na partida deste sábado, Rogério sabe que sua caminhada no São Paulo está apenas começando.
– Com os pés no chão, tenho de continuar trabalhando forte, como estou fazendo desde o dia da minha chegada. A estreia foi boa, pudemos sair com o resultado positivo, mas ainda tenho muito que melhorar. Creio que poderia ter finalizado melhor – ressaltou.
Os elogios não incomodam, mas uma coisa Rogério não gosta: ser chamado de Neymar do Nordeste, apelido que ganhou quando vestia a camisa do Náutico por ter estilo de jogo parecido com o jogador do Barcelona.
– Neymar, não! Neymar só tem um. Gosto muito dele, acho um jogador fantástico. Eu sou o Rogério, estou aqui no São Paulo buscando meu espaço – disse.
Na quarta-feira tem clássico entre São Paulo e Santos. E Rogério diz estar pronto.
– Se o professor (o técnico Osorio) precisar, estou à disposição.
Gostei do futebol do Rogério que eu não conhecia, só que ele com aquele cabelo parece o Zé Bonitinho.