UOL
Guilherme Palenzuela
Matt May/Tampa Bay Rowdies/Divulgação
Valor apresentado por Aidar não leva em conta dívida operacional e Timemania
O presidente Carlos Miguel Aidar apresentou na última sexta-feira um programa de reforma de gestão com o objetivo de aliviar os problemas financeiros do São Paulo. Na ocasião, mudou de postura e disse que foi “induzido ao erro” ao afirmar durante meses que a dívida total do clube estava entre R$ 270 milhões e R$ 280 milhões, e apresentou o valor de R$ 137 milhões como correto da dívida total ao final de 2014. O valor real, porém, é maior do que o anunciado e atualmente, se contabilizado entre empréstimos bancários, impostos não pagos, obrigações da Timemania e débitos com fornecedores e empresários, ultrapassa R$ 240 milhões.
O valor de R$ 137 milhões anunciado como dívida total de 2014 não levou em conta dívidas operacionais e a Timemania, e resulta da subtração de R$ 13 milhões de disponibilidade de uma dívida bancária total de R$ 150 milhões. “É dívida financeira. Você sabe a data, ele [Aidar] estava analisando o semestre [de 2014]. Se você pega a dívida financeira, bancária, toda a dívida com instituições financeiras, é aquela mesmo”, disse o vice-presidente de administração e finanças, Osvaldo Vieira de Abreu, ao UOL Esporte. Ele comandou o departamento financeiro também na gestão Juvenal Juvêncio. A assessoria de comunicação do clube afirma que o cálculo de R$ 137 milhões só contempla a dívida bancária porque outros débitos já foram encaminhados em programas de refinanciamento e que estes valores são considerados “obrigações” e não dívida – especialistas contestam a interpretação (veja mais abaixo). O próprio clube incluiu a dívida da Timemania no passivo do balanço de 2014 como “obrigações tributárias parceladas”.
Em 2015, porém, o São Paulo aumentou o endividamento bancário, antes em R$ 150 milhões, porque recebeu um empréstimo do atual diretor de marketing Vinicius Pinotti para realizar o investimento na contratação do atacante argentino Ricardo Centurión. A operação custou cerca de R$ 14 milhões, e o empréstimo foi concedido com juros de mercado, na base de CDI (Certificado de Depósito Interbancário).
Além disso, em 2015 o São Paulo deixou de pagar impostos como Cofins e PIS em meio à crise financeira que fez o clube dever até quatro meses de direitos de imagem para parte dos jogadores. Tal postura, encarada na ocasião como necessária, fez com que o São Paulo acumulasse nova dívida de R$ 30 milhões – Osvaldo Vieira de Abreu admitiu o valor há menos de um mês, em publicação do Blog do Rodrigo Mattos. A aposta do clube é resolver o novo débito com a sanção da Lei do Profut. O São Paulo também tem dívida de R$ 53 milhões a ser paga dentro do programa de refinanciamento da Timemania, que permite parcelamento de débitos como FGTS e INSS.
Até o início de agosto, o São Paulo contabilizava débitos de R$ 6 milhões com fornecedores. O clube também tem pendências com empresários de jogadores e investidores detentores de direitos econômicos. Tais débitos constituem a parte mais pesada da dívida operacional do clube atualmente – o São Paulo está usando parte dos R$ 24,3 milhões recebidos pela venda de Gabriel Boschilia para quitá-los.
Hoje o mais pesado para o São Paulo tem sido arcar com os pagamentos mensais de R$ 8 milhões a instituições bancárias entre amortizações e encargos. O clube, no entanto, tem empréstimos com vencimento entre o fim de 2015 e o início de 2016, e por isso acredita que estará equilibrado já no próximo ano. “Até o final do ano, vamos ter muitas baixas de dívidas com instituições bancárias. Um exemplo básico é o Polo Investimentos, do Rio de Janeiro”, diz o vice-financeiro do clube. “As coisas estão se ajustando, essa reestruturação de gestão está sendo implantada, e realmente o resultado disso demora. Até 2016 com certeza estaremos dentro do equilíbrio em continuando dessa maneira”, acrescenta.
O São Paulo ainda deposita grandes esperanças de alívio financeiro no fundo de investimento em direito creditório (FIDC), para refinanciar empréstimos de curto prazo com juros altos. “É aí que muda. O FIDC, o objetivo principal é você mudar o perfil da dívida, o que inclusive a gente já está fazendo. É você sair mais do curto prazo e passar para o longo prazo. Você tem duas grandes vantagens: o prazo, sai do curto e vai pro longo, você muda o perfil da dívida, e seus custos vão ser muito menores”, afirma Vieira de Abreu.
Especialistas contestam interpretação do São Paulo
O UOL Esporte consultou três especialistas em análise de finanças de clubes para entender a alegação do São Paulo de que débitos em refinanciamento como Timemania e Refis são considerados obrigações e não podem ser contabilizados como dívida. Nenhum deles concordou com a interpretação do clube. Para Carlos Aragaki, sócio da UHY Moreira Auditores, especialista em auditoria de clubes, “tanto faz o nome” entre dívida e obrigação.
“Uma dívida bancária ou um empréstimo é uma obrigação bancária. Uma dívida com o governo por impostos, parcelados ou não, na Timemania ou no Refis, não deixa de ser uma obrigação. Na semântica da coisa, pode ser encarada como dívida. Tanto faz o nome. Você também pode chamar um empréstimo de obrigação. É tudo uma questão de nome. É semântica. Para a contabilidade, nós contadores dizemos que o passivo todo é um conjunto de obrigações”, disse Aragaki.