UOL
Guilherme Palenzuela
Ricardo Nogueira/Folhapress
O presidente Carlos Miguel Aidar recusa a possibilidade de renunciar à presidência do São Paulo mesmo após a revelação do UOL Esporte de um e-mail enviado pelo ex-vice-presidente de futebol Ataíde Gil Guerreiro a ele, no qual indica que houve desvio de dinheiro do São Paulo, diz ter gravado revelações comprometoras e pede que Aidar renuncie para evitar o impeachment. No início da tarde desta sexta-feira, Aidar informou à reportagem que não existe chance de renunciar, e agora membros da oposição e dissidentes da diretoria preparam o pedido de impeachment.
Ataíde Gil Guerreiro escreve no e-mail ter gravado, dois dias antes da briga entre eles, Aidar falando sobre como desviaria dinheiro em comissão na contratação de um jogador, sobre a tentativa de comissionar a TML, empresa de sua namorada Cinira Maturana da Silva, no contrato da Under Armour, e ainda sobre operação que seria “fraudulenta” do ex-vice-presidente de marketing Douglas Schwartzmann no clube. A gravação, segundo membros da oposição e dissidentes da diretoria, é a chave para o impeachment. Na tarde desta sexta-feira, uma reunião de opositores discute como proceder com o pedido junto ao conselho deliberativo do clube.
O plano é entregar nos próximos dias ao presidente do conselho, Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, a gravação que Gil Guerreiro escreve ter obtido e um requerimento pedindo o impeachment do presidente por lesão aos cofres do clube. A partir de então, Leco poderia convocar uma reunião extraordinária do conselho para votar o impeachment: segundo opositores, seria necessário ter 75% de quórum para iniciar a votação (180 conselheiros, de um total de 240) e aprovação por maioria simples para destituir Aidar da presidência.
Se houver impeachment, Leco assumiria a presidência do São Paulo temporariamente e teria 30 dias para convocar nova eleição. O próprio Leco poderia ser candidato.
O e-mail de Ataíde Gil Guerreiro a Aidar chegou na manhã desta sexta-feira a membros do conselho, na íntegra, e acelerou o processo de organização pelo pedido de impeachment, à medida que Aidar não aceita a renúncia, mesmo que aconselhado a consumá-la, segundo seus próprios aliados. Amigos acreditam que o melhor para Aidar era renunciar ao cargo para evitar o processo de impeachment e o levantamento de novos e velhos pontos polêmicos da gestão.
O São Paulo atualmente vive enorme crise de gestão. O episódio da briga entre Aidar e Ataíde Gil Guerreiro na última segunda-feira causou a exoneração do vice de futebol e iniciou processo de dissolvência da diretoria. Alguns vice-presidentes e diretores entregaram cargos, outros renunciaram e motivaram o presidente a convocar demissão coletiva, em massa. Desde a noite de terça-feira todas as vice-presidências e diretorias do São Paulo estão vazias, e o clube é comandado apenas pelo CEO Paulo Ricardo de Oliveira.
Aidar tenta reconstruir a nova diretoria, mas encontra dificuldade. Na quarta-feira, a seu serviço, os conselheiros Ives Gandra e Antonio Claudio Mariz conversaram os ex-presidentes do clube e os convidaram a participar ou indicar nomes para a nova cúpula. Não obtiveram apoio. Nesta quinta-feira, há programação para que o próprio Aidar se reúna com os ex-presidentes.
Diferentes grupos agora na oposição articulam para que conselheiros que sejam convidados por Aidar para ocupar cargos não aceitem os convites. A estratégia é impedir a composição da diretoria para isolar Aidar e causar a renúncia. Importantes dirigentes que entregaram os cargos na última terça-feira já avisam que não voltarão à diretoria se convidados.
Em e-mail enviado à imprensa nesta sexta-feira, Ataíde Gil Guerreiro admite pela primeira vez a briga com Aidar e fala sobre os próximos passos:
“Caros jornalistas,
Tenho o maior respeito por todos vocês.
A Imprensa tem que estar a par da verdade dos fatos para evitar distorções e informar corretamente a torcida, que está sempre à procura de conhecer o que se passa no seu clube do coração.
Algumas vezes, porém, a fonte da notícia necessita de privacidade. Discutir assuntos controversos publicamente complica o quadro político que está difícil de administrar.
Confirmo que houve entrevero entre mim e o Presidente Carlos Miguel Aidar no café da manhã no Hotel Radisson, na última segunda-feira. O motivo do meu comportamento agressivo está na minha total discordância aos métodos de administração do Presidente. Estes serão discutidos exclusivamente no Conselho Deliberativo do Clube, único órgão com autoridade para dirimir nossas divergências.
Muitas notícias tem saído na mídia, verdadeiras e falsas, em respeito aos meus colegas do Conselho Deliberativo, não vou confirma-las e nem nega-las, eles tem o direito de conhecer a realidade dos fatos em primeiro lugar.
Conto com a compreensão de todos,
Obrigado.
Ataíde Gil Guerreiro.
São Paulo, 9 de outubro de 2.015″.