UOL
Guilherme Palenzuela
Gabo Morales/Folhapress
Ataíde Gil Guerreiro: gravação, briga em hotel, renúncia de Aidar e volta ao SP
Ataíde Gil Guerreiro, vice-presidente de futebol do São Paulo e pivô da renúncia de Carlos Miguel Aidar, falou na noite de quinta-feira (15) em reunião de seu grupo político sobre a gravação em áudio que diz ter feito do ex-presidente, que revelaria tentativas de desvio de dinheiro no clube. Em meio à discussão sobre como seria feita a entrega do material ao clube para apuração dos fatos, Gil Guerreiro contou a seus aliados os bastidores de como tudo aconteceu naquele sábado, no dia 3 de outubro.
O relato de Ataíde Gil Guerreiro foi feito em reunião da Legião Tricolor e reportado ao UOL Esporte por quem presenciou o encontro.
Gil Guerreiro, segundo contam interlocutores, afirma que nas semanas que antecederam o episódio tentou expor as suspeitas de desvios de dinheiro no departamento de futebol sem gravar qualquer conversa. Diz que passou dias conversando com um empresário, agente de jogadores, que estaria disposto a falar sobre casos conhecidos de tentativa de lesão ao clube por pagamento de comissões a terceiros em compra e venda de jogadores.
O plano que Ataíde cozinhava, porém, teve de ser abandonado na manhã de sábado, quando integrantes da Legião Tricolor lhe disseram que o grupo retiraria apoio a Aidar e sairia da base aliada da diretoria. O vice de futebol temeu que, sem o respaldo político de seu partido, pudesse ser destituído do cargo por Aidar. Naquele momento, se fosse demitido deixaria o clube sem conseguir concluir a investigação. No fim da manhã daquele 3 de outubro, então, iniciou uma improvável jornada para conseguir uma prova, e teve a ideia de fazer a gravação.
Segundo relatado por seus aliados, Gil Guerreiro diz que procurou um amigo e pediu uma indicação de um detetive particular. Após troca de telefonemas, encontrou tal detetive no saguão de um aeroporto. Com ele, conseguiu um pequeno gravador de áudio de alta qualidade, e foi para o Morumbi para conversar com Aidar – no mesmo dia o São Paulo jogaria em casa contra o Atlético-PR, na despedida de Juan Carlos Osorio.
Horas antes da partida, em conversa particular com Aidar, já munido do gravador posicionado no bolso da camisa, Ataíde teria arrancado do ex-presidente as palavras que mais tarde relatou em e-mail, revelado pelo UOL Esporte. Aidar teria dito sobre a possibilidade de desviar determinado valor na contratação do lateral direito Gustavo Cascardo, de 18 anos, que até então era da Portuguesa. Além do desvio, seria possível repartir a comissão entre eles – aliados do ex-presidente afirmam que, na verdade, Aidar tentava ajudar o então amigo Ataíde, que estaria passando por supostos problemas financeiros, e daria dinheiro do próprio bolso ao ex-braço-direito sem que ele soubesse que se tratava de um presente.
Pouco familiarizado com a tecnologia que conseguira no mesmo dia para gravar a conversa, Gil Guerreiro achou que o aparelho de áudio estava desligado e que não havia gravado as primeiras palavras de Aidar. Deixou então a sala em que estavam e se certificou de que o equipamento estava funcionando. Segundo ouviram seus aliados, o vice de futebol retomou a conversa com Aidar, desta vez já na presença de sua namorada, Cinira Maturana da Silva, e teria conseguido arrancar as mesmas palavras, sobre a mesma situação. No e-mail, Ataíde escreve que gravou Aidar falando sobre a possibilidade de fazer o desvio no negócio duas vezes, “primeiro a sós e depois na frente da Cinira”.
Naquele momento Gil Guerreiro não contou a Aidar que tinha feito a gravação, na qual o ex-presidente ainda teria falado sobre uma tentativa mal sucedida de comissionar a empresa na namorada no contrato com a Under Armour.
Dois dias depois, Ataíde, Aidar e membros da diretoria se encontraram no hotel Radisson, na zona oeste de São Paulo, para reunião semanal do departamento de comunicação do clube. Pouco antes do início do evento, porém, Ataíde Gil Guerreiro falou que o presidente havia lhe oferecido dinheiro que seria desviado do clube. Quem presenciou a discussão afirma que Aidar respondeu dizendo que na verdade havia sido Ataíde que lhe pedira dinheiro. Gil Guerreiro, segundo o relato de quem viu a cena, partiu para cima de Aidar pressionando o pescoço do ex-presidente com uma mão e empurrando-lhe o rosto com a outra, com o punho cerrado, enquanto gritava “mentiroso!”. Quem viu afirma que não foi um soco, pois não houve o impacto da pancada, mas sim um empurrão com o punho fechado.
Gil Guerreiro foi exonerado do cargo no mesmo dia e sua saída gerou debandada de outros dirigentes da diretoria. Na quarta-feira, quatro dias após a gravação e dois dias após a briga, enviou o e-mail a Aidar, que veio a público na quinta-feira. No domingo, pressionado pela ameaça de impeachment e pela perda de seus aliados políticos, Carlos Miguel Aidar afirmou ao UOL Esporte que renunciaria na terça-feira, dali a dois dias. A renúncia foi oficializada e desde então Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, é o presidente interino. Ele vai concorrer no pleito que deverá acontecer no próximo dia 27 com o ex-presidente Paulo Amaral.
Ataíde Gil Guerreiro afirmou em reunião de seu grupo político que vai entregar o áudio da gravação ao conselho deliberativo para análise e apuração dos fatos, mas sem o trecho no qual Aidar mencionaria o ex-vice de marketing Douglas Schwartzmann. Gil Guerreiro argumenta que não tem provas contra Schwartzmann e que, por isso, acredita que ele não pode ser investigado a partir da gravação.