UOL
Daniel Lisboa e Vanderlei Lima
Robson Ventura-4.out.2015/Folhapress
Doriva em seu último jogo no comando da Ponte Preta, contra o Corinthians
Após vencer campeonatos estaduais por dois anos seguidos e iniciar um bom trabalho na Ponte Preta, Doriva agora tem pela frente sua mais árdua missão: trabalhar no clube mais instável politicamente do Brasil, que viu no domingo o presidente Carlos Miguel Aidar anunciar renúncia, que será oficializada na terça-feira. Se o sucesso no São Paulo depender da torcida alheia, porém, o técnico já começa bem. O UOL Esporte conversou com colegas e ex-comandados de Doriva, e conta o que eles esperam do trabalho do novo treinador tricolor.
História com Ceni pode ajudar
Juninho Paulista, hoje presidente do Ituano, conhece Doriva não é de agora. Não à toa, o contratou para levar o time a sua maior conquista. Ele atuou ao lado do técnico, e de Rogério Ceni, no “expressinho tricolor” do início dos anos 90, e guarda boas recordações de ambos. “Dois caras fantásticos. O Rogério era um pouco menos brincalhão que o Doriva, mais fechado, mas os dois eram de uma índole fantástica. Tinham honestidade, transparência, e por isso estão no futebol por muito tempo e com sucesso”, diz Juninho.
O ex-jogador acredita que a amizade entre o goleiro e Doriva pode ajudar no trabalho do técnico. Mas faz suas ressalvas. “Não adianta nada ter uma boa relação com o Rogério e ruim com o resto do grupo. Não é o Rogério que joga sozinho, por mais ídolo que ele seja”, diz Juninho. No entanto, ele destaca que ganhar o grupo é justamente uma das qualidades de Doriva. “Ele é transparente com todos, então aqueles jogadores que não jogam com frequência, e que são normalmente mais desmotivados, recebem atenção igual. O Doriva mostra a importância de todos, e trabalha bastante em cima da meritocracia”, explica Juninho.
Na opinião do ex-jogador, o tumultuadíssimo ambiente político no São Paulo atrapalhou Osorio. Mas, com Doriva, a coisa pode ser diferente. “Deve ter uma blindagem, até por causa dos resultados. Semifinal da Copa do Brasil, briga pela vaga na libertadores. Se não for blindado, vai tudo por água abaixo.”
Identificação com São Paulo pesou
Eduardo de Souza é o auxiliar técnico de Doriva. Ele e o treinador se conheceram no Ituano, e agora chegam juntos ao São Paulo. Como Juninho, Souza cita a gestão do ambiente como um dos pontos fortes de Doriva. “Ele preza por um ambiente muito bom. Foi assim no Ituano, no Vasco, na Ponte Preta e agora será no São Paulo”, acredita o auxiliar. “Ele é um cara que deixa todos trabalharem. Não só a comissão que vem com ele, também a comissão do clube”.
Souza conta que a identidade com o São Paulo pesou na decisão de Doriva. “Quando ele esteve no Vasco, recebeu uma proposta do Grêmio que financeiramente era até muito vantajosa, mas ele acabou não aceitando. Agora, esta identidade com o São Paulo pesou bastante.”
Tratamento igual
Volante da Ponte Preta e ex-comandado de Doriva, Juninho admite que o técnico vai fazer falta. Ele revela que os jogadores foram pegos de surpresa com a sua saída, mas conta que, ao se despedir do grupo, Doriva fez questão de compartilhar a conquista (ida para o São Paulo) com todos. “Ele disse que, para a carreira dele, é uma projeção ir para o São Paulo, e, que se isso aconteceu, a gente também tem grande participação”.
Para Juninho, o time campineiro “precisava de alguém para chacoalhar o grupo”, objetivo atingido por Doriva. “Eu acredito que ele vai ter sucesso no São Paulo pela forma que ele trabalha”, crava Juninho.
Outro treinado por Doriva na Ponte Preta, o meia Cristian vê o técnico como “bem exigente”, mas não um “carrasco”. “Ele gosta que o cara esteja sempre concentrado”, diz o jogador, que também ressalta a maneira como Doriva lida com o elenco. “Ele trata todo mundo igual. No grupo de Ituano, por exemplo, todo mundo gostava dele, e às vezes no futebol não é assim”, destaca Cristian.
Puxa orelha, mas elogia
Rodinei, lateral direito da Ponte Preta, diz que Doriva “sabe lidar com jogadores” e que “isso, muitas vezes, é eficiente num clube de futebol”. “Isso (a relação com Doriva) me acrescentou em muitas coisas. Ele via o que eu fazia dentro de campo e fora também”, revela o jogador. Já o atacante Marcelinho, campeão paulista pelo Ituano em 2014 e atualmente de partida para a Ucrânia, vai mais longe nos elogios.
“O Doriva, se não é o melhor, é um dos melhores com quem eu já trabalhei, tanto na parte de trabalho como na pessoal”, diz Marcelinho. “Não tem erro. Na hora que ele tem que puxar a orelha, ele vai lá e puxa, mas também, se tiver que elogiar, ele elogia. Eu acredito que ele vai se dar muito bem no São Paulo.”
Podem trazer o Guardiola, mas se não lamber o saco mumificado e o elogiar constantemente mesmo após seus costumeiros frangos terá sua cabeça colocada a prêmio.