Traço firme

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A saga do idolo Rogério Ceni, de Sinop-MT para o mundo, contada em quadrinhos

 

Rogério jamais havia viajado de avião. Embarcou com o pai e a esperança de se tornar jogador de futebol num time grande. No São Paulo, tão enorme quanto a cidade. Na terceira tentativa, no dia 7 de setembro de 1990, ele conseguiu pisar no gramado do CT. Um rapaz loiro, estranho em meio a craques. O treino, comandado pelo técnico uruguaio Pablo Forlán, seria corriqueiro, mas se tornou histórico quando, em sua segunda parte, o menino Rogério e Marcos substituíram Gilmar Rinaldi e Zetti. Aqueles minutos determinaram uma história de 25 anos. Ele sofreu apenas um gol, do lateral-esquerdo Leonardo, por cobertura. Saiu aprovado e com um novo par de luvas, presente de Gilmar, goleiro de seleção.

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Quando diz que o Morumbi é sua casa, Rogério não faz média nem usa forças de expressão. Foi mesmo a casa do jovem durante seus primeiros anos de São Paulo, entre 1990 e 94. Uma casa muito maior do que ele jamais imaginaria ter. Ao se deparar com o estádio pela primeira vez, o goleiro parecia avistar o Everest. O alojamento das categorias de base ficava dentro do estádio. O universo de Ceni praticamente se restringia aos quartos e portões do Cícero Pompeu de Toledo, sua cantina, seus corredores, funcionários, os outros jovens e seguranças. Uma casa que, no futuro, ele decoraria com quadros e mais quadros de glórias.

Telê Santana ensinou: chegue sempre meia hora mais cedo, Rogério. O mestre não queria que o goleiro, já no início de sua trajetória no time profissional, em 1993, seguisse os passos dos veteranos, cada vez mais em cima da hora dos treinos. Nessa meia hora, ele ia para o campo: defendia, pulava e chutava. Chutava? Pegou gosto. Começou a treinar. Seu traço obsessivo-profissional se evidenciou. Treinou, treinou, desafiou e foi desafiado por Zetti, o titular, a acertar a trave. E prometeu ao companheiro: “Um dia farei um gol de falta no São Paulo”. Muricy Ramalho já havia substituído Telê, e gostou de ver que alguém, pelo menos um, treinava faltas. Esse “um”, literalmente, era goleiro. Não importa. No fim de 96, Rogério assumiu a posição de titular no gol e, loucura (?), também a de cobrador de faltas.

15 de fevereiro de 1997. O Paulistão dava seus primeiros passos, e Rogério já havia arriscado uma cobrança de falta, contra o Fluminense no Rio-São Paulo. A ousadia dividia opiniões, mas era consenso: não valeria a pena insistir se o risco fosse maior que o benefício. Em outras palavras, Rogério precisava de um gol. E ele veio. Jogo no interior, estádio Hermínio Ometto, em Araras, cheio de são-paulinos contra o time da cidade, o União São João. Adriano, exímio cobrador, foi derrubado. Rogério viu e correu antes que o meia se levantasse. Aquela era dele, e de ninguém mais! A distância, o olhar, a batida, a comemoração desajeitada… Gol de Rogério! Gol de goleiro! O primeiro dos 131! E o início de uma das mais belas histórias do futebol mundial.