Ataíde divulga gravação que detonou renúncia de Aidar no São Paulo

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GloboEsporte.com

Alexandre Lozetti

Vice mostra conversa em que ex-presidente sugere comissão por reforço da Portuguesa e admite tentativa de comissão da namorada

O vice-presidente de futebol do São Paulo, Ataíde Gil Guerreiro, divulgou nesta quinta-feira a gravação da conversa que teve com o ex-presidente Carlos Miguel Aidar e que detonou oprocesso de renúncia do dirigente no mês de outubro.

Nela, Aidar oferece uma comissão a Ataíde na contratação do zagueiro Gustavo, da Portuguesa.

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A gravação também expõe dúvidas sobre um contrato da Under Armour, fornecedora de material esportivo do clube, com Cinira Maturana, namorada do ex-presidente. Aidar admite que ela tentou negociar, mas diz que o contrato não foi feito.

Aidar também afirma, na gravação, que Douglas Schwartzmann, vice-presidente de comunicações de sua gestão, estava “pedindo comissão em tudo”.

A reportagem do GloboEsporte.com entrou em contato com Aidar, mas não obteve sucesso. Em entrevista à rádio Bandeirantes, Schwartzmann se defendeu atacando. Disse que Ataíde e Aidar terão de provar as acusações:

– Vou ao Conselho de Ética e à Justiça Comum. Vou processar os dois e pedir a apuração dos fatos.

Entenda a gravação:

Carrossel AIDAR e ATAIDE - Sao Paulo (Foto: infoesporte)Carlos Miguel Aidar renunciou após ter gravação exposta por Ataíde Gil Guerreiro

Na conversa, Ataíde revelou que passou adesconfiar de corrupção na administração de Aidar em razão de uma sequência de negociações envolvendo sempre as mesmas pessoas. Ele se negou a citar quaisquer nomes, pois diz não haver provas contra essas pessoas

A contratação do zagueiro Iago Maidana, por quem o São Paulo pagou R$ 2 milhões a uma empresa chamada Itaquerão Soccer, foi a gota d’água para Ataíde, uma vez que o jogador havia sido oferecido de graça, segundo ele. Houve um atrito forte entre eles para que Aidar desmentisse, diante de toda sua diretoria, a participação de Ataíde na negociação

Ataíde também relatou que no dia 30 de setembro, quando estavam no ônibus da delegação a caminho do Maracanã, onde o São Paulo empataria com o Vasco por 1 a 1 e avançaria à semifinal da Copa do Brasil, Aidar lamentou que ambos trabalhavam muito para o clube, mas não recebiam nada, e sugeriu repartir uma comissão de R$ 200 mil pela contratação de Gustavo, da Portuguesa. Cada um ficaria com R$ 100 mil.

Dias depois, Ataíde comprou um gravador, retirado no aeroporto de Congonhas, e foi ao Morumbi disposto a ter uma prova para tirar Aidar da presidência. O gravador, aliás, revelou-se de péssima linha. Embora os principais trechos da conversa sejam audíveis, houve um trabalho para melhora da qualidade do som.

A gravação divulgada nesta quinta-feira é exatamente a mesma levada ao Conselho de Ética do clube, e a transcrição está sendo protocolada em cartório. Na última terça-feira, o presidente do Conselho Deliberativo, Marcelo Pupo Barboza, nomeou novos membros para a comissão de ética, agora presidida por José Roberto Ópice Blum

Na gravação, Ataíde faz rodeios para, enfim, chegar ao assunto principal. Fala sobre a pressão exercida pela Legião, seu grupo político no São Paulo, para retirar o apoio a Aidar, e comenta asituação do então técnico Juan Carlos Osorio, que, naquele mesmo sábado em que a gravação foi feita, faria seu último jogo no comando da equipe. Aidar, inclusive, já nesta conversasugere o nome de Doriva para substituir o colombiano, algo que se concretizou

Quando pergunta sobre a comissão por Gustavo, Aidar reitera que não haveria rastros, pois o repasse seria feito em dinheiro. Em seguida, Ataíde cita um suposto contrato em que a Under Armour teria pagado comissão de R$ 6 milhões à Cinira Maturana, namorada de Aidar. O ex-presidente admite que ela negociou, mas nega a formalização do acordo.

Ataíde questiona ainda a negociação com uma hamburgueria que fez contrato com Palmeiras, Corinthians e Grêmio, mas não assinou com o São Paulo porque Douglas Schwartzmann, vice de comunicações, estava pedindo 15% de comissão. Aidar responde que não poderia romper com Douglas, pois perderia também o apoio de “Dedé”, Antônio Donizetti Gonçalves, vice social na gestão anterior.

Em determinado momento da conversa, Aidar dá a entender que Douglas Schwartzmann também defendia os interesses de Jack Banafshera, norte-americano que teria intermediado a negociação entre São Paulo e Under Armour com direito a uma comissão de R$ 18 milhões que não foi paga depois de intervenção do Conselho Deliberativo, na época presidido por Carlos Augusto de Barros e Silva, hoje presidente do clube.

Ataíde Gil Guerreiro garantiu que Aidar não pode sofrer consequências na esfera criminal, pois, pelo Código Penal brasileiro, cobrar comissões numa entidade privada não é crime.

Confira abaixo a transcrição da gravação:

Ele paga honorários pra mim. Só isso. E eu repasso a você em dinheiro. Não é nem cheque, não tem rastro nenhum, nem pra você, nem pra mim”
Aidar oferece a Ataíde divisão de comissão na negociação do zagueiro Gustavo, da Lusa

Ataíde: E esse negócio do Gustavo (zagueiro da Portuguesa), quando a gente pode fazer?

Aidar: Ah, amanhã.

Ataíde: Mas não é outro batom na cueca, p***?

Aidar: Ele me paga honorários. Ele paga honorários pra mim. Só isso. E eu repasso a você em dinheiro. Não é nem cheque, não tem rastro nenhum, nem pra você, nem pra mim.

Ataíde: Pô, Carlos Miguel, e eu não quero esse dinheiro também, não. O que eu não quero é que você vá mexer no futebol. Vou te contar uma coisa que ninguém sabe. Caiu nas minhas mãos o acordo que a Cinira fez com a Under Armour. Ela recebeu um milhão e dez parcelas de 500, a última termina em julho de 2019. Eu não abro isso pra ninguém, eu não vou falar pra ninguém, mas eu quero que me deixe mexer no futebol, eu quero seriedade no futebol, eu não quero dinheiro de nada. Eu sou um duro, mas nunca fiz nada de errado. Eu fiquei triste quando você me ofereceu dinheiro. Você achou que eu topava essas coisas, eu não topo nada, não quero nada. E outra coisa, esse da Cinira, da mesma forma, maneira, que eu tenho, qualquer dia alguém pega.

Aidar: A Cinira tentou fazer um negócio com a Under Armour e não conseguiu. Ataíde, ela não tem contrato com a Under Armour.

Ataíde: O cara falou que tinha.

Aidar: Não tem contrato com a Under Armour.

Ataíde: Então tá bom, melhor pra você.

Aidar: Deixa eu falar uma coisa, quem tem contrato com a Under Armour é o tal do Jack, que é o Douglas (…)

Ataíde: E como é que o Douglas faz reunião lá?

Aidar: Não sei. Faz reunião onde?

Ataíde: Na casa dele pra ir contra você.

O Douglas tá pedindo comissão em tudo. Ele veio aqui e descaradaente.”
Aidar, sobre o ex-presidente de Comunicação do Tricolor, Douglas Schwartzmann

Aidar: A Cinira não tem nenhum contrato com a Under Armour.

Ataíde: Mas chegou a fazer, né?

Aidar: Isso é verdade. Ela negociou. Mas naquela época que o Douglas (…)

Ataíde: Eu não quero nada.

Aidar: O negócio da Under Armour estava perdido. Vieram uns caras para cá que falam inglês, nós fizemos uma reunião no meu escritório, almoçamos, desfizemos o negócio, e eles foram embora. Não teve negócio nenhum, nenhum. Depois eles voltaram via Jack. Agora, como é que o Jack voltou, eu não também não sei, Ataíde. Mas chegou porque eu conheci o cara aqui.

Ataíde: O Julio contou aquele dia pra nós isso.

Aidar: Eu estive com o cara, isso é verdade, o cara esteve comigo. Assinou o contrato. Agora, se tem rolo aqui, juro por Deus que não sei e também não quero saber.

Ataíde: Agora tem outra coisa, sabe o negócio da hamburgueria aí, tem um negócio da hamburgueria? Fez contrato com o Palmeiras, fez contrato com o Corinthians, fez contrato com o Grêmio. E o advogado do Palmeiras falou que está fazendo contrato com o São Paulo, mas o que atrapalhava é que o Douglas pediu 15%…

Vou ao Conselho de Ética e à Justiça Comum. Vou processar os dois (Aidar e Ataíde) e pedir a apuração dos fatos.”
Douglas Schwartzmann

Aidar: O Douglas tá pedindo comissão em tudo. Ele veio aqui e descaradamente.

Ataíde: Por que você não acaba com isso, pô? Vamos acabar com isso, pô!

Aidar: Ataíde, eu tô com o seguinte problema, bem. Se eu mandar o Douglas embora, vai o Dedé junto. Você não percebe que eu tô acuado? Completamente acuado? Eu tô a ponto de largar isso aqui a qualquer hora. Eu tô de saco cheio. Eu não preciso disso. Se eu voltar pro escritório pra mim é muito melhor.

Ataíde: Ah, eu estou tão nervoso com essas coisas todas, rapaz, mas tão nervoso…Esse negócio do Iago foi uma m*** né?

Aidar: Mas, p***, o que você queria?

Ataíde: E por que você fez essa confusão toda?

Aidar: Por que, Ataíde, você não queria o jogador? Queria ou não queria?

Ataíde: Não queria assim! Pra pagar, não, ele vinha de graça.

Aidar: O cara nunca veio de graça. Aí apareceu a p*** lá na (…). Taí a Cinira, pergunta pra ela!

Ataíde: Dois FDP aqueles dois, o Walter (Vander) e o Raul.

Aidar: No Juan Fíger, o Raul trouxe operação de crédito, dinheiro do exterior. Esse Raul eu conheci no Centro de Treinamento como se fosse amigo do Osorio.

Ataíde: Você me contou.

Aidar: P***, eu não sei merda nenhuma (…) aí o cara liga precisava atender (…) O nego fala “o presidente não é empréstimo não, é meu! Precisa fechar. Então fecha! Espera um pouco Oswaldo, tá quê? Dá pra pagar? Então tá bom, bom, então fecha, foi isso (…) Eu não sentei com o cara. Não sei a do cara.

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