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Emerson de Souza garante que possui todos os modelos usados pelo goleiro, ignora valores gastos com coleção e revela “acordo financeiro” para não brigar com esposa
A notícia de que o Grêmio havia vencido o Tricolor por 4 a 2 se perdeu em meio a tanta alegria. Não só pela chegada do primeiro filho homem, mas pelo 93º gol marcado por Rogério Ceni, que para Emerson, era tão importante quanto uma vitória.
Na manhã seguinte, ainda empolgado com o nascimento, passou em casa, arrumou o quarto para a chegada do bebê, recolheu documentos e voltou ao hospital. Como a esposa estava internada, seguiu sozinho para o cartório. Era a deixa de que ele precisava:
– Falei para o escrivão: “Meu filho vai se chamar Rogério Ceni. Rogério Ceni Alves de Souza”. Ele não aceitou, alegando que era palmeirense e que aquele nome não era possível. Tive que batalhar muito. Ele pesquisou se aquele não era o nome do goleiro, até que consegui batizar meu filho como Rogério Ceni – explicou Emerson, que tinha outra missão após a aprovação do cartório: apresentar o “novo filho” à mãe.
A intenção de batizá-lo com o nome do maior ídolo do São Paulo, segundo o papai, era sabido pela Thais, mas com ressalvas de alguém que parecia duvidar de tudo aquilo. Assim que chegou ao hospital com a notícia e a certidão de nascimento nas mãos, ela assustou.
– Não podemos dizer que foi uma surpresa, pois já tinha avisado que gostaria de colocar Rogério Ceni. Ela disse que não ficou brava, então, menos mal. Talvez ela tenha mentido. Ficou por isso mesmo – comentou o fã, que não limitou suas homenagens ao nome do filho.
A história, na verdade, começa pouco antes de 1996, quando Zetti era titular da meta são-paulina. Thais, a paquera e posteriormente esposa, nem fazia parte de sua vida quando o guarda-roupas começou a ganhar camisas e camisas de Ceni.
– Eu era pequeno quando minha mãe me deu uma camisa do Zetti. Eu gostava dele, mas quem chamava a minha atenção era o Rogério Ceni. Ele surgia nos aspirantes e todos comentavam que ele seria um bom substituto do Zetti, só que com um diferencial. Fazia gols – lembrou.
Aos poucos, uma a uma, a cada novo modelo, Emerson foi aumentando sua coleção. Dentre as 360 camisas, todas oficiais, ele calcula que apenas 20 estejam faltando em seu acervo.
– Tenho todos os modelos. Porém, como ele lançava diversas cores de uma mesma camisa, acabei ficando sem algumas. Já aconteceu de encontrar uma pessoa na rua com uma camisa que eu não tinha, eu ir atrás, negociar e comprar duas semanas depois – declarou o pai do pequeno Rogério Ceni, hoje com cinco anos, e fã do xará goleiro.
Quanto vale a coleção de camisas?
Emerson jura não saber quanto foi gasto com a coleção e nem faz questão de fazer o cálculo. Ao ser questionado sobre valores, ele desconversa, incomodado com o fato de colocar preço em algo que é amor incondicional.
Emerson admite ter gasto R$ 1.200 na mais cara delas, a de comemoração pelo jogo de número 700 no São Paulo, além de outras edições limitadas (mais de uma), a preço de R$ 1.000.
– Sei que gastei um bom dinheiro. Quando comecei, não era casado, não tinha gastos com casa, família. Hoje, pesaria um pouco, mas não me arrependo. São recordações de alguém que sou fã, alguém que admiro, e isso não tem preço – comentou Emerson, que vive em uma casa simples em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, com uma moto 125cc e um Fusca 73 na garagem.
Se fosse pelas sugestões dos amigos, Emerson já teria vendido todas elas para trocar o carro ou quitar o financiamento da casa. Mas, para quem controlou as finanças por tanto tempo, não seria agora, no fim da carreira de Rogério Ceni, que ele trocaria tudo por dinheiro.
– Tenho o financiamento da minha casa, mas o Fusca está pago, então não tenho gastos. Eu poderia vender e comprar coisas novas. Porém, com o fim da carreira do Rogério Ceni, vou economizar – comentou.
Para evitar brigas ou discussões em casa, Emerson não fala com Thais sobre o futuro das camisas, mas revela uma espécie de acordo para garantir a paz da família Alves de Souza.
– Nunca brigamos por causa disso, mas percebo que ela acha complicado. É coisa minha. Arrumei meus empregos para comprar minhas coisas, sem misturar com o orçamento de casa. Ela não gosta, minha mãe também não gostava, mas eu gosto de ter essa lembrança – declarou Emerson, que conta muitas histórias de suas camisas.
Dentre as tantas, estão a do centésimo gol, dos 1.000 jogos, a primeira como titular, a do primeiro gol e, talvez a mais interessante delas, a “proibida”. Segundo Emerson, o São Paulo chegou a confeccionar uma camisa roxa, mas a mesma foi barrada pelo próprio Rogério Ceni.
– Como o rival (ele não quis falar Corinthians) fez uma camisa roxa naquele ano, usada na queda para a Série B, o São Paulo desistiu de lançá-la, mas chegou a fabricar algumas. Quando soube, entrei em contato com funcionários da empresa fornecedora do material e consegui comprar uma – lembra Emerson (veja abaixo, à esquerda).
Outro dado interessante é que mesmo tendo quase todas as camisas, nenhuma foi dada pelo próprio goleiro. Foram sete encontros com Rogério Ceni, sendo quatro deles com o filho Rogério Ceni no colo.
– Ele sempre foi muito simpático com a gente. Quando levei meu filho para conhecê-lo, ele ficou sem palavras e disse que não sabia como agradecer. Tenho luvas, caneleira, boné, mas nunca ganhei camisa. Nunca pedi, mas ficaria feliz se ganhasse uma. Se ele tiver alguma que ele goste e queira doar para alguém que vai guardar para sempre, com carinho pela vida inteira, vai ficar guardado.
À flor da pele
Além do filho Rogério Ceni e das 360 camisas, Emerson tem uma tatuagem em homenagem ao goleiro-artilheiro. Ocupando a metade do braço esquerdo, o desenho relembra o momento em que o capitão são-paulino levantava o troféu da Libertadores da América em 2005, após a vitória sobre o Atlético Paranaense.
– Tudo o que eu fizer por ele vai ser pouco. Tenho essa tatuagem no braço e já pensei em fazer outra, mas preciso pensar bem no que fazer.