O futebol fica menor sem Rogério Ceni

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Blog do Menon – UOL

Baptistão

A arte acima é de Baptistão, um gênio

A aposentadoria de Rogério Ceni deixa o futebol menos alegre. E, por mais contraditório que possa parecer, menos sério também. O que o torna um gigante é que o espetáculo que ele proporciona – 131 gols – não é fruto de um dom. Muito mais importante, é resultado de muito suor e treinamento.

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A união de talento e dedicação o levou a ser um dos grandes jogadores da história do futebol mundial. Não é por menos que sua aposentadoria após 25 anos de carreira é destaque em vários países do mundo.

E aqui há outra contradição. O jogador de um clube só é admirado por torcedores de todo o mundo. Todos lamentam a partida o goleiro artilheiro. Todos choram a falta do espetáculo, no sentido de ruptura de expectativas. Um gol de Ceni é como o voo do trapezista que desafia leis de física e voa como um pássaro.

E aqui há mais uma contradição. Evidentemente que, fora do Brasil, Ceni é conhecido muito mais pelos que feitos do que pelos gols evitados. E, por isso sobeja a admiração. Aqui, quando se unem defesas feitas, gols marcados e o fato da identificação com o São Paulo, entram em campo o ódio e a idolatria. Ambos doentios. Mas o futebol não é uma doença? Maravilhosa doença que toma conta de nossos corpos e mentes?

Quem, senão o futebol, faz o crente ofender pai e mãe, quem, senão o futebol, faz amantes se beijarem com o pensamento em defesas e gols, quem, senão o futebol, faz ministros se atrasarem, quem, senão o futebol, faz o morto, bem ali, no caixão, ser esquecido por minutos? E, quem, senão o futebol, apressa ou atrasa ereções?

Ceni é amado pela torcida como se fosse o Messias de volta à terra. Ceni é odiado pelos outros torcedores como se fosse um Belzebu tricolor. Com ele, não há meio termo. Os adoradores do M1TO não veem falhas, o consideram revolucionário, capitão e comandante. Os caçadores de M!CO o chamam de goleiro de hóquei, um imitador de Navarro Montoya, Chilavert e Higuita, arrogante e prepotente.

Mas, a verdade é que os que o odeiam, passariam a adora-lo no dia seguinte à sua contratação. Teriam a certeza de ter um goleiro que salta em todas as bolas. Até em pênaltis.

Os adoradores ouvem suas preleções e, com lágrimas nos olhos, sentem-se impelidos a entrar em campo. Os caçadores vêm ali demagogia e mais nada.

E quem causa emoções tão díspares, o que é? Alguém que deixa concorrentes e parceiros à sombra, o que é? Alguém que causa discussões eternas sobre sua pequena passagem pela seleção, o que é? E quem terá  nome lembrado por séculos, o que é?

Rogério Ceni é um gigante.

E quando um gigante abandona o futebol, o futebol sofre. O futebol se apequena.

Então, meu amigo, lembre-se do poeta John Donne e não pergunte por quem os sinos dobram. Eles dobram por nossa paixão, o futebol.

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