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José Victor Ligero
Na metade de 1996, o quarto ano do arqueiro como profissional no Tricolor, Ceni amargava a condição de reserva do titular Zetti, faltando apenas seis meses para ter seu contrato encerrado com o time do Morumbi. Insatisfeito com o banco, Rogério se inclinou a deixar o São Paulo devido a uma proposta tentadora do Goiás: defender a equipe no Brasileiro por um salário três vezes maior. Paralelamente, recebeu sondagens de Inter e Santos.
Embora tivesse a chance de ganhar mais e a certeza de atuar como titular em um time da primeira divisão nacional, o então jogador de 23 anos decidiu seguir no Morumbi. A justificativa de Ceni consta no livro “Maioridade Penal”, escrito por ele em coautoria com o jornalista André Plihal. Sob o título ‘Quase irrecusável’, a obra revela que uma conversa com o presidente são-paulino da época, Fernando Casal de Rey, convenceu Rogério a permanecer.
Na ocasião, as partes acertaram uma prorrogação de dois anos de vínculo, com um salário inferior àquele oferecido pelo clube goiano, porém com a garantia de que Zetti deixaria o São Paulo, recebendo o passe livre, ao fim da temporada. A diretoria tricolor cumpriu com sua promessa e, a partir daquele momento, iniciava-se a era Rogério Ceni na titularidade da meta são-paulina.
Cinco anos depois, a saída do já renomado atleta esteve em iminência novamente, mas por outras razões e de forma muito mais turbulenta. O interesse do exterior no futebol do goleiro criou uma grande crise nos bastidores que quase pôs um ponto final na trajetória de Ceni no Morumbi. Isso porque o então presidente Paulo Amaral acusou o atleta de inventar uma proposta do Arsenal, da Inglaterra, a fim de ganhar um aumento salarial.
Ceni e Amaral trocaram farpas, resultando em uma suspensão de 28 dias para o arqueiro, que também ficou sem receber salários nesse período, além de não treinar nas dependências do clube – duas semanas depois, a comissão técnica conseguiu, junto à diretoria, deixá-lo treinar isolado dos companheiros de elenco. Desapontado, Rogério quase foi para o Cruzeiro, que cederia o goleiro André e daria uma boa compensação financeira.
A transferência, mais uma vez, não saiu. Apesar da polêmica, Ceni ouviu os pedidos da torcida e seguiu no Tricolor. No entanto, aquele episódio ainda soa muito mal aos ouvidos do ídolo são-paulino.
Em outubro deste ano, poucos dias antes das eleições vencidas por Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, Paulo Amaral se candidatou ao pleito – mais tarde desistiria de concorrer -, dando vida à possibilidade de voltar a ser o principal chefe de Rogério Ceni, que, na ocasião, preferiu se calar diante de tal hipótese. “Não valeria a pena citar qualquer frase sobre ele”, declarou, manifestando apoio a Leco.
Após a “rusga” com o provável único desafeto dentro do São Paulo, Rogério Ceni comemorou o Paulista de 2002 e 2005, foi tricampeão do Brasileiro com os títulos de 2006, 2007 e 2008, e ergueu os dois troféus mais importantes da história recente do São Paulo: a Libertadores e o Mundial de 2005.