Veja a gravação que fez Aidar renunciar à presidência do SP

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UOL

Guilherme Palenzuela

Na manhã desta quinta-feira o São Paulo divulgou a gravação em áudio que culminou na renúncia do ex-presidente Carlos Miguel Aidar, em outubro. O UOL Esporte teve acesso à íntegra da gravação, feita pelo vice-presidente de futebol Ataíde Gil Guerreiro, e agora disponibiliza um trecho, no qual, como relatado pelo vice em e-mail dias depois da briga entre os dois, Aidar sugere desviar e repartir comissão na contratação do jogador Gustavo Cascardo, da Portuguesa, e admite que sua namorada Cinira Maturana da Silva tentou estabelecer um contrato de comissionamento com a Under Armour.

No início do trecho disponibilizado, Ataíde Gil Guerreiro pergunta a Aidar durante reunião no Morumbi, em 3 de outubro, sobre a possibilidade de repartir a comissão na contratação do atleta da Portuguesa, segundo ele lhe sugerida pelo então presidente dias antes, em 30 de setembro, no Rio de Janeiro, a caminho do Maracanã para o jogo contra o Vasco pela Copa do Brasil.

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“Ataíde Gil Guerreiro: E esse negócio do Gustavo, quando é que a gente pode fazer?

Carlos Miguel Aidar: Ah, amanhã…

AGG: Mas não é outro batom na cueca, porra?

CMA: Ele me paga honorários. Ele paga honorários para mim. Só isso, e eu repasso a você em dinheiro. Não é nem cheque, não tem rastro nenhum, nem para você, nem para mim.

AGG: Pô, Carlos Miguel, e eu não quero esse dinheiro também, não. O que eu não quero é que você vá mexer no futebol. Vou te contar uma coisa que ninguém sabe… Caiu nas minhas mãos o acordo que a Cinira fez com a Under Armour. Ele recebeu um milhão e dez parcelas de R$ 500 mil, a última termina em julho de 2019. Eu não abro isso para ninguém, eu não vou falar para ninguém, mas eu quero que me deixe mexer no futebol, eu quero seriedade no futebol, eu não quero dinheiro de nada. Eu sou um duro, mas nunca fiz nada de errado. Eu fiquei triste quando você me ofereceu dinheiro, você achou que eu topava essas coisas. Eu não topo nada, não quero nada. E outra coisa.. Esse da Cinira, da mesma forma que eu tenho, qualquer dia alguém pega. 

CMA: A Cinira tentou fazer um negócio com a Under Armour e não conseguiu. Ataíde, ela não tem contrato com a Under Armour.

AGG: O cara falou que tinha. 

CMA: Não tem contrato com a Under Armour.

AGG: Então está bom, melhor para você. 

CMA: Deixa eu falar uma coisa, quem tem contrato com a Under Armour é o tal do Jack, que é o Douglas

AGG: E como é que o Douglas faz reunião lá?

CMA: Não sei. Faz reunião onde?

AGG: Na casa dele, para ir contra você.

CMA: A Cinira não tem nenhum contrato com a Under Armour.

AGG: Mas chegou a quase fazer, né?

CMA: Isso é verdade. Ela negociou. Mas naquela época que o Douglas (…)

AGG: Eu não quero nada.

CMA: O negócio da Under Armour estava perdido. Vieram uns caras para cá que falam inglês, nós fizemos uma reunião no meu escritório, almoçamos e defizemos o negócio e eles foram embora. Não teve negócio nenhum, nenhum, nenhum. Depois eles voltaram via Jack. Agora, como é que o Jack voltou eu também não sei, Ataíde. Mas chegou, porque eu conheci o cara aqui.

AGG O Julio [Casares, ex-vice presidente] contou aquele dia para nós isso.

CMA: Eu estive com o cara, isso é verdade, o cara esteve comigo. Assinou o contrato. Agora, se tem rolo aqui, juro por Deus que não sei e também não quero saber.

AGG: Agora, tem outra coisa. Sabe o negócio da hamburgueria aí, tem um negócio de hamburgueria? Fez contrato com o Palmeiras, fez contrato com o Corinthians, fez contrato com o Grêmio. E o advogado do Palmeiras falou que está fazendo contrato com o São Paulo, mas o que atrapalhava é que o Douglas pediu 15%…

CMA: O Douglas está pedindo comissão em tudo. Ele veio aqui e descaradamente…

AGG: Por que você não acaba com isso, pô? Vamos acabar com isso, pô.

CMA: Ataíde, eu estou com o seguinte problema, bem. Se eu mandar o Douglas embora, vai o Dedé [Antonio Donizeti Gonçalves, ex-vice-presidente social] junto. Você não percebe que eu estou acuado? Completamente acuado? Eu estou a ponto de largar isso aqui a qualquer hora. Eu estou de saco cheio. Eu preciso disso, se eu voltar para o escritório para mim é muito melhor.

AGG: Eu estou tão nervoso com essas coisas todas, rapaz, mas tão nervoso… Esse negócio do Iago também foi uma merda, né?

CMA: Mas porra, o que você queria?

AGG: E por que você fez essa confusão toda?

CMA: Por que, Ataíde? Você não queria o jogador? Queria ou não queria?

AGG: Não queria assim. Para pagar, não. Ele vinha de graça.

CMA: O cara nunca veio e graça. Aí apareceu o porra lá na (…) Está aí a Cinira, pergunta para ela!

AGG: Dois filhos da puta aqueles dois, o Walter e o Raul [nomes citados de supostos empresários que participaram da negociação de Iago Maidana – o nome mencionado como “Walter” está errado, segundo o próprio Gil Guerreiro]

CMA: No Juan Figer, o Raul trouxe a operação de crédito, dinheiro do exterior. Esse Raul eu conheci no centro de treinamento como se fosse amigo do Osorio.

AGG: Você me contou.

CMA: Porra, eu não sei merda nenhuma (…) Aí o cara liga, precisava atender (…) O nego fala “Presidente, não é empréstimo não. É meu! Precisa fechar”. Então fecha. Espera um pouco, Oswaldo [Vieira de Abreu, ex-vice financeiro] está aqui? Dá para pagar? Então está bom, então fecha. Foi isso (…) Eu não sentei com o cara. Não sei a cara do cara.

Dois dias depois, Gil Guerreiro e Aidar brigariam em café da manhã no hotel Radisson, na zona oeste de São Paulo. Na ocasião, Aidar ainda desconhecia a existência da gravação e pela primeira vez foi confrontado na frente dos outros vice-presidentes sobre o suposto contrato de sua namorada com a Under Armour. Ataíde Gil Guerreiro afirma que ainda antes da discussão Aidar, mais cedo, no hotel, Aidar lhe ofereceu R$ 1 milhão para ficar calado sobre o suposto contrato de comissão com a marca de material esportivo.

Gil Guerreiro afirma que, depois de recusar a suposta oferta, contou que dois dias antes Aidar tinha lhe oferecido desviar e repartir a comissão – R$ 100 mil para cada –  na contratação de um jogador. Segundo o vice de futebol, Aidar, então, afirmou que havia sido Gil Guerreiro que lhe pedira dinheiro, fato que desencadeou a agressão – Ataíde Gil Guerreiro segurou Aidar pelo pescoço e ficou perto de desferir um soco.

A divulgação do áudio à imprensa acontece antes mesmo do desfecho da investigação na comissão e ética do clube, nomeado pelo presidente do conselho deliberativo, Marcelo Pupo Barbosa, que apura supostos desvios e lesões ao cofre do clube durante a gestão Aidar. Os conselheiros do clube ainda não tinha tido acesso ao arquivo. A exposição das palavras que causaram a renúncia do ex-presidente ocorre dias depois de Aidar atirar na imprensa contra Rogério Ceni, Juan Carlos Osorio, Juvenal Juvêncio e o próprio Ataíde Gil Guerreiro.

Ataíde Gil Guerreiro responde a um processo interno no São Paulo pela agressão em Aidar, no hotel Radisson. O vice de futebol se sente desconfortável por ter feito a gravação, mas diz que foi o único meio encontrado para concluir uma investigação que comandava sozinho acerca de supostos desvios de dinheiro dentro do futebol do clube. Gil Guerreiro conta que desconfiou da condução do então presidente nas contratações de Alan Kardec e Wesley, e nas vendas de Douglas, Denilson e Souza. Depois, viu o que parecia ser um caso inexplicável na contratação de Iago Maidana, que deixou o Criciúma por R$ 800 mil, foi registrado por um clube como ponte e, dias depois, vendido ao São Paulo por R$ 2,4 milhões. No dia 3 de outubro, quando fez a gravação, encontrou-se com um detetive particular no aeroporto de Congonhas e comprou o gravador para, horas depois, se reunir com Aidar.