Por que um zagueiro de 18 anos do São Paulo aceitou defender a Sérvia?

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UOL

Guilherme Palenzuela

  • Divulgação/saopaulofc.net

    São Paulo já recusou R$ 9 mi por Lyanco, no profissional há seis meses

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Lyanco Vojnovic, 18, brasileiro, zagueiro do São Paulo e uma das principais promessas do clube, aceitou convite da Sérvia para defender o time sub-19 do país em um amistoso em março. Neto de Jovan Vojnovic, iugoslavo que viajou ao Brasil aos 7 anos de idade fugido da Segunda Guerra Mundial, Lyanco decidiu aceitar a convocação por três motivos: a abertura ao mercado europeu, a forma como os sérvios fizeram o convite e a certeza de que ainda poderá defender o Brasil.

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“Hoje nosso sonho é que ele defenda a seleção brasileira, mas até hoje não houve procura da CBF para ele. E como surgiu esse monitoramento da Sérvia, tivemos a alegria de pensar que o país do avô dele pode ser representado por um familiar do Brasil”, conta o pai, Marcelo, ao UOL Esporte.

Ex-jogador do São Paulo, o empresário Fabio Mello, que gerencia a carreira do zagueiro ao lado do sócio Frederico Moraes, avalia os benefícios profissionais que a convocação para a Sérvia pode representar: “A seleção brasileira sempre foi um grande sonho, mas esse convite tem que ser olhado com carinho. Essa convocação abre mercado, como na Inglaterra, em que você precisa ter determinado número de jogos por uma seleção para se transferir. Isso agrega valor demais”, diz.

Lyanco quer disputar Euro sub-19 e ainda poderá defender Brasil

Rubens Chiri/saopaulofc.net

Estreia profissional foi contra Atlético-PR

A federação de futebol da Sérvia informou a Lyanco que o convite para o amistoso em 2 de março, na Espanha, lhe dará a chance de provar valor para jogar a Eurocopa sub-19, que acontece em julho, na Alemanha, e da qual a Sérvia foi campeã em 2013. No caso do zagueiro são-paulino, nascido em Vitória, no Espírito Santo, disputar uma competição oficial na Europa não lhe impedirá de jogar pelo Brasil no futuro.

Quem explica é Jean Nicolau, advogado especialista em direito desportivo: “Se ele já era binacional no momento em que ele disputou uma partida oficial de uma seleção que não seja a principal, ele pode mudar de nacionalidade de futebol uma vez”. O caso é como o do meia Rafinha Alcântara, do Barcelona, e diferente do vivido pelo volante Fernando, do Manchester City.

Filho de pai brasileiro e radicado na Espanha, Rafinha disputou competições oficiais pelas seleções de base da Espanha quando já tinha a nacionalidade brasileira. Hoje, por isso, pode e defende a seleção brasileira principal. Fernando, por outro lado, foi impedido de defender a seleção de Portugal na Copa do Mundo de 2014 porque anos antes competiu pela base da seleção brasileira quando ainda não tinha a nacionalidade portuguesa.

Lyanco já entrou com o pedido e está em vias de conseguir a nacionalidade sérvia e – obviamente – já tem a nacionalidade brasileira. Como Rafinha, não ficará impedido de jogar pelo Brasil no futuro.

Monitoramento a partir de Osorio e conversas durante meses

O comunicado da Sérvia chegou ao São Paulo na noite de terça-feira. Surpresa para parte do clube, mas não para Lyanco, sua família e seus empresários. A questão vinha sendo tratada entre o jogador e a federação nacional há meses, desde que o zagueiro foi promovido das categorias de base pelo técnico colombiano Juan Carlos Osorio e ganhou as primeiras chances do time principal.

“Impressionante o monitoramento. Ano passado, no destaque dele com Osorio, o pessoal entrou em contato e falou que sabia dos avós, da nacionalidade. A gente não acreditava. No fim do ano passado esquentaram o assunto, falaram que teriam alguns amistosos e perguntaram se a gente entendia que seria interessante para o atleta”, conta Fábio Mello, que manteve as conversas com a seleção da Sérvia.

O empresário afirma que procurou a CBF, também, ao comunicar ao São Paulo a possibilidade do atleta ser convocado por uma seleção europeia. “Na hora levamos para o Lyanco, para a família, debatemos os prós e contras, falamos com o São Paulo que isso poderia ser real e procuramos o Gilmar [Rinaldi, coordenador de seleções] para falar com a seleção brasileira”, diz Mello.

São Paulo já recusou R$ 9 milhões e aposta em Lyanco

A diretoria do São Paulo recebeu em novembro de 2015 uma proposta de 2 milhões de euros (R$ 9 milhões) do grupo italiano representado pela família Pozzo, que administra a Udinese, da Itália, o Granada, da Espanha, e o Watford, da Inglaterra. Mesmo em momento financeiro delicado, o São Paulo decidiu recusar o valor porque entende que o zagueiro tem potencial para se firmar no cenário nacional nos próximos anos.

Na categoria profissional desde o início do segundo semestre de 2015, Lyanco reforçará o São Paulo sub-20 em fevereiro para disputar a Copa Libertadores da categoria – o São Paulo participará da competição pela primeira vez, e Lyanco já está escalado como capitão da equipe.

“Não é um simples fato de ser convocado por outra seleção, é uma seleção que vem de um título mundial e o pessoal contando com ele para entrar nesse grupo. Está, lógico, com um frio na barriga”, diz o agente Fábio Mello.

A Sérvia teve bons resultados nos últimos anos em categorias inferiores, apesar de ainda pouco expressiva no nível principal do futebol mundial – partiu da dissolução da Iugoslávia, em 2003, e separou-se de Montenegro em 2006. Em 2015 celebrou o título mundial sub-20 com vitória sobre o Brasil na final, por 2 a 1.

Para Lyanco, por enquanto, um obstáculo será se comunicar com os companheiros. Segundo o pai Marcelo, o filho consegue resolver problemas em inglês, mas não tem familiaridade com o sérvio. “O que ele tem basicamente é o inglês e tem procurado alguma forma de captar algumas palavras”, diz.