Como reforço do SP passou de capitão com moral a execrado no Porto

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Leandro Miranda
Do UOL, em São Paulo

Se o São Paulo tentasse o empréstimo do zagueiro Maicon há nove dias, provavelmente receberia um “não” do Porto como resposta. Mas esse foi o tempo necessário para que o brasileiro passasse de jogador com moral e capitão do time a “persona non grata” – a ponto de o clube português aceitar ficar com apenas três zagueiros em seu elenco e negociá-lo.

O problema começou em 7 de fevereiro. O Porto empatava por 1 a 1 com o Arouca, em casa, pelo Campeonato Português. Maicon tentou sair jogando da defesa e entregou bola ao rival, que marcou o gol da vitória. Então o brasileiro deixou o campo alegando uma lesão, antes que uma substituição fosse preparada. A torcida não engoliu a história, e aplicou uma sonora vaia enquanto ele saía.

A situação que já era complicada ficou insustentável quando a mulher de Maicon divulgou em seu Instagram comentários agressivos contra o departamento médico do Porto. Torcedores, imprensa e até ex-jogadores do clube não pouparam o brasileiro de críticas – o ex-volante Rodolfo Reis disse que já viu colegas jogarem de braço quebrado, por exemplo. Assim, de repente, o capitão da equipe não tinha mais clima para continuar.

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Reprodução/Instagram

A reação contra Maicon é explicada em parte pelo momento que vive o Porto. Sem nenhum título nas últimas duas temporadas, o time está sob intensa pressão da torcida, o que já custou o cargo do técnico Julen Lopetegui em janeiro. A percepção nas arquibancadas do Estádio do Dragão é de que faltaram raça e comprometimento nos dois últimos anos, e por isso a atitude de Maicon como capitão gerou tanta revolta.

À rádio portuguesa Antena 1, o irmão de Maicon, Maurides – que também é jogador e defende justamente o Arouca – disse que o zagueiro foi obrigado a deixar o Porto após a repercussão. “Não sei se ele queria muito (sair), mas o que aconteceu com ele praticamente fez ele ir. Sei que ele vai voltar muito melhor, voltar com muita garra ao Porto, ter muito mais história aqui”, disse.

No Porto, titularidade e gols marcantes

Por enquanto, o sentimento de parte da torcida do Porto é de que Maicon não pode voltar a vestir a camisa do clube. Outros, porém, não esquecem os bons momentos do brasileiro desde sua chegada, há seis anos e meio.

Revelado pelo Cruzeiro, ele chamou a atenção do Nacional da Madeira em uma excursão do time B dos mineiros a Portugal em 2008. Após uma ótima temporada, em que fez 26 jogos como titular e ajudou o time a se classificar à Liga Europa, foi contratado pelo Porto, um dos gigantes do país.

O primeiro ano foi de adaptação, mas em 2010/11 ele ganhou espaço após a saída de Bruno Alves. Na temporada seguinte, um gol importantíssimo – e impedido – definiu uma vitória por 3 a 2 sobre o Benfica, que foi decisiva para a conquista do Campeonato Português de 2011/12.

Em fevereiro de 2013, outro gol marcante: voltando de lesão, ele foi escalado para uma partida do Porto B – Kelvin, que será seu companheiro no São Paulo, também esteve em campo nessa partida. E Maicon fez um golaço, cobrando uma falta de muito atrás do meio-campo e encobrindo o goleiro do Oliveirense.

Na atual temporada, o zagueiro também fez o gol da vitória sobre o Chelsea na fase de grupos da Liga dos Campeões. Agora em novos ares, ele terá quatro meses e meio para tentar marcar seu nome com a torcida do São Paulo – ou torcer para que os fãs do Porto que hoje o condenam mudem de opinião nesse meio tempo.

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