UOL – Luis Augusto Simon e Vanderlei Lima
Jorge Araújo/Folhapress
Atletas de São Paulo posam com a bandeira do Japão no duelo com o Milan no Mundial de 1993
Foi um ano mágico para o São Paulo, o de 1992. Ganhou a Libertadores em 17 de junho, o Mundial em 13 de dezembro e o Paulista em 20 de dezembro. Difícil entender nos tempos de hoje que a grande preocupação de Telê Santana fosse que o campeonato sul-americano atrapalhasse a preparação para o Paulista e o desempenho no Brasileiro, que se disputou no mesmo período que a Libertadores.
O Paulista era o campeonato mais importante. Ocupava todo o segundo semestre. O Brasileiro classificava para a Libertadores, mas esta vaga era considerada apenas um bônus, não o objetivo final. Não é como hoje, quando um clube fica a 10, 12 pontos do título e fica feliz por estar no tal G-4, que garante a presença na elite da América.
Em 1992, o título do São Paulo não foi visto na Rede Globo. Os diretos de transmissão eram da rede CNT, que havia contratado um certo Galvão Bueno. Os números de audiência foram tão grandes, que a Globo comprou os direitos no ano seguinte. E Galvão passou a ser a voz dos títulos do São Paulo em 92 e 93.
“A torcida do São Paulo gosta da Libertadores”, ele dizia, ao ver estádios lotados e comemorações nas ruas de São Paulo.
A partir daí, a importância da Libertadores mudou muito. Os clubes brasileiros, então, passaram a ter quase que uma obsessão pela rota do título mundial, levados em muito pela carência de um título internacional da seleção brasileira, que há mais de 20 anos não ganhava uma Copa.
“A Parmalat chegou no Palmeiras e a ordem para os jogadores era sair da fila do Paulista e ganhar a Libertadores, que estava com o São Paulo. Passou a ser o nosso objeto de desejo e lutamos muito para tirar o título deles. Ganhamos o Brasileiro, mas perdemos na Libertadores de 94”, diz César Sampaio. “Foram jogos lindos, os dois times reuniam pelo menos dez jogadores de seleção. Fomos melhores no primeiro jogo, mas empatou e eles ganharam o segundo”, lembra.
Nem o fato de o São Paulo perder o título de 94 para o Vélez Sarsfield mudou o que se desenhava. As vitórias sobre Barcelona e Milan, a alegria da torcida e a inserção na mídia, já haviam catapultado a Libertadores como o campeonato mais importante do calendário.
Kalef João Francisco, hoje com 73 anos, era um dos dirigentes do futebol do São Paulo na época. Ele lembra que a conquista da Libertadores não era uma obsessão. Antes, veio como algo natural no planejamento da época. “Nós tínhamos um grupo muito unido. Ganhamos o Paulista de 91 e vimos que dava para voar mais alto. Veio o Brasileiro de 91 e em seguida a Libertadores, duas vezes”.
Poderia haver um terceiro título seguido, diz Kalef. “O Julio Grondona era presidente da Conmebol e trocou o árbitro da decisão contra o Vélez. O cara já estava em São Paulo e foi mandado de volta. Veio o uruguaio Ernesto Fillipi, que deixou o Chilavert fazer uma cera enorme. Perdemos nos pênaltis”.
Mustafá Contursi foi presidente do Palmeiras de 1993 a 2004. E lembra que foi nesse período que a Libertadores cresceu. “As vitórias do São Paulo contra o Milan e o Barcelona deram uma marca registrada ao clube, um charme que todo mundo correu atrás para conseguir. Virou uma neura. Antes dos títulos do São Paulo, a Libertadores que havia sido forte nos anos 60 com o Santos, havia perdido prestígio no Brasil, tanto que Uruguai e Argentina ganhavam tudo. Depois, mudou”.
Para José Carlos Brunoro, diretor do Palmeiras na época, não foi a Libertadores que ganhou corações e mentes brasileiras e sim a chance de disputar um titulo mundial contra equipes da Europa. “Ninguém tinha se tocado com a Libertadores até o São Paulo ser campeão mundial. Ai, passou a ser objeto de desejo de todo time. Vamos lembrar também que o Brasil não ganhava uma Copa do Mundo desde 1970 e o São Paulo foi bicampeão mundial antes da Copa de 94. Isso deu muita repercussão. Em seguida, passou a ter mais valor comercial, com aumento de cotas e maior exposição da marca estampada na camisa.”
Samir Abdu Hack, era presidente do Santos e do Clube dos 13. Ele relembra o impacto resultante das conquistas do São Paulo. “Eu conversei com o presidentes de Corinthians e São Paulo e concordamos que a gente precisava fazer alguma coisa, se reforçar para não ficar para trás. A Libertadores havia alcançado um sucesso muito grande.”
Antônio Roque Citadini era dirigente do Corinthians na Libertadores de 2003. Ele vai na contramão das outras opiniões e não dá tanto valor à Libertadores. “É um campeonato que paga pouco e que não privilegia as condições técnicas. É muito precário, jogado em campos ruins”. Também não vê o São Paulo como fator propulsor da Libertadores. “Nada disso. A Libertadores não era importante porque o São Paulo ganhava. Era porque o Corinthians não ganhava. Todo mundo queria ganhar para ser mais que o Corinthians. Qual a importância de ganhar um título contra o Olímpia [sic], como o São Paulo ganhou”?
Na verdade, o São Paulo ganhou de Newels Old Boys e a Universidad do Chile, 92 e 93, respectivamente. E não do Olímpia. Nesta quarta, o time do Morumbi será o primeiro brasileiro a entrar em campo pela fase preliminar da Libertadores, contra o Cesar Vallejo, do Peru.