Ex-CEO aponta ao Ministério Público desvio de dinheiro de Aidar, que nega

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globoesporte.com

Marcelo Hazan

Bourgeois afirma que “presenciou vários fatos durante a gestão que consistem em desvios de valores do clube”; ex-presidente do São Paulo promete processá-lo

Aidar São Paulo (Foto: Joanna de Assis)

Aidar renunciou em outubro de 2015 sob denúncias de corrupção no São Paulo (Foto: Joanna de Assis)

O ex-CEO do São Paulo, Alexandre Bourgeois, afirmou ao Ministério Público de São Paulo que presenciou vários fatos durante a gestão do ex-presidente Carlos Miguel Aidar que consistem em desvios de valores do clube.

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Segundo Bourgeois, que prestou depoimento no dia 23 de março, empresários diziam que no clube havia necessidade de se pagar propina ao presidente, por meio da namorada Cinira Maturana. Após o jornal “Folha de S.Paulo” publicar a informação, o GloboEsporte.com também teve acesso ao depoimento ao promotor Arthur Pinto de Lemos Júnior. O advogado Marco Petrelluzzi, representante dos conselheiros, informa que não há segredo de Justiça no caso e confirma o teor do depoimento.

A investigação ocorre desde janeiro, quando conselheiros da oposição pediram ao MP para averiguar denúncias contra Aidar. Entre as supostas irregularidades apontadas está a negociação do zagueiro Iago Maidana, pivô da renúncia do antigo mandatário, em outubro de 2015. O defensor custou R$ 2 milhões, em negociação com a participação do Monte Cristo, clube da terceira divisão goiana, e do Criciúma. O valor é considerado despropositado por Bourgeois.

– Não tem sentido pagar R$ 2 milhões para um jogador que havia acabado de rescindir um contrato com o Criciúma, sem qualquer ônus para o atleta. Maidana estava livre para ser negociado. O declarante presenciou vários fatos durante a gestão de Carlos Miguel Aidar que consistem em desvios de valores do clube – diz um trecho do depoimento do ex-CEO.

– Em julho de 2015, o declarante presenciou Cinira sentada em volta de uma mesa no Otávio Café juntamente com Odoaldo Junior, que era empresário de Maidana. O declarante conhecia Cinira porque ela era namorada de seu chefe. O declarante imaginou que Odoaldo estava tratando com Cinira a aquisição de Maidana. O declarante presenciava Cinira conversando com vários empresários de futebol, embora ela não tivesse qualquer função no clube. Inclusive, Cinira viajou para Madri para negociar Rodrigo Caio (…) Um outro empresário de jogador de futebol, que representa Rodrigo Caio, contou ter gravado uma conversa mantida com Cinira, na qual ela pede expressamente uma comissão em nome do São Paulo – diz outro trecho do depoimento de Alexandre Bourgeois.

Alexandre Bourgeois ex-CEO São Paulo Seleção SporTV (Foto: Reprodução SporTV)
Alexandre Bourgeois é ex-CEO do São Paulo
(Foto: Reprodução SporTV)

Rodrigo Caio esteve perto de ser vendido ao Valencia, da Espanha, por R$ 44 milhões, e depois ao Atlético de Madrid. Nenhuma das duas transferências se confirmou. Depois, o atleta culpou seus empresários, Deco e Luizão, pelo final negativo.

Procurado, Aidar negou os desvios, prometeu processar Bourgeois e disse que o antigo dirigente não merece credibilidade após ser demitido por duas diretorias diferentes no espaço de 30 dias.

– Esse cidadão não merece credibilidade alguma de ninguém. Conseguiu ser demitido do mesmo emprego por duas diretorias distintas, opostas entre si, em um espaço de 30 dias. Esse é o cara que está se dando importância, porque é um fogueteiro. Veja a diferença de tratamentos dos outros depoimentos. Se confrontar todos verá que o dele está fora da curva, não está nem na estrada. É um depoimento imprestável. Eu irei processá-lo. Não fui convocado a depor, mas estou aguardando ansioso. Isso tudo é mentira. Óbvio que nego. A afirmação é absolutamente inverídica, improcedente, nem conhecia essas pessoas – disse o ex-presidente do São Paulo.

Em outros trechos do depoimento, Bourgeois diz que “existiram comentários no sentido de haver pagamento de comissão também para o vice-presidente, Ataíde Gil Guerreiro” e “entende como esquisito Ataíde Gil Guerreiro ter participado de várias negociações de jogadores do São Paulo e ter insurgido apenas depois que o caso de Iago Maidana saiu na imprensa”.

– Fui convocado pelo MP e relatei o que vi e ouvi, como qualquer cidadão brasileiro chamado pelo MP – disse Bourgeois.

A reportagem não conseguiu contato com Ataíde Gil Guerreiro, atual diretor de relações institucionais e ex-vice-presidente do São Paulo, Cinira Maturana e Odoaldo Junior.

Zagueiro nega envolvimento com irregularidades

São Paulo Iago Maidana (Foto: Érico Leonan/saopaulofc.net  )Iago Maidana nega participação em irregularidades
(Foto: Érico Leonan/saopaulofc.net)

Em setembro, a empresa Itaquerão Soccer tirou Iago Maidana do Criciúma ao preço de R$ 800 mil – segundo o clube catarinense, o valor pago foi de R$ 400 mil, ou seja, a metade – e o registrou por dois dias no Monte Cristo (que disputa a terceira divisão goiana) antes de vender 60% de seus direitos econômicos ao São Paulo por R$ 2 milhões.

Também no dia 23 de março, o zagueiro prestou depoimento ao MP. Um trecho do documento, obtido pelo GloboEsporte.com, diz: “(…) embora o Monte Cristo não tenha formalizado um contrato com o declarante e o seu representante, ficou acertado verbalmente que, na venda a ser feita para outro clube, o declarante ficaria com 50% do valor negociado, a título de direitos econômicos e luvas. Como o declarante foi negociado logo em seguida para o São Paulo, houve um pagamento de cerca de R$ 200 mil. Assegura que tais valores são provenientes do Monte Cristo (…)”.

O defensor declarou que se soubesse de algo ilícito não participaria da negociação.

– (…) o declarante tinha outras propostas interessantes. O declarante não considera o valor constante no contrato entre o Monte Cristo e o São Paulo (R$ 2 milhões) superfaturado, pois estava em um momento de alta valorização em sua carreira. Edvaldo Pires (representante da Itaquerão Soccer) disse que o Atlético-MG estava disposto a pagar R$ 3 milhões. Não sabe quanto Edvaldo recebeu por ter intermediado essa negociação. Também Erasmo Damiani, da comissão técnica da base do Palmeiras, procurou pelo declarante no Criciúma, que dificultou qualquer negociação – afirmou Maidana no depoimento.