Joia valia 30 mi de euros no SP. Após lesões e ‘rebeldia’ tenta se reerguer

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UOL

Danilo Lavieri

 

  • Arquivo pessoal

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    Hugo Leonardo comemora um dos títulos na carreira da base no São Paulo

    Hugo Leonardo comemora um dos títulos na carreira da base no São Paulo

Hugo Leonardo, 23 anos, atacante. Pela idade, pode até parecer pouco tempo de experiência. Mas tudo na vida de jogador começa cedo. Aos 12 anos, já como atleta do São Paulo, ele somava prêmios individuais, foi eleito melhor jogador de final em Mundial no Japão e convidado até a fazer testes no Barcelona. Seu contrato passou a ter multa de 30 milhões de euros. Anos depois, estava dormindo no carpete de um hotel na Turquia, sem nem saber como voltaria ao Brasil.

Entre fama e fracasso, Hugo passou por problemas comuns na carreira de um atleta. Brigou com treinador, pediu para sair do Morumbi e, hoje, precisa partir do zero para tentar retomar a carreira. Depois de deixar o Nacional em dezembro, tenta treinar para dar a volta por cima no Clube Atlético Taboão da Serra.

O meteórico sucesso de Hugo começou em Brasília. Eleito o melhor em um torneio feito entre escolinhas do São Paulo pelo país, teve o convite de treinar com o time sub-12 e foi destaque. De lá para cá, passou em todas as etapas da categoria de base e, em 2008 vivia o auge de sua carreira. Assinou um contrato de salário progressivo, com multa milionária e foi manchete de jornais. Era tratado como a grande joia entre as categorias de base.

Reprodução

Item 3.4 mostra multa de 30 milhões de euros para o mercado internacional

Mais de 30 lesões colocaram tudo em risco. Não se assuste com o número. As radiografias detectam todas alterações e isso é comum no corpo de um jogador de futebol. As que fizeram ele parar por sete meses foram rupturas de ligamentos no tornozelo e lesão no pé. E daí os problemas não pararam mais.

“Como eu era jogador rápido, de explosão, dependia muito de correr na ponta do pé. Eu fazia tudo normal, ia para a escola, caminhava no CT… E o técnico começou a achar que eu estava fazendo corpo mole. Começou a me forçar a ir para o campo, mas nada adiantava. Eu sempre sentia dor para fazer os principais movimentos”, explicou Hugo.

“Eu seguia as recomendações dos médicos. Não precisava operar, mas precisava esperar que meu corpo fizesse a reconstituição naturalmente dos ligamentos. O técnico não entendeu assim, disse que com ele eu não jogaria mais em nenhuma categoria de base. Disse que eu era o ‘riquinho’ ocupando o espaço de quem precisava mais. E eu me enchi. Resolvi romper o contrato e buscar novos ares. É disso que me arrependo até hoje”, completou.

AZAR EM CAMPINAS E NA TURQUIA

Ao sair do São Paulo, Hugo foi para a Ponte Preta. Ficou por quatro meses lá. E adivinha quem assumiu o comando da equipe de Campinas? O treinador com quem brigou no São Paulo. “Não deu nem tempo de conversar. Talvez por falta de maturidade minha. E aí eu já pedi logo para sair de lá também. A partir daí, as coisas começaram a ficar paradas”.

Hugo começou a rodar o Brasil e o mundo atrás de uma segunda chance. Foi seduzido por empresários, viu amigos pagarem para ter chance e serem enganados, viu discussão de diretores e agentes e dormiu até no chão em um hotel na Turquia.

“Viajamos em 24 jogadores com um time de empresários. Saí daqui falando que eu já estava até vendido. Tinha o Preá (que já passou pelo Palmeiras) e o Vinicius (ex-lateral do Botafogo). A gente ficou lá e quando chegamos na competição não era nada do que nos prometeram. Era só time de baixa expressão e uma situação mais estranha que a outra. O time não viajava junto, ia cada um em um avião, chegamos no hotel e dividimos o quarto em 12 jogadores, com alguns dormindo no chão, no carpete…”, contou Hugo.

As desilusões ainda são menores do que a vontade de fazer dar certo. Por sorte, o atacante consegue sobreviver com o que juntou de dinheiro até então e com a ajuda de sua família. “Eu só quero voltar ao futebol. De qualquer jeito, em qualquer time”.

Arquivo pessoal

HERANÇA NO SÃO PAULO

Apesar de sair brigado com a comissão técnica, Hugo diz ter boa relação com a atual diretoria e relatou que quase voltou ao clube no início do ano. Os problemas políticos envolvendo Carlos Miguel Aidar e companhia, no entanto, impediram que qualquer plano se concretizasse.

De lá, ele mantém boa relação com Rodrigo Caio, um dos melhores amigos que fez durante a sua estadia na base são-paulina. Até hoje, eles se falam praticamente todos os dias e se tratam como irmãos. É o que o próprio jogador são-paulino relata.

“Conheço o Hugo há dez anos. Nós treinamos juntos nos períodos de testes no Morumbi e alojamos juntos em 2006. É um grande amigo e uma pessoa que considero muito. Jogamos juntos no infantil e tínhamos um time muito bom. Ele era muito rápido, fazia muitas jogadas pelos lados do campo e até marcava uns golzinhos, só não fazia mais gol do que eu porque na base eu era artilheiro (risos). É difícil comparar jogador porque eu acredito que cada um tem suas características. Mas ele sempre foi um jogador muito rápido, com muita explosão e com bastante qualidade”, disse Rodrigo Caio.