Lágrimas e histórias: Rogério Ceni se reencontra com a torcida do São Paulo

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globoesporte.com

Alexandre Lozetti

Ex-goleiro assume função de guia turístico e leva tricolores ao delírio em passeio de quatro horas pelo Morumbi: fotos, taças e memórias em clima de nostalgia e saudade

Por mais de duas décadas, Rogério Ceni deixou o vestiário para se encontrar com a torcida. Agora, seu público o espera dentro do vestiário. Ele desce a escada para ser ovacionado. Sem uniforme. Sem luvas. E, em vez dos milhares de fanáticos nas arquibancadas, são apenas algumas dezenas de pessoas na área de aquecimento dos jogadores. Só uma coisa não mudou: a devoção dos são-paulinos pelo maior ídolo da história do clube.

Não é mais um jogo (foram 1237). Agora é um tour. Não é mais goleiro. Agora é um guia turístico. Num passeio de cerca de quatro horas pelo Morumbi, Rogério viaja em suas lembranças e na imaginação dos torcedores. Conta histórias, relata experiências vividas ao longo dos 25 anos de São Paulo, tira fotos, assina camisas, pergunta, responde, ganha abraços e beijos

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Rogério Ceni Tour Morumbi (Foto: Rubens Chiri/saopaulofc.net)Rogério Ceni caminha com os torcedores em volta do gramado do Morumbi

O tour começa pelo vestiário do São Paulo. À espera de Ceni, 70 tricolores gritam por ele enquanto assistem a um vídeo com seus 131 gols. Quando surge o M1TO, o delírio se compara ao que acontecia na arquibancada. Rogério sobe num banco, pega o microfone e logo deixa claro que, também para ele, é difícil se acostumar a ser um ex-jogador:

– Às vezes eu ainda falo no presente, viu, gente – avisa.

O local onde os jogadores se preparam antes de cada partida em casa agora está reformado, decorado, bonito. Mas Rogério conta que, quando garoto, já se deparou com o vestiário alagado. E mergulha na memória para resgatar fatos, personagens, glórias…

Mosaico-CENI-tour-morumbi 2 (Foto: infoesporte)
                  Ceni no quarto em que morou e no símbolo do São Paulo

– Para mim, é como se eu ainda não tivesse parado. Sinto falta do aquecimento, do vestiário, da roda de jogadores. Mas eu me sinto super bem, fiz o que pude em campo, era o momento certo para sair de cena. Agora eu fico o mais próximo possível do São Paulo – diz o ídolo.

Rogério encerra a primeira parte e leva, em duas turmas, os torcedores para outra área do vestiário, onde ficam os pertences dos jogadores. Sua foto ainda está lá, embaixo do armário 12, seu desde 1992, e provavelmente somente até o mês que vem. Enquanto isso, um menino de 12 anos, que nasceu quando Ceni já tinha seis anos como titular do São Paulo, chora. Por que?

– Estou muito emocionado. Teve um jogo em Itu, quando ele estava saindo, estendeu a mão. Fiquei muito emocionado e agora estou aqui. Ver dele de perto, depois conversar e tirar foto. É o sonho da minha vida isso – se declara o garoto Pedro Mombergue, lágrimas nos olhos.

Nos seis eventos que fez até agora no Morumbi, Rogério cavou sempre uma história diferente para contar. Em respeito aos que fazem o tour por mais de uma vez, alega. Nesse reencontro com os fãs, lembrou-se da noite em que uma orientação sua ali naquele vestiário, no intervalo de um jogo, garantiu uma vitória importante na campanha do tricampeonato brasileiro, em 2008.

Rogério Ceni Tour Morumbi (Foto: Rubens Chiri/saopaulofc.net)Ceni brinca com menina em vestiário do São Paulo: ela usava a camisa do ídolo

Ceni e seus seguidores partem então para o túnel que dá acesso ao gramado. Local de famosas preleções, daquelas palavras de motivação, abraços e cumprimentos. Local que o ídolo mais sente falta. Com uma música ambiente que reproduz o canto da torcida à espera do time, ele leva os torcedores a campo e, em seguida, até o símbolo do São Paulo, onde conta mais histórias e tira fotos.

O passeio está perto da metade. Ainda passa por corredores, elevadores, escadarias, até chegar ao quarto ocupado por Rogério quando atuava nas categorias de base, entre 1990 e 93. Mais histórias, como as pizzas que alguns garotos rachavam e comiam escondidos dos outros. Afinal, o dinheiro era curto. O Salão Nobre e o Memorial de taças são as últimas atrações.

Mosaico-CENI-tour-morumbi (Foto: infoesporte)
                     Rogério mostra Morumbi para os torcedores do Tricolor

Rogério deixa os torcedores entre os troféus e volta para o vestiário para um rápido lanche, coisa de 10 minutos. Lá, senta-se numa cadeira ao lado das taças da Libertadores (2005) e dos Mundiais (1993 e 2005). Os 70 seguidores retornam, fazem fila e, um a um, sentam-se na cadeira ao lado para a foto individual com o ídolo, que assina camisas, pergunta a história de cada um, de onde vieram, e se surpreende com visitas de Tocantins, Belém, ou com relatos de quem nem torce para o São Paulo, mas está ali para dar um presente ao marido ou ao filho.

– Ouço histórias dos lugares mais distantes. Para eles é legal conhecer o estádio, e para mim é uma emoção muito grande, depois de ter parado de jogar. Quando conseguimos tocar alguém com essa intensidade, é isso que levamos da vida – diz.

O Morumbi está na fase final da reforma de seu gramado, que passa por melhorias e também teve sua dimensão reduzida para se adequar à padronização exigida pela CBF. Por isso, às 20h30 desta terça-feira, o São Paulo receberá o Mogi Mirim novamente no Pacaembu. Até o fim do ano, pelo menos mais um tour do ídolo por mês está marcado. Oportunidade para o torcedor matar a saudade de Rogério, e Rogério matar a saudade de casa.

Rogério Ceni Tour Morumbi (Foto: Rubens Chiri/saopaulofc.net)Ídolo cumprimenta torcedores no vestiário, na primeira etapa do tour pelo Morumbi