globoesporte.com
Alexandre Lozetti e Fernando Vidotto
Patón conta como preparou equipe para jogo decisivo na altitude, explica perfil dos reforços pedidos à diretoria e elogia o meia, que “pode solucionar todos os problemas”
Inteligência. Essa é a palavra-chave do São Paulo para voltar classificado dos 3.600 metros de altitude de La Paz, capital boliviana. É disso que Edgardo Bauza tenta convencer seus jogadores antes do jogo decisivo contra o The Strongest, na noite desta quinta-feira. Um empate é suficiente para classificar a equipe para as oitavas de final da Libertadores. Uma derrota, além da eliminação, causará mais tremores num clube que padece na missão de tentar ficar em paz.
Contratado no início do ano, o Patón sabia do desafio – e das dificuldades – de recolocar o Tricolor no topo. Só não imaginava que teria no calendário um inimigo tão feroz. Bicampeão da Libertadores (com a LDU em 2008 e o San Lorenzo em 2014), o treinador argentino diz que vê o time em ascensão depois de sintonizar melhor seu trabalho ao grupo e à rotina de jogos.
Dono de estilo chamado defensivo pelos mais críticos, mas que ele considera equilibrado, Bauza pediu reforços à diretoria para poder brigar pelo título brasileiro. Quer cinco jogadores que, independentemente da posição, do tamanho ou da cor do cabelo, tenham “jerarquia”. É uma expressão em espanhol que, quando utilizada no futebol, não tem tradução exata. Ela define aqueles atletas que “fazem diferença” numa equipe.
– “Jerarquia” abrange boa técnica, comportamento, a parte física muito boa. E, principalmente, o jogador de “jerarquia” quase sempre faz boas escolhas – explicou.
No atual elenco, ninguém tem mais “jerarquia” do que Ganso. Alvo de análises, opiniões e debates por todos os cantos, o meia vive bom momento sob o comando do argentino. Já fez seis gols (no ano passado inteiro foram só três) e tem liderado a equipe nos jogos mais importantes ou contra adversários mais tradicionais, como o River Plate.
– Ao Ganso tem que se dar liberdade. Liberdade de execução. Ele tem obrigações quando a outra equipe tem a bola. Quando nós temos, eu lhe dou liberdade para encontrar espaços e fazer tudo o que sabe. Sua técnica, inteligência e velocidade mental solucionam todos os problemas.
Leia abaixo a entrevista do Patón ao GloboEsporte.com:
Você já passou por várias semanas decisivas como essa em sua carreira. O que muda? Qual é a rotina, a exigência, o nível de concentração?
O trabalho é o mesmo. O que se faz é falar com os atletas para advertir, contar a importância do jogo, para que eles estejam compenetrados e entendam. Teremos dois inconvenientes: a importância do jogo e a altura. Temos que resolver os dois problemas.
O que ensinam as experiências que você teve na altitude?
Estive lá várias vezes como jogador e técnico. A última foi com o San Lorenzo, na semifinal da Libertadores. Nós nos classificamos para a final nesse jogo (o time argentino perdeu por 1 a 0 para o Bolívar, mas havia vencido em casa por 5 a 0). O importante é fazer um bom jogo. Vamos enfrentar uma equipe que ataca muito, é muito agressiva em casa, e já ganhou da gente aqui. Teremos que fazer um jogo muito inteligente para conseguir o resultado e classificar.
A palavra-chave é inteligência?
Sim. Temos que fazer um jogo inteligente para não entrar na dinâmica que o The Strongest vai querer impor, como sempre acontece com as equipes da altitude. Na primeira meia hora, eles jogam com intensidade muito alta para provocar um prematuro cansaço no adversário e poderem, nos últimos 20 minutos, tirar vantagem.
O que o resultado desse jogo muda no futuro do seu trabalho no São Paulo?
Eu sei a importância desse jogo, mas, para mim, não muda absolutamente nada. Não muda minha forma de ver, pensar o jogo, trabalhar, preparar. O diagnóstico desse plantel eu já dei. A diretoria sabe perfeitamente os passos que precisa dar. Se sou eu que farei, não sei (risos).
Se a diretoria te der três reforços, em vez dos cinco que você pede, é possível disputar o título brasileiro?
Vamos ver. Vamos ver como terminaremos essa partida decisiva. Estamos falando com a diretoria para tratar de “jerarquizar” este plantel. Podem ser três, cinco, não sei, estamos esperando que esse jogo termine para sentarmos e falarmos bem sobre isso.
Você quer “jerarquizar” o plantel. Essa é a característica fundamental dos reforços?
Claro. Bons jogadores, porque o São Paulo necessita ter bons jogadores. E estamos vendo em todas as linhas: defesa, meio e ataque. Estamos falando, vendo, mas ainda não decidimos nada e vamos esperar esse jogo para decidir.
“Jerarquia” fala só de qualidade? Qualquer bom jogador tem “jerarquia” ou a expressão envolve outros elementos ligados à conduta, postura?
“Jerarquia” abrange muitas coisas. Boa técnica, temperamento, parte física muito boa. Mas, acima de tudo, o jogador de “jerarquia” quase sempre faz boas escolhas. Por isso tem “jerarquia”. É uma palavra que define jogadores de bom nível, que o São Paulo sempre teve.
Você disse que precisou mudar sua metodologia de trabalho para adaptá-la ao calendário brasileiro. Que mudanças foram essas?
Bem, o calendário brasileiro nos obriga a isso. Você joga a cada 48, 72 horas, com viagens no meio, e não tem tempo para trabalhar no campo. Nas poucas horas que temos para isso, é preciso aproveitar. A metodologia de trabalho de outras equipes, outros países, aqui não posso fazer. Não tenho de domingo a domingo para preparar uma partida. Tenho um dia, às vezes dois, preciso esperar que o atleta se recupere para poder trabalhar. É muito pouco tempo, então é preciso mudar a metodologia, acomodá-la de acordo com o calendário.
O São Paulo teve técnicos de estilos muito diferentes nos últimos tempos: mais defensivo, mais ofensivo, que faz rodízio, que mantém o time, com sistemas diferentes. Você sentiu falta de uma identidade da equipe?
Ninguém tem a verdade. Todos os técnicos tentam dar uma identidade às suas equipes, de distintas maneiras. Eu trato de dar a minha. Desde o primeiro dia, e conseguimos isso com os atletas, a ideia é jogar de uma determinada maneira. Isso implica atacar e defender, eu prefiro equipes equilibradas. Não quero uma equipe que ataque desenfreadamente, se exponha ao contra-ataque e perca uma partida facilmente. Quero que ataquem todos e defendam todos. Busco equilíbrio. Em alguns momentos conseguimos, em outros não. Houve partidas em que poderíamos ter ganhado, mas perdemos muitos gols. Vejo a equipe em evolução. Com exceção do último jogo, contra o Audax (derrota por 4 a 1), em que nos desordenamos no segundo tempo, vejo a equipe cada vez melhor.
De zero a 10, quanto essa equipe do São Paulo já tem a sua identidade?
A identidade já tem. Agora é ver como melhorar e chegar a um pico de rendimento ótimo. Estams construindo uma equipe. Acredito que quando pudermos agregar três ou quatro jogadores de “jerarquia”, vamos melhorar muito mais.
Pelo que ele vinha agregando à equipe, você lamentou muito a lesão do João Schmidt?
A do Schmidt e de todos. Cada lesão me dói muito porque é um atleta a menos, e com tantas partidas, necessito de todos nas melhores condições. É lamentável, esperamos que ele se recupere rápido para podermos contar com ele, assim como o Rogério, o Carlinhos. Cada lesão é um problema para mim.
Se o São Paulo vencer o The Strongest, tem uma grande chance de enfrentar o Rosário Central nas oitavas de final. É seu time do coração, você jogou, é ídolo. Já pensou nisso?
Não é o rival que eu gostaria de enfrentar, mas em Libertadores, tenho experiência, não podemos escolher rivais. Se passarmos, vamos jogar a segunda partida fora de casa, também não é como eu gostaria. Mas se tiver de jogar contra o Central, ir a Rosário… Já enfrentei várias vezes, perdi, ganhei. É uma grande equipe, está lutando no campeonato argentino também. Oxalá possamos passar, e aí veremos o que teremos pela frente.
Em algumas de suas idas a Rosário você já foi vaiado pela torcida?
Não, não, temos muito boa relação. A torcida sabe muito bem que eu nunca escolheria jogar contra o Central. Mas, se tivermos de jogar, não tem o que fazer.
Você foi zagueiro-artilheiro, batedor de pênaltis, era habituado aos gols. Como explica essa dificuldade do São Paulo nas finalizações, na conclusão das jogadas?
É um pouco de tudo. Passa mais ela cabeça, a confiança, a segurança do momento. São questões pessoais para a hora de tomar decisões. Como na vida, é igual. O atleta tem uma bola e tem que pegar bem. Às vezes, a confiança faz com que as coisas saiam melhor.
Aconteceu com o Calleri, que ficou longo tempo sem marcar e desandou a fazer gols?
Sim. Ele é um garoto muito forte de cabeça, muito positivo, isso o ajuda. Ele pode ficar um ou dois jogos sem marcar, mas no próximo vai fazer porque é um atleta muito positivo.
O que você menos gosta no futebol brasileiro é o calendário. E do que mais gosta?
Trabalhar no futebol brasileiro é um desafio constante. Cada partida é um desafio diferente, todas as equipes têm características distintas. Tem de se estudar bem os rivais e tratar que o São Paulo chegue aos jogos da melhor maneira. No dia em que acertei minha vinda, sabia que seria um dos grandes desafios da minha carreira colocar o São Paulo nos primeiros lugares.
É natural que você responda muito sobre o Ganso, que surgiu com um talento fora do normal, depois passou por problemas e, no São Paulo, ainda é muito cobrado, embora esteja jogando muito bem. É um personagem complexo…
Não é complexo. Não é complexo. Complexos são os que o analisam, e querem que ele faça o que eles querem (risos). Ao Ganso, o que tem de dar é liberdade. Liberdade de execução. Ele tem obrigações quando a outra equipe tem a bola. Quando nós temos, eu lhe dou liberdade para encontrar espaços e fazer tudo o que sabe. Sua técnica, inteligência e velocidade mental solucionam todos os problemas. Ele encontra uma assistência, faz um gol, encontra o melhor passe para um companheiro. Para isso, o que faço é dar a ele liberdade. Quando o adversário tem a bola, que ele ajude para poder recuperá-la.
O Calleri disse que o Ganso é o melhor jogador com quem ele jogou. Você acha que o Ganso é um dos melhores jogadores que você treinou?
Tecnicamente, é um jogador excelentíssimo, de excelente qualidade. Mas insisto que ele ainda tem muito mais para dar. Seu nível pode elevar mais.
O estilo de Bauza é bem parecido como atual estilo do Atlético de Madrid que eliminou Barça da Champions.
Estilo de anular os principais jogadores dos adversários como foi feito com D’Alessandro do River, e como o próprio Atlético de Madrid anulou Neymar, Messi e Soares.
Se for pro SP jogar como o Atlético de Madrid, que Bauza fique. Mas se for pra jogar péssimo futebol, que vá embora para o buraco de onde veio!