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Marcelo Hazan
Antes em baixa, trio renasce com gols na vitória por 4 a 0 sobre o Toluca e ganha confiança. “Sabemos que não estávamos vivendo bom momento”, diz volante
A melhor atuação coletiva do São Paulo no ano serviu especialmente para recuperar a confiança de três jogadores: Centurión, Michel Bastos e Thiago Mendes. A goleada por 4 a 0 sobre o Toluca, na última quinta-feira, no Morumbi, pelas oitavas de final da Taça Libertadores, marcou a volta por cima do trio, antes renegado. Seja por críticas da torcida ou baixo rendimento técnico, nenhum deles tinha motivos para comemorar em 2016.
Centurión e o imponderável do futebol
Centurión foi o maior beneficiado da noite. O argentino sequer ficaria no banco de reservas de Edgardo Bauza, se tudo corresse normalmente, nas palavras do próprio treinador. Mas o imponderável do futebol entrou em ação.
Calleri, artilheiro do time com 12 gols, foi expulso em confusão após a classificação diante do The Strongest. O contestado cartão vermelho atrapalharia. Mas ajudou.
Alan Kardec, substituto natural e com um gol no ano, jogaria no seu lugar. Uma virose na véspera do jogo, no entanto, o tirou do treino no Morumbi. Centurión treinou no seu lugar, decisão de Bauza cercada de críticas de torcedores nas redes sociais. O problema de Kardec atrapalharia Bauza. Mas ajudou.
Referência no 4-2-3-1 do São Paulo, o argentino repetiu função exercida com Juan Carlos Osorio, ao lado de Pato, em 2015, quando fez gols assim. Na última quinta-feira, repetiu a dose. Primeiro com um golaço, o mais bonito da carreira, na sua própria avaliação. Depois com um gol de raça. Fora os dribles e a movimentação que coroaram a atuação ovacionada pela torcida. Há tempos o argentino não ouvia elogios.
– Fico muito tranquilo. Aceito as críticas dos torcedores. Enquanto falam de futebol não tem problema. Sabia que estava jogando mal, mas trabalhando sempre você consegue dar a volta por cima no futebol. Vou para casa muito feliz – disse, na saída do Morumbi.
Ele e os 53.241 torcedores que quebraram o próprio recorde de público do Brasil no ano.
Michel Bastos: gesto maior do que o gol
Nenhum jogador do São Paulo foi mais pressionado em 2016 do que Michel Bastos. Protestos direcionados, apitaço da torcida, críticas seguidas e questionamento sobre seu comportamento fizeram parte da rotina do meia no Morumbi.
O chute certeiro para completar o lateral cobrado por Bruno direto para a rede começou a colocar justiça no placar do Morumbi e isolou para longe o último resquício da crise que perseguiu Michel Bastos. Se antes o meia cogitava sair, caso a situação continuasse como estava até virar insustentável, agora selou definitivamente as pazes com a torcida ao comemorar o gol em cima do escudo do Tricolor. O gesto eternizado por ídolos do clube teve significado especial.
– Sinceramente não foi planejado. Não imaginava ir ao símbolo, veio na hora. Dei um pique tão grande que até passei mal. Isso mostra também a vontade que tenho de me doar e mostrar para o torcedor que em nenhum momento quis prejudicar o São Paulo. Esses gestos, essa minha doação, mostram o quanto estou firme e forte com o São Paulo – disse.
Depois da classificação na batalha de La Paz, com empate por 1 a 1 diante do The Strongest, Michel puxou discurso no vestiário dizendo que o time iria até a final. O primeiro passo no mata-mata foi dado.
Thiago Mendes: início da retomada do futebol de 2015?
O cara do Tricolor no ano passado, Thiago Mendes virou motivo de pergunta recorrente dos torcedores em 2016:
– O que aconteceu com o futebol dele?
O rendimento abaixo do esperado lhe fez perder a vaga de titular no time de Bauza para João Schmidt. Assim como no caso de Centurión, o imponderável do futebol deu uma mãozinha. João sofreu uma torção no joelho direito na vitória por 2 a 1 sobre o River Plate, ocasião em que a bela atuação só foi manchada pela expulsão no fim do jogo.
A ausência do principal concorrente abriu espaço para Thiago Mendes em La Paz, onde contribuiu discretamente. Na goleada contra o Toluca, o volante fez seu gol, aproveitando assistência de Ganso, e admitiu que o jogo serviu especialmente para ele, Michel Bastos e Centurión retomarem o bom futebol.
– Vínhamos trabalhando justamente para isso: dar alegria aos torcedores. Nosso dia a dia, com trabalho e humildade, é para chegar em uma hora dessas e não cometer erros. Serviu bastante para mim, Centurión e Michel. Sabemos que não estávamos vivendo um bom momento, mas fomos coroados e agora é dar a volta por cima, em busca da classificação fora de casa – disse.
Reviravoltas do futebol que uma noite de Libertadores no Morumbi são capazes de proporcionar.