Julho de 1990: o São Paulo apresenta um jogador uruguaio de cinco anos de idade. Cinco? Não, evidentemente tratava-se de erro de digitação. Naquela época, o material distribuído à imprensa era feito na máquina de escrever (veja abaixo). Corrigir dava muito trabalho. Diego Aguirre chegou como se tivesse nascido no dia 13 de setembro de 1985, 20 anos mais novo que a realidade.
O atacante, ainda sob holofotes de ter feito o gol do título da Libertadores pelo Peñarol em 1987, havia terminado sua passagem pelo Internacional, e foi levado ao São Paulo pelo empresário Juan Figer, histórico parceiro de transações do clube paulista. Além do agente, outro compatriota teve peso decisivo na contratação: Pablo Forlán, ex-lateral-direito tricolor e pai do atacante Diego Forlán, era o técnico da equipe àquela altura.
Nesta quarta-feira, Diego Aguirre volta ao Morumbi, mas como técnico do Atlético-MG, pelas quartas de final da Libertadores. A torcida do São Paulo espera que essa passagem seja tão “esquecível” quanto aquela de 26 anos atrás.
Em números, Aguirre não foi mal. Pelo contrário. Disputou 17 partidas, teve cinco vitórias, oito empates e quatro derrotas. Fez sete gols, mesmo número de Raí e Mário Tilico. Foram os artilheiros daquele período. Mas o São Paulo era um time em transformação, abalado pela péssima campanha no Campeonato Paulista, mas com um elenco talentoso, que ganharia um Brasileiro, dois Paulistas, duas Libertadores e dois Mundiais nos três anos seguintes.
– Não joguei tanto assim, era um super time. Ainda não era o elenco campeão de tudo, mas já eram grandes jogadores, só craques – relatou o atual técnico do Galo, que jogou com Gilmar Rinaldi, Zetti, Cafu, Ricardo Rocha, Ronaldão, Leonardo, Raí, entre outros.
Em outubro, Forlán não resistiu à campanha medíocre e pediu demissão. Ele era o terceiro técnico de 1990, depois de Carlos Alberto Silva e do interno Pupo Gimenez. O São Paulo deu, então, a tacada que o levou a conquistar o mundo pouco depois: contratou Telê Santana.
O Mestre chegou no dia 12 de outubro ao CT da Barra Funda. Coincidência ou não, o último jogo de Diego Aguirre pelo São Paulo foi no dia 4 de outubro, empate sem gols diante do Vasco.
– Trabalhei com o Telê, não houve nada de errado com ele, fomos até a final. Era um contrato curto, de empréstimo, não fiquei em 1991. O São Paulo tinha grandes jogadores – lembrou o uruguaio. Naquele ano, a equipe perdeu a final do Brasileirão para o rival Corinthians.
Na verdade, foram dois contratos curtos. Diego Vicente Aguirre Camblor foi registrado de 15 de junho a 14 de setembro, com ordenado mensal de mil e quinhentos dólares e luvas de 20 mil dólares. Ao fim dos três meses, a diretoria estendeu seu vínculo por mais três, até 20 de dezembro. O contrato registrado na CBF é uma “bagunça”. Seu salário mensal, no documento, era de NCz$ 135 mil cruzeiros. Acontece que “NCz$” era a representação de novos cruzados. Naquela época, a moeda brasileira mudava de nome como o São Paulo de técnico
Aguirre teve como parceiros de ataque outro uruguaio, Carrasco, e jogadores como Mário Tilico, Elivélton e Alcindo. Os gols não foram suficientes e ele foi parar na Portuguesa, sua última aventura pelo futebol brasileiro. Dentro de campo. No banco de reservas, Diego Aguirre tem nova chance de fazer história e chegar à segunda semifinal seguida – em 2015, deixou o Internacional entre os quatro da Libertadores.
São Paulo e Atlético-MG se enfrentam nesta quarta-feira, às 21h45, no Morumbi, com transmissão da TV Globo e do SporTV. O GloboEsporte.com vai acompanhar em Tempo Real.
Lembro do Aguirre, não era mau jogador não. Naquela época o time estava se acertando, depois de uma campanha ruim no Paulista (onde fomos pro Grupo B da série A1 – não rebaixados para a série A2, como os antis dizem) e a chegada do Telê. Perdemos a final do Brasileiro de 90 pro Corinthians (sendo o SP o melhor time em campo mas perdendo os dois jogos), mas ganhamos o de 91 contra o Bragantino – aí já sem o Aguirre. Bons tempos, mesmo não ganhando dava gosto de torcer pro time, que saudades.