Ataíde diz que carta contra Aidar foi usada para condená-lo no São Paulo

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Alexandre Lozetti e Marcelo Hazan

Ex-vice de futebol afirma que recebeu proposta de dividir comissão em acordo com advogado que, meses depois, foi contratado para defender clube em ações tributárias

São Paulo x Cesar Vallejo Atade Gil Guerreiro (Foto: Marcos Ribolli)

Ataíde Gil Guerreiro diz que carta era documento contra Aidar, mas foi usada como elemento de sua cassação no São Paulo (Foto: Marcos Ribolli)

Um dos elementos do parecer elaborado pela comissão de ética do Conselho Deliberativo do São Paulo, e divulgado pelo GloboEsporte.com, foi uma correspondência enviada pelo advogado José Roberto Cortez ao ex-vice presidente de futebol Ataíde Gil Guerreiro.

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Cortez é o advogado que o ex-presidente Carlos Miguel Aidar contratou por honorários altíssimos para defender o clube em causas tributárias, as quais já estavam entregues ao escritório de Ives Gandra da Silva Martins, conselheiro do São Paulo que não cobrava para atuar.

Citado no relatório, o papel enviado por Cortez tem anotações feitas a mão por Ataíde, que cita uma comissão a ser dividida com Cinira Maturana, namorada de Aidar. O parecer elaborado pelo presidente da comissão de ética, José Roberto Ópice Blum, afirma que esse documento é um indício de tratativas anteriores entre Ataíde e Cortez.

(editado) Parecer Comitê Ética São Paulo Página 11 (Foto: Arte: GloboEsporte.com)Em sua pagina 11, parecer da comissão de ética diz que documento indica tratativas antigas entre Ataíde e Cortez

O ex-vice nega. Gil Guerreiro diz que foi apresentado a Cortez por Carlos Miguel Aidar em junho do ano passado, e que numa reunião no escritório do advogado, lhe foi feito um pedido. Leia sua explicação:

– Eu não tinha nenhuma desconfiança com o Carlos Miguel, ele me disse que havia sido apresentado pela Cinira a um advogado que fez um trabalho sensacional para o São Paulo, e o clube receberia aproximadamente R$ 100 milhões de restituição de PIS/Cofins. Ele me levou até o escritório e fui apresentado ao José Roberto Cortez. No meio da reunião, o Cortez disse que poderíamos aproveitar esse momento e me pediu que eu o apresentasse a outros clubes. Eles entrariam com R$ 100 mil de adesão e pagariam um percentual quando tivessem êxito.

Ou seja, segundo Ataíde, Cortez gostaria que o dirigente aproveitasse o bom trânsito em outros clubes de futebol para sugerir a eles que também contratassem os serviços do advogado, utilizando o trabalho de ressarcimento ao São Paulo como exemplo.

Ataíde pediu que Cortez lhe enviasse essa sugestão documentada para analisar o que fazer.

– Na volta, o Carlos Miguel me disse que o Cortez estava disposto a pagar a ele uma comissão em relação à adesão de outros clubes. Eu fiquei com o pé atrás. Ele me disse que eu poderia ficar com a comissão e dividir com a Cinira. Eu não desconfiava do Carlos Miguel, mas fiquei invocado com esse negócio de comissão e decidi não apresentá-lo a clube algum – disse Ataíde.

Correspondência Advogado Ataíde São Paulo (Foto: Arte: GloboEsporte.com)No trecho em destaque, as anotações de Ataíde, que diz ter passado para o papel o que foi sugerido por Aidar

Mas então, por que ele fez essas anotações sobre comissões no papel?

Segundo o ex-vice do São Paulo, ele anotou o que havia sido proposto por Aidar e jogou o papel na gaveta de seu escritório. O documento voltou à tona meses depois, quando Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, já eleito presidente do clube após a renúncia de Aidar, procurou Ataíde e reclamou a contratação de Cortez para defender o clube nas ações tributárias que já tinham os serviços prestados pelo escritório de Ives Gandra.

De acordo com Leco, foi acertado um contrato de R$ 8 milhões de honorários a Cortez. Ou seja, o São Paulo pagaria caro por um serviço que estava sendo feito de graça. Ataíde, imediatamente, ligou os pontos e se lembrou da reunião no escritório.

Luiz Cunha Leco Ataíde São Paulo  (Foto: LEANDRO MARTINS/FRAMEPHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO)Leco e Ataíde encontraram pagamento adiantado a advogado para defender São Paulo em ação que o clube já tinha representante sem cobrança de honorários (Foto: LEANDRO MARTINS/FRAMEPHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO)

– Abri minha gaveta e falei que ele estava cobrando R$ 100 mil de adesão a outros clubes, como o São Paulo pagaria R$ 8 milhões? Mandei isso para o Ives, que era responsável por defender o clube nessas ações, e ele me perguntou se poderia mandar para o Conselho Consultivo. Nessa esfera, nada evoluiu, mas isso foi enviado para o Conselho Deliberativo e acabou entrando no parecer. O próprio Ives me sugeriu escrever uma carta. Ele disse: “Você prestou um puta serviço e estão jogando pra cima de você”. Não havia nenhuma ilicitude, a não ser pagar R$ 8 milhões para o cara se o Ives estava fazendo de graça – explicou Gil Guerreiro.

Resumo:Ataíde alega que a carta que recebeu de Cortez foi entregue ao Conselho Consultivo como prova contra Aidar, mas usada como elemento de sua cassação.

No dia 27 de novembro de 2015, Ives Gandra redigiu uma carta endereçada a Leco e a José Eduardo Mesquita Pimenta, presidente do Conselho Consultivo do São Paulo, na qual explicava que a contratação de outro advogado significava renunciar ao recurso especial que havia sido oferecido em defesa do São Paulo no processo que corria na Justiça.

A crítica à decisão de Aidar pela contratação de Cortez terminava dizendo que isso comprometia de maneira irreversível a estratégia de defesa elaborada desde 2014.

No dia 24 de fevereiro de 2016, Carlos Miguel Aidar enviou um e-mail à secretaria do Conselho Deliberativo. Nele, disse ter sido questionado por Pimenta e tomado conhecimento da carta de Ives Gandra. Em sua defesa, citou o receio de ser acusado de crime do “colarinho branco”:

(original) Parecer Comitê Ética São Paulo Página 18 (Foto: Arte: GloboEsporte.com)Página 18 do parecer da comissão de ética fala sobre o temor de Aidar em ser preso pelo crime do “colarinho branco”

“Não ter procurado o Dr. Ives para cuidar da autuação, como lhe expus pessoalmente, foi meu erro, mas me recordo do imenso receio que tive sobre o chamado crime do colarinho branco (sonegação fiscal, ordem tributária, apropriação indébita) e suas consequências pessoais aos responsáveis, com risco de prisão conforme alertou-me à época o conselheiro Antônio Cláudio Mariz de Oliveira.”, dizia trecho do e-mail enviado por Aidar.

Ataíde afirma que tentará esclarecer esse ponto de sua condenação no Conselho do São Paulo:

– Uma coisa é me condenar por uma pseudo-agressão, outra por fatos que não são verdadeiros.

Veja abaixo a íntegra da carta enviada por Ives Gandra a Leco e Pimenta, na qual ele fala sobre as consequências da contratação de José Roberto Cortez:

Carta Ives Gandra para Leco São Paulo 1 (Foto: Arte: GloboEsporte.com)
Carta Ives Gandra para Leco São Paulo 2 (Foto: Arte: GloboEsporte.com)
Carta Ives Gandra para Leco São Paulo 3 (Foto: Arte: GloboEsporte.com)