De “migué” a exemplo: SP montou plano para recuperar Michel Bastos

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Guilherme Palenzuela
Do UOL, em São Paulo

Um gesto intempestivo de “cala a boca” para a torcida somado a atuações individuais abaixo do esperado no fim de 2015 fizeram Michel Bastos, 32, iniciar a temporada sob críticas de uma parcela dos torcedores do São Paulo. Em fevereiro, uma divergência de opiniões com Diego Lugano e outros jogadores sobre um pacto de silêncio contra o atraso de pagamentos do clube fez com que o meio-campista virasse alvo de críticas ainda maiores. A solução parecia ser vende-lo, mas o São Paulo iniciou uma série de pequenas ações internas para recuperar o jogador.

Quando Michel Bastos acabou exposto no episódio do pacto de silêncio dos atletas, a diretoria conversou entre si e decidiu que não havia viabilidade de negociá-lo: o time havia perdido para o The Strongest na estreia da fase de grupos da Copa Libertadores, tinha poucas peças em alta para o setor ofensivo e não enxergava no mercado alternativas para reforçar o elenco caso Michel deixasse o clube.

Segundo relatado por dirigentes ao UOL Esporte, naquele momento o departamento de futebol – entre diretores, comissão técnica e funcionários – foi orientado integralmente para que passasse confiança e apoiasse o meio-campista. O objetivo do São Paulo era mostrar a Michel Bastos que o clube não compactuava com as críticas de parte da torcida – depois do episódio do pacto de silêncio houve até um protesto da principal organizada do clube que criou o personagem “Migué Bastos” para criticá-lo.

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Diego Padgurschi /Folhapress

No dia a dia, a tentativa de mostrar carinho a Michel Bastos passou também por Edgardo Bauza. O técnico sempre fez questão de defender publicamente que o meio-campista era titular absoluto do time. Em duas ocasiões chegou a falar que ele jogaria porque era o melhor da posição no elenco.

Entre a diretoria, enquanto se fazia cobranças duras por comprometimento a todo o elenco, também se dizia que Michel Bastos era inegociável. O diretor executivo Gustavo Vieira de Oliveira negou qualquer possibilidade de negociá-lo ao Internacional quando o clube gaúcho demonstrou interesse.

Parcela significativa no processo de recuperação do jogador, segundo destacado até dentro do São Paulo, foi a mudança no comando do futebol do clube há cerca de um mês. Ataíde Gil Guerreiro deixou de ser o vice-presidente de futebol, e Luiz Cunha surgiu como novo diretor estatutário para chefiar a pasta. Cunha trata Michel Bastos de forma mais próxima e tenta atender a possíveis preocupações do meia para que ele se sinta prestigiado e acolhido dentro do clube. Dentro do São Paulo, tal mudança foi vista como essencial.

Na quinta-feira, Michel Bastos, titular, abriu o placar para o São Paulo na goleada que terminaria em 4 a 0 sobre o Toluca, pelas oitavas de final da Copa Libertadores. Gritou e vibrou como nunca no Morumbi, correu até o escudo do clube no gramado e terminou a celebração ali. No jogo, participou da maioria das jogadas são-paulinas no último pedaço do campo e foi elogiado por Bauza.

“Foi especial, eu precisava de uma partida como essa. Foi um modo de mostrar ao torcedor que o Michel Bastos que eles um dia aplaudiram ainda está aqui”, falou o jogador.

Hoje Michel Bastos é defendido pelos mesmos que o criticavam no fim de 2015 dentro do clube. Estes afirmam que a recuperação do jogador mudou também a forma como ele se relaciona com o clube e com o elenco, e que hoje a postura do meia é de total comprometimento.