Jogadores ajudaram no ambulatório: o relato de vítimas da queda no Morumbi

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UOL

Felipe Pereira

Agarrado na grade do Morumbi, Luiz Fernando Aguiar foi puxado por ela e só teve tempo de soltar a mão e proteger o rosto. Ainda no chão, sentiu alguém caindo sobre suas pernas. Assim que pôde, se levantou e viu o atacante Calleri com cara de assustado repetindo: “Tá bien, tá bien, tá bien?”

Assim que o profissional de tecnologia de informação de 28 anos fez sinal de positivo com a cabeça, o jogador se dirigiu a um homem com o rosto sangrando. Atordoado, Aguiar tentava entender como foi parar no fosso do Morumbi junto com torcedores feridos no meio da comemoração do gol e se via cercado por jogadores do São Paulo.

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Um amigo estava ao lado e ele perguntou “que p… é essa?”. A equação começou a ser solucionada ao ver que os atletas olhavam para o camarote. Ao girar o pescoço, Luiz Fernando viu que a grade não estava no lugar, mas sob seus pés.

Todas as vezes a grade estava mole”

Claudio Herrera, torcedor que caiu no Morumbi

Cláudio Herrera também procurava entender o que aconteceu. O publicitário de 23 anos se levantou rodeado de jogadores com expressão preocupada. Ele lembra que Wesley passava com uma mulher nos braços enquanto Ganso e Michel Bastos chamavam bombeiros, policiais militares e médicos.

Em um minuto duas ambulâncias estacionaram e os profissionais do Departamento Médico do São Paulo atendiam os feridos. Os socorristas priorizavam os casos mais graves enquanto Calleri devolvia o celular a um homem que perdeu o aparelho na queda.

Foi desta maneira que os torcedores do São Paulo viram e reagiram ao acidente provocado quando uma grade de um camarote do Morumbi cedeu. Tudo começou quando o time da casa abriu o placar aos 34 minutos do segundo tempo de um jogo pegado.

Wesley e Michel Bastos comemoravam próximo à torcida e as pessoas de um camarote se aglomeraram. A grade, que tinha sinais de corrosão de acordo com laudo da Polícia Civil, não aguentou e rompeu.

A partida ficou interrompida por seis minutos e 16 pessoas foram encaminhadas para o ambulatório do estádio. Os casos mais graves tiveram prioridade e, após uma triagem, sete torcedores acabaram internados – quatro receberam alta na quinta-feira e três precisam passar por cirurgia.

A preocupação demonstrada pelos jogadores foi um ponto ressaltado pelos torcedores ouvidos pelo UOL Esporte. Aguiar é a pessoa que filmou o acidente e as imagens foram parar em sites de todo o país. O que a gravação não mostrou foi a urgência que ele tinha em falar com a mulher.

Ela está grávida de oito meses e o torcedor tinha medo que a situação acelerasse o nascimento porque percebia câmeras de televisão focando nele. Mas nada de o celular completar ligações naquela hora. Por sorte, o tio via tudo de casa e conseguiu fazer uma chamada e ouviu de Luiz Fernando instruções para ligar para mulher.

Passados 10 minutos, o torcedor estava no ambulatório e finalmente entrou em contato com a mulher. Soube que João Felipe não iria nascer antes da hora. Ele também recebeu o carinho dos jogadores. Lugano, Ganso, Wesley e Michel Bastos apareceram e atenderam aos pedidos de fotos. Luiz Fernando achou engraçado que eram os atletas querendo saber como os torcedores estavam.

Herrera não tirou fotos e a lembrança dele é outra, de que a grade apresentava problemas em todos os jogos de Libertadores. Ele foi às quatro partidas realizadas no Morumbi e conta que a situação não era novidade. “Todas as vezes a grade estava mole”.

Mas o susto não tirou a vontade dos torcedores irem ao estádio. A dupla deseja o acidente seja mais um capítulo quando contarem a história do quarto título da Libertadores do São Paulo.