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Alexandre Lozetti, Marcelo Hazan e Marcelo Prado
Pela primeira vez no ano, Bauza consegue escalar time com jogadores que melhor se encaixaram em seu sistema tático. Lesões, suspensões e mudanças o levaram até ele.
Denis; Bruno, Maicon, Rodrigo Caio e Mena; Hudson, Thiago Mendes, Ganso, Michel Bastos e Kelvin; Calleri.
A escalação está na boca do torcedor do São Paulo, mesmo sem jamais ter sido utilizada. Como isso é possível? A manutenção do sistema de jogo e as mudanças que Edgardo Bauza foi obrigado a fazer, por lesões e suspensões, construíram essa equipe ideal na mente coletiva.
Nesta quarta-feira, o Patón terá, então, seus 11 para tentar chegar à semifinal da Libertadores. No Independência, um empate com o Atlético-MG ou uma derrota por um gol de diferença – desde que o time faça gols –, levará o São Paulo à próxima fase. Há três meses, isso era utópico.
No dia 18 de fevereiro, a torcida lamentava a derrota para o The Strongest, no Pacaembu, na estreia da fase de grupos, e o elenco fazia contas precoces com uma conclusão triste: sobreviver seria um desafio dos mais árduos.
Reforços essenciais ainda não haviam estreado, atuais protagonistas eram meros coadjuvantes, havia salários atrasados e um clima horrível. Mas o São Paulo sobreviveu.
Os problemas administrativos foram resolvidos pela diretoria graças a um novo contrato de transmissão que rendeu R$ 60 milhões de luvas. Dentro de campo, não foi dinheiro, e sim trabalho que fez a equipe evoluir.
Até chegar à melhor formação, o Patón sofreu com suspensos e lesionados, poupou, trocou, experimentou… Veja a seguir todos os passos da formação deste time que entrará em campo para tentar continuar na Libertadores:
1) O time da estreia
O São Paulo começou o ano com Denis; Bruno, Rodrigo Caio, Breno e Mena; Hudson, Thiago Mendes, Ganso, Michel Bastos e Centurión; Alan Kardec.
O lateral-esquerdo chileno era o único reforço no time titular. Calleri, atacante argentino, iniciou no banco por questão de hierarquia. Lugano, zagueiro uruguaio e ídolo, ainda não tinha as condições físicas ideais para jogar. O banco ainda tinha o centroavante Kieza, único contratado pelo qual o São Paulo pagou em janeiro: US$ 1 milhão.
Essa formação empatou com o modesto Cesar Vallejo, no Peru, na estreia da primeira fase da Libertadores. O São Paulo acertou três bolas na trave e Kardec fez um gol logo no início, mal anulado. Isso viria a ser fatal para sua temporada. Calleri entrou em seu lugar no segundo tempo e, por cobertura, garantiu o empate em 1 a 1. Uma estreia que deixou mais dúvidas do que certezas.
2) Modificado por lesões
Breno se machucou e Lucão entrou. Alan Kardec teve amigdalite e cedeu espaço a Calleri, que passou a fazer gols e jamais permitiu ao concorrente voltar. Foram as duas primeiras mudanças, forçadas, que Bauza fez.
No jogo de volta contra o Cesar Vallejo, esse já foi o time. Michel Bastos perdeu pênalti e, de novo, mais sofrimento do que se esperava na vitória por 1 a 0, gol do reserva Rogério no fim.
Apesar de muita disposição nos primeiros jogos, o desempenho não era dos melhores. A derrota por 1 a 0 em casa para o The Strongest desencadeou velhos problemas de 2015: ambiente ruim, grupos divididos, desafios ao técnico, problemas de gestão evidenciados com atrasos nos pagamentos, pouca disposição dentro de campo e um alvo escolhido pela torcida: Michel Bastos.
Maicon, zagueiro recém-contratado, assistiu a tudo das numeradas.
3) Sem Michel e com uma zaga de respeito
Michel Bastos se machucou e, perseguido pela torcida, teve descanso forçado. Carlinhos entrou, improvisado à frente como havia ocorrido no ano passado, e o Patón aproveitou para deslocar Centurión ao lado direito.
As escolhas desencadearam a questão Rogério. O atacante, importante no ano passado, não agrada ao técnico atuando pelos lados. Ele prefere vê-lo centralizado, pois acha que ele não marca o lateral rival com eficiência.
A tolerância de Bauza com as péssimas apresentações do compatriota argentino Centurión era incompreendida pela torcida.
Atrás, porém, um alento. Maicon e Lugano estrearam, e passaram a fazer um rodízio com Rodrigo Caio. Dos três, sempre dois eram escalados. O setor ganhou respeito e seriedade. Mas o futebol continuou ruim, e as vaias dos poucos torcedores no Pacaembu – o Morumbi estava em reforma – eram frequentes.
4) Fraqueza pelos lados
Com Carlinhos e Centurión, o São Paulo não fluía e não criava pelos lados, setores fundamentais no esquema 4-2-3-1, preferido do Patón e jamais alterado até então.
Michel Bastos voltou de lesão, e, dessa vez na esquerda, desafiou as vaias que persistiam. Isso provocou uma mudança no jeito de jogar. Do lado oposto, Michel, canhoto, sempre trazia a bola para o meio. O São Paulo passou a jogar mais em direção à linha de fundo.
Na direita, o técnico argentino apostou em Daniel. O meia até fez boas apresentações, mas irregulares, em razão do longo tempo sem atuar. Tinham sido apenas duas partidas em 2015. Uma nova lesão no ex-botafoguense abriu caminho para o acerto no ataque: Kelvin.
Com exceção de lesões, suspensões e convocações, os laterais Bruno e Mena continuaram firmes na posição, assim como o goleiro Denis, cada vez mais questionado.
5) Tá ficando bom…
Pouco aproveitado pelo Palmeiras no ano passado, Kelvin passou a melhorar muito o time quando entrava no segundo tempo.
Edgardo Bauza ainda não estava convencido de que o atacante poderia fazer o corredor (ou seja, acompanhar os avanços do lateral adversário). A comissão técnica e o departamento de análise utilizaram vídeos para mostrar a ele que era possível, valia a aposta, até para potencializar o desempenho de Bruno.
Kelvin virou titular. O mesmo ocorreu com João Schmidt, que demonstrava em todas as suas chances estar em melhor fase que Thiago Mendes. Os dois começaram contra o Trujillanos e fizeram gols no baile de 6 a 0 no Morumbi – sim, o estádio estava de volta.
A opção por deixar Lugano no banco diante de mais de 50 mil fãs nos 2 a 1 sobre o River Plate provou que a dupla de zaga, finalmente, estava determinada: Maicon e Rodrigo Caio.
6) Ousadia para classificar
Para se classificar, Edgardo Bauza abriu mão de seu melhor jogador. Parece contraditório, e certamente foi ousado, mas tanto nos 3.600 metros de La Paz quanto nos 2.600 de Toluca, o técnico deixou Paulo Henrique Ganso no banco de reservas.
O empate com o The Strongest (1×1) e a derrota para o Toluca (1×3) foram suficientes.
O time avançou com novo esquema, 4-1-4-1, e a entrada de Wesley para reforçar a marcação no meio-campo. Ele formou um triângulo com Hudson e Thiago Mendes, e o trio conseguiu impedir muitas ações do time boliviano.
O treinador apostou que não teria a bola de jeito algum por causa das condições naturais, então optou por anular os rivais. Thiago Mendes estava de volta, culpa da lesão de João Schmidt em seu melhor momento. O novo-velho titular retornou bem melhor, e vem reconquistando o lugar que ganhou em 2015.
7) A melhor versão: 99% anjo, perfeito…
Se há um modelo de exibição do São Paulo no ano, foi o jogo contra o Toluca: 4 a 0 no Morumbi e a classificação para as quartas de final quase garantida. E sem o artilheiro…
Calleri estava suspenso e Centurión, como atacante mais adiantado, fez dois gols e teve ótima atuação, mesmo tendo características bem diferentes das que o Patón considera ideais para a posição.
Agora, o técnico levará a campo a mesma escalação, mas com o centroavante goleador à frente. Será a primeira vez desses 11 juntos. Justamente no jogo mais difícil. Bom sinal.
O São Paulo espera manter a segurança defensiva que o treinador tanto valoriza, mas com triangulações pelas laterais e poder de finalização com o argentino, um dos artilheiros da Taça Libertadores com oito gols.
Veja as informações do Tricolor para o jogo contra o Atlético-MG nesta quarta-feira:
Local: Independência, Belo Horizonte-MG
Data e horário: quarta-feira, 21h45 (de Brasília)
Escalação provável: Denis; Bruno, Maicon, Rodrigo Caio e Mena; Hudson, Thiago Mendes, Kelvin, Ganso e Michel Bastos; Calleri.
Desfalques: Wilder, Breno, Carlinhos, Daniel, João Schmidt, Caramelo e Centurión
Transmissão: TV Globo para SP, MG, RS, SC, PR, GO, TO, MS, MT, SE, PE (menos Petrolina), RN, PA (menos Santarém) e AP (com Cleber Machado, Casagrande, Bob Faria e Leonardo Gaciba) e SporTV (com Milton Leite e Mauricio Noriega)
Arbitragem: Andrés Cunha, auxiliado por Carlos Pastorino e Horacio Ferreiro (todos do Uruguai)