Falta de vibração, futebol ruim, ambiente conturbado dentro e fora de campo, além de jejum em clássicos, assombravam Tricolor. Time reverte situação e supera obstáculos
Quantas vezes você, torcedor são-paulino, falou ou ouviu frases parecidas como as descritas acima? Depois de um 2015 turbulento dentro e fora de campo, o time iniciou a atual temporada sob desconfiança. A irregularidade da equipe reforçou a ideia de que os mesmos problemas do ano passado continuariam a assombrar o Morumbi.
Mas um esforço conjunto de jogadores, diretoria e a comissão técnica de Edgardo Bauza, um dos principais responsáveis, fez o Tricolor quebrar um por um seus próprios tabus. O último caiu no domingo passado, com a vitória por 1 a 0 sobre o Palmeiras (veja o gol de Ganso no vídeo acima), a primeira em clássicos desde 3 de junho de 2015, quando bateu o Santos por 3 a 2. Eram dez jogos de jejum, com três empates e sete derrotas.
O GloboEsporte.com listou abaixo os problemas superados.
Atuações convincentes
Até abril, o são-paulino recorria à memória e dificilmente lembrava de atuações incontestáveis do time no ano. Em uma entrevista coletiva no CT da Barra Funda antes da reviravolta da equipe, no fim de março, o volante Hudson citou os jogos contra César Vallejo (vitória por 1 a 0, no Pacaembu) e o empate com o River Plate (1 a 1, na Argentina) como referências. Mas em nenhuma delas a equipe empolgou.
Esse panorama mudou com a reviravolta do São Paulo na Taça Libertadores. A goleada por 6 a 0 sobre o Trujillanos, a vitória por 2 a 1 diante do River Plate e, principalmente, a contundentegoleada por 4 a 0 sobre o Toluca, do México, nas oitavas de final, viraram modelos. A própria atuação contra o Palmeiras, mesmo desfalcado de Mena, Rodrigo Caio, Hudson, Michel Bastos e Calleri, também convenceu.
Ambiente
Um dos momentos de crise no ambiente do São Paulo se deu em fevereiro, quando parte do grupo decidiu fazer um pacto de silêncio em protesto ao atraso no pagamento dos direitos de imagem. A ideia foi quebrada por Lugano, Alan Kardec e Calleri, entre outros que discordavam do movimento. Depois de regularizar a situação financeira, a diretoria cobrou nova atitude publicamente dos jogadores. Faltava coração, nas palavras do diretor-executivo GustavoVieira de Oliveira, no início de março.
Quase três meses depois, o próprio Lugano, símbolo de raça para o torcedor, dá depoimento que mensura a mudança na rotina são-paulina, ao comparar o ambiente de agora com o do time campeão da Libertadores e do Mundial, em 2005.
– O que tem de similar, com o time de 2005, é o fogo sagrado de cada jogador para deixar o nome na história do clube. No fundo, isso é o que move os jogadores, principalmente alguns meninos que passaram por momentos muito difíceis aqui no clube. Eles enxergam uma grande oportunidade e agem para que isso aconteça. Não gosto tanto de cobrar, acho que essa é uma imagem errada que as pessoas têm de mim. O melhor exemplo é dar exemplo todos os dias para que todos, dos jogadores aos funcionários, deem seu melhor. Se você faz o máximo, ninguém pode te cobrar, e você fica mais perto de coisas importantes – disse o zagueiro uruguaio.
Até mesmo discussões, como a de Maicon e Rogério, no último domingo, são bem vistas pela diretoria. Mesmo caso da indisciplina do time com cartões. A visão é de que essa postura de cobrança entre os atletas é a ideal, no lugar da inércia demonstrada diante da goleada sofrida para o rival Corinthians, no fim do ano passado.
Identidade com a torcida
A torcida do São Paulo viveu caso de amor e ódio com o time. O auge da turbulência foi entre Michel Bastos e a maior organizada do clube. O meia virou alvo de seguidos protestos direcionados, mas conseguiu aos poucos dar a volta por cima dentro de campo, amparado por diretores (Luiz Antônio da Cunha foi protagonista no processo) e companheiros de elenco.
O início da virada se deu a partir do empate por 1 a 1 contra o River Plate, no Monumental de Nuñez, na Argentina, no dia 10 de março. A postura aguerrida da equipe passou a agradar. Nem mesmo resultados posteriores negativos (derrota por 2 a 0 para o Palmeiras, por exemplo, no Paulistão) viraram obstáculos. Apesar de o time começar a empolgar de fato na goleada por 6 a 0 sobre o Trujillanos, o Tricolor recuperou o espírito de Libertadores ao bater o River Plate, por 2 a 1, no Morumbi, no dia 13 de abril.
A partida marcou a primeira quebra de recorde de público do Brasil, com 51.342 pessoas. Time e torcida mostraram a sintonia tão perseguida por qualquer equipe vencedora. O jogo sucedeu aprovocação do clube ao “torcedor de sofá” e também deu início às marcantes festas para o desembarque do ônibus do São Paulo no Morumbi. Jogo após jogo, o momento virou um evento à parte dos duelos do Tricolor na Libertadores. O maior público do ano foi de 61.297 pessoas, na vitória por 1 a 0 sobre o Atlético-MG.
– O mínimo que recuperamos foi a confiança com o torcedor, que agora tem uma sinergia e vê com orgulho a briga mesmo nas derrotas. Há formas e formas de perder, e o torcedor está vendo que o São Paulo tem orgulho de representá-los. Não é uma virtude, é o mínimo que um jogador pode ter. Não posso falar de mudança, porque cheguei neste ano e vejo essa mentalidade de vencer e fazer história desde o começo. Para falar de mudança, precisaria comparar com algo que não vi. Vejo o time evoluir, melhorar, ter melhores resultados – afirmou Lugano.
Time ideal e a mão de Bauza
Denis; Bruno, Maicon, Rodrigo Caio e Mena; Hudson, Thiago Mendes, Ganso, Michel Bastos e Kelvin; Calleri. Demorou, mas hoje o são-paulino sabe exatamente a escalação ideal do Tricolor com todos os jogadores à disposição (veja o 4-2-3-1 no campinho ao lado). Méritos de Edgardo Bauza, principal responsável pela reação da equipe.
Essa formação ideal estreou na vitória sobre o Galo e não tem sido mais usada por diversos motivos: Mena (seleção chilena), Rodrigo Caio (seleção brasileira), Hudson, Michel Bastos (lesionados) e Calleri (viagem para tirar passaporte) estão fora. A ideia é que todos estejam à disposição para as semifinais dos dias 6 e 13 de julho, contra o Atletico Nacional, da Colômbia.
Em diferentes momentos da temporada, Bauza trouxe para si decisões polêmicas e fundamentais. O argentino deixou Lugano no banco no primeiro jogo do ídolo na volta ao Morumbi, colocou Ganso na reserva no decisivo duelo com o The Strongest, na rodada final da fase de grupos, na altitude de 3.600 metros de La Paz, bancou Michel Bastos em meio aos protestos da torcida, apostou no contestadíssimo Centurión, quando perdeu Calleri e Alan Kardec, diante do Toluca, e manteve Denis como goleiro titular, mesmo diante de críticas por falhas importantes. Bauza ganhou o grupo e tem muitos méritos pelo momento do Tricolor.
Veja as informações do São Paulo para a partida contra o Figueirense:
Local: Orlando Scarpelli, em Florianópolis
Data: quarta-feira, às 21h45 (de Brasília)
Escalação provável: Denis; Bruno, Maicon, Lugano e Matheus Reis; Thiago Mendes, Wesley (João Schmidt), Kelvin, Ganso e Centurión; Alan Kardec.
Desfalques: Calleri, Wilder, Breno, Rodrigo Caio, Caramelo, Carlinhos, Mena, Michel Bastos e Hudson
Arbitragem: Jean Pierre Gonçalves Lima (RS), auxiliado por Rafael da Silva Alves (RS) e Lucio Beiersdof Flor (RS)
Tempo Real: GloboEsporte.com, a partir das 20h45