Análise: livre e brilhante, Lucas Lima desequilibra San-São no meio-campo

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GloboEsporte.com

Alexandre Lozetti

Com desarmes, passes e finalizações, meia faz a diferença a favor do Peixe, com ajuda de coadjuvantes em boa tarde e contra um Tricolor “só” do jovem Luiz Araújo.

Lucas Lima. Esse é o motivo da vitória do Santos por 3 a 0 sobre o São Paulo , no Pacaembu. Caso um roteiro tivesse que ser escrito sobre os 90 minutos, seria preciso destacar a superioridade do time titular alvinegro sobre o mistão tricolor, o maior entrosamento creditado à Dorival Júnior, que aperfeiçoa uma maneira de jogar desde o ano passado, enquanto o argentino Edgardo Bauza se vira com seu curto elenco, a diferença de nível técnico entre os goleiros Vanderlei e Denis.

veja como foi a vitória do Santos sobre o São Paulo

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Mas entre tantos fatores, nenhum foi tão determinante quanto a presença do meia. Impossível dizer qual seria o placar ou mesmo o time vencedor se fosse um jogador comum em seu lugar.

Entre tantos termos em desuso ou uso abusivo no futebol atual, “volantes” e “meias” servem cada vez mais para definir times modernos ou retrógrados. Enquanto os jovens Artur e João Schmidt, volantes do São Paulo, tiveram ações limitadíssimas em campo, o Santos traduziu em ações, em menos de um minuto, o que se diz de um meio-campo moderno.

Lucas Lima, o meia, desarmou Schmidt e iniciou o contra-ataque. Thiago Maia, o volante, estava dentro da área para receber o cruzamento de Gabriel e finalizar. Denis errou, e Vitor Bueno fez. Foram apenas 13 segundos desde o roubo de bola até ela terminar no gol do São Paulo .

Apesar dessa diferença conceitual e prática no meio-campo dos times, coletivamente, não foi o passeio que muitos viram. O São Paulo não se desorganizou. Teve recomposição rápida para impedir novos contra-ataques do Santos, e duas opções para assustar Vanderlei: ou nas bolas paradas ou com Luiz Araújo, melhor jogador do Tricolor no clássico.

Candidato a substituto de Kelvin na Libertadores, o atacante driblou, finalizou, passou. Com óbvias falhas de quem tem 20 anos e foi titular pela primeira vez, mas com personalidade suficiente para ser, de fato, considerado opção para o setor ofensivo.

Pela direita, Araújo mostrou ser o atleta de características mais semelhantes às de Kelvin, com drible e capacidade de acompanhar o lateral adversário, mas tudo ainda carregado da imaturidade natural. Tanto que mesmo sendo o mais perigoso são-paulino em campo, saiu no segundo tempo. Bauza alega que sua ansiedade ainda não lhe permite 90 minutos de jogo.

O equilíbrio coletivo foi por água abaixo no meio-campo. Além de não participarem da armação, como faz Renato, por exemplo, os volantes tricolores permitiram que Lucas Lima recebesse a bola com liberdade durante todo o tempo (veja um compilado abaixo).

Pecado mortal. Assim, livre, ele usou a projeção de Victor Ferraz, em jogada que se repete há meses e terminou, dessa vez, no gol de Rodrigão, com falha de marcação de Caramelo no setor direito defensivo do São Paulo. Vale observar que no momento do gol, Michel Bastos e Ytalo tinham seus posicionamentos invertidos. Michel, homem da esquerda, estava centralizado, e seu companheiro marcava Lucas Lima quando o meia deu o passe para Ferraz passar pelas costas de Matheus Reis .

Marcação no segundo gol do Santos (Foto: Arte: GloboEsporte.com)Michel Bastos no meio, Ytalo aberto na marcação de Lucas Lima: inversão tricolor e gol

Enquanto o São Paulo, sem Ganso, teve o atacante Ytalo improvisado na armação – o jogador só levou perigo dentro da área, mas não conseguiu, por razões normais, ter o desempenho ou a característica de Ganso –, Lucas Lima continuou desequilibrando. Desde o momento em que impediu contra-ataque do rápido Luiz Araújo com um carrinho que raramente se vê em jogadores encarregados de criar, no campo de defesa, até o momento em que pediu para adiar a substituição – que ele mesmo havia pedido – para bater a falta e fazer um golaço.