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Caíque Toledo
Com certeza, se você procurar bem, há são-paulinos que defendem e confiam em Denis. Não falo nem sobre os que apenas pregam apoio enquanto ele está lá, já que precisamos dele, mas sobre os que acreditam, sim, que é um goleiro apto e capaz de defender nossa meta – pessoas além da própria esposa, é claro. Acredito, no entanto, que há um consenso entre os torcedores: o São Paulo chegou nas semifinais da Copa Libertadores da América apesar de Denis.
Aos fatos: o começo de ano foi sofrível. Para nós, para o time inteiro e para Denis. Com possivelmente a tarefa mais ingrata da história do São Paulo, o novo camisa 1 iniciou a temporada como substituto de Rogério Ceni e não foi bem. Acontece que o time se encontrou, melhorou, subiu de nível e hoje está firme na briga para ser o melhor time das Américas. Denis? Segue em baixa.
Ser o goleiro são-paulino depois de Rogério Ceni é a missão mais difícil que alguém pode pensar. Além de um grande goleiro, você acaba de ocupar o lugar do maior ídolo do maior clube do Brasil, dono de marcas inimagináveis. Defesas, gols, prêmios e recordes existiram aos montes, e a única coisa que Ceni deixou tão grande quanto seu legado foi a pressão para quem o substituísse.
No São Paulo desde 2009, Denis foi o goleiro que mais entrou no lugar de Rogério, normalmente com boas atuações e destaque. Foi nos dada toda a impressão de que, se não teriamos um substituto à altura, ao menos um arqueiro decente nos esperaria quando a era pós-Mito chegasse. A princípio, fomos enganados: o que vimos de Denis nesses primeiros seis meses como dono da meta tricolor foi um goleiro inseguro, com grossas deficiências, falhas (e bota plural nisso) e uma falta de humildade irritante. Foi, de longe, o pior dos mundos para o são-paulino em 2016.
Acontece que Denis enfrenta uma pressão tão grande pela primeira vez na vida — por escolha própria, é claro. Por exemplo, não basta ser o goleiro, é preciso também se arriscar em cobrar falta (que seja o melhor dos batedores nos treinos, mas, convenhamos, isso agora é desnecessário até para ele). Não basta ser quem vai ocupar o lugar do grande ídolo de um clube, é preciso ostentar a faixa de capitão. Se o mundo tricolor amava Rogério Ceni, ficou muito fácil odiar o substituto.
Voltando a Libertadores. Nessa pausa para a Copa América, o São Paulo tem duas prioridades bem claras: renovar o contrato do zagueiro Maicon e fazer novas contratações para melhorar seu elenco (confiamos que a diretoria esteja trabalhando nisso e esperamos boas notícias em breve). Mas é possível que cheguemos ao encontro do Atlético Nacional com um reforço inesperado: o próprio goleiro Denis.
Jogar em um nível competitivo menor no Campeonato Brasileiro, sem a pressão da Libertadores (e da torcida da Libertadores) e em jogos de menos importância pode ser fundamental para o goleiro. Já vimos uma segurança maior nos últimos jogos e um provável treino a mais em saídas do gol. Admitiu as falhas, é louvável. Renovar seu contrato (que acaba em agosto) até lá também pode dar uma outra cabeça ao arqueiro, que pode chegar aos confrontos decisivos com mais tranquilidade.
Depois da tempestade, veio a calmaria: o São Paulo se reencontrou, fez grandes jogos, mostrou um potencial escondido e chega às semifinais podendo brigar pelo tetracampeonato. Se uma pausa nos prejudica no embalo, pode nos dar um goleiro que não tivemos em 2016. Ideal seria que jogassemos todas as quartas-feiras seguidas até o título, de uma só vez, para evitar perder qualquer tipo de vibração e ímpeto (como aconteceu em 2006 e 2010, por exemplo). Mas temos que tirar o lado bom da coisa: a recuperação técnica e psicológica de Denis será o grande benefício desses 45 dias. Mais calmo, mais focado, mais feliz e em boa fase. Em paz com a torcida e consigo mesmo.
Denis não é Rogério Ceni. Nunca chegará perto de ser. Mas será nosso goleiro no real sonho de reconquistar a América. Sou daqueles que não o acha tão ruim quanto pintam, ainda que as falhas tenham vindo aos montes, mas reconheço que a camisa 1 foi nossa grande complicação esse ano. Julgo, então, que os próximos dias serão primordiais para nossa caminhada. Nosso maior reforço pode ser nosso maior problema até agora. Se chegamos até aqui apesar de Denis, pode ser que cheguemos ao Tetra por causa dele. É preciso acreditar.