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Caíque Toledo
O São Paulo anunciou na manhã desta terça-feira que Luiz Cunha deixou a vice-presidência de futebol do clube. Em nota oficial, o agora ex-diretor alegou problemas pessoais e foi elogiado pelo presidente Leco.
Direto ao ponto: Cunha fez um grande trabalho, mas é difícil de acreditar que sua saída não tenha nada a ver com questões internas. A apuração da ESPN conta que o dirigente foi contra acertar a contratação do peruano Christian Cueva antes de definir a permanência do zagueiro Maicon. O São Paulo vai gastar R$ 8,8 milhões com a vinda do ponta, enquanto o defensor tem contrato apenas até o final deste mês.
A avaliação de Cunha está correta. A permanência de Maicon é, com certeza, a maior prioridade do São Paulo atualmente (vale lembrar que Leco garantiu que o zagueiro ficaria no clube e, no dia seguinte, o estafe do jogador negou o acordo). O time precisa se reforçar, sim, mas de pouco adianta se perder o principal símbolo do ressurgimento do semifinalista da Copa Libertadores. Cueva é um nome bem-vindo, mas agora sabemos que não custou pouco – e, lembrando, jogará apenas o Campeonato Brasileiro.
A saída de Luiz Cunha é uma perda enorme ao São Paulo. Aparentemente unânime dentro do clube, foi um dos principais responsáveis pela recuperação da equipe nessa temporada. Sua contratação aconteceu justamente entre o empate contra o Trujillanos fora de casa e a goleada contra os venezuelanos no Morumbi. Coincidência?
Muito presente no Centro de Treinamento, Cunha ajudou a reerguer o clima dentro do São Paulo. Foi ele que contratou Pintado, talvez a principal causa para ‘virarmos a chave’ semanas atrás. Não eram poucos os jogadores que elogiavam a atuação da dupla. Assumiram após o caos do pior momento político da história do clube e deram conta do recado.
Ao cargo, o dirigente chegou com excelentes credenciais de Cotia: reergueu as categorias de base, conquistando diversos títulos nos últimos anos, como as inéditas Copa do Brasil e Copa Libertadores Sub-20. Se hoje temos um grande número de jovens integrados ao elenco profissional, Cunha é um dos nomes a ser valorizado.
Ponto incrivelmente positivo é que Cunha, são-paulino honrado e dentro do São Paulo desde 1974, sai do cargo sem atirar para os lados. Evita que qualquer problema seja instaurado no clube, colocando a instituição acima de qualquer detalhe. Quando assumiu, em abril, foi direto: ‘tivemos são-paulinos nadando contra o São Paulo’. Tem um pensamento moderno e precisamos valorizar um bom dirigente quando vemos, principalmente após tudo que passamos em 2015.
Se a avaliação de Cunha é mesmo que o São Paulo andou gastando mais do que precisava e que alguma contratação era desnecessária no momento, estou com ele: não se traz jogador sem a concordância do diretor de futebol. Confio em Gustavo Vieira e quero acreditar que sabe o que está fazendo. Depois de passarmos pela maior crise política e por grandes dificuldades financeiras, não podemos arriscar de maneira nenhuma. Seus outros pontos para a saída, como a dificuldade para criar uma integração maior entre dois setores e posições diferentes com outros diretores, precisam ser analisados para vermos se, de fato, há razão. É tempo de aproveitar a calmaria.
A saída do dirigente não é o fim do mundo ao São Paulo, mas o clube precisa se mexer o quanto antes para trazer um nome à altura. Luiz Cunha foi um dos grandes motivadores e executores da mudança de mentalidade recente e certamente sua rescisão será sentida dentro e fora de campo. Se tudo continuar a dar certo para esse time, tem sua grande parcela de contribuição.