Ídolo da torcida do rival do Tricolor, ex-atacante rechaça influência de traficante no principal título do clube e diz confiar na vaga contra o São Paulo e no bi do torneio
Por Mauricio Oliveira
GloboEsporte.Com
Aos 46 anos, Faustino Asprilla acompanha a nova era do Atlético Nacional de perto (no Brasil, ele jogou no Palmeiras e no Fluminense). Atacante do clube entre 1989 e 1992, ele não participou da campanha do título da Libertadores de 1989, mas já fazia parte do elenco pois havia acabado de ser contratado do Deportivo Cúcuta, com 19 anos.
Na última quarta-feira, o ex-atacante foi ao CT do Nacional em Guarne, a 35km de Medellín, viu o treino e participou de churrasco com os jogadores e a comissão técnica do time atual.
Asprilla é proprietário de fazenda de plantação de cana-de-açúcar, embora não goste de falar sobre o assunto, e comentarista de um canal de esportes em Tuluá, 330km ao sul de Medellín. Continua com andar claudicante, falando manso e devagar, como se estivesse com preguiça, e sem poupar altas risadas.
Depois de deixar a equipe do GloboEsporte.com esperando por uma hora e meia na cafeteria do CT do Verdolaga, ele apareceu sorridente para a entrevista.
– Onde estavam? Procurei vocês por toda parte – brincou.
O ex-atacante lamentou a paralisação na Libertadores, que quebrou o ritmo do Nacional, mas disse que ainda acredita no bi. E só perdeu o semblante sereno quando foi questionado a respeito da influência do narcotraficante Pablo Escobar no time campeão de 1989.
Em seguida à entrevista, Asprilla seguiu para a sede administrativa do Nacional para se encontrar com o presidente Juan Carlos de la Cuesta e prometeu ir a São Paulo para ver o primeiro jogo da semifinal da Libertadores, contra o São Paulo, quarta-feira, no Morumbi.
Leia abaixo a conversa com Asprilla:
O que aquela geração que conquistou o título da Libertadores de 1989 tinha de especial?
O que teve de mais especial foi o fato de ter sido o primeiro time colombiano a conquistar a Libertadores. Isso foi especial para todos os colombianos.
E qual era a grande qualidade daquela equipe?
Acho que o principal é que todos os jogadores tinham muita técnica, tinham uma gana muito grande de fazer história pela Colômbia, não só pelo Atlético Nacional. Dos 11 titulares que foram campeões, dez foram convocados para disputar a Copa do Mundo da Itália, em 1990. Por isso marcaram seus nomes. Primeiro o título da Libertadores, depois a classificação para a Copa, que era mais difícil de conseguir do que é hoje porque haviam menos vagas para a América do Sul.
Como é sua relação com os torcedores hoje, quase 30 anos depois?
É de muito carinho porque, apesar de não ter jogado, fazia parte do grupo e entrei na equipe logo depois. Foi o título mais importante da história do clube. Se ganhar de novo a Libertadores, os jogadores estarão para sempre na mente de todos os torcedores.
E as pessoas te param nas ruas para tirar foto, estamos nos tempos da selfie, pedir autógrafos…
Chegam, sim. Não por aquele time de 89, mas pela dupla de ataque que fiz com Aristizábal, quando conquistamos o título colombiano de 1991. As pessoas recordam muito essa conquista e pelo ataque que formamos.
Nessa época da Libertadores, os cartéis do narcotráfico, aqui em Medellín, em Cali, tinham uma influência muito grande na sociedade e também no futebol. Até que ponto Pablo Escobar (morto em 1993) teve participação nesse sucesso?
Isso é um falatório de outras equipes sem justificativa, porque o maior cartel aqui da Colômbia era o de Cali, e o América de Cali nunca conseguiu ganhar uma Libertadores. Perdeu quatro finais na época dos (irmãos Gilberto e Miguel) Rodríguez Orejuela (chefes do narcotráfico em Cali entre 1970 e 1995), então não tem nada a ver. Em campo são os futebolistas que determinam se estão à altura de ganhar um título ou não. São apenas histórias.
Nota da redação: O América de Cali foi vice-campeão da Libertadores em 1985, 1986, 1987 e 1996, derrotado por Argentinos Juniors (ARG), River Plate (ARG), Peñarol (URU) e River Plate, respectivamente. O Cartel de Cali começou a ser desmantelado com a prisão dos irmãos Orejuela em junho de 1995.
No livro “Pablo Escobar, Meu Pai”, o filho de Escobar, Juan Pablo, relata que ele recebia alguns jogadores do Atlético Nacional e da seleção colombiana para jogar futebol no campo que ele havia mandado construir no presídio La Catedral, em Medellín, no período em que ficou preso entre 1991 e 1992. Você chegou a jogar com ele?
Eu? Eu não, nunca joguei. Na época de Pablo… Pablo Escobar nunca foi proprietário deste clube. Era torcedor da equipe. Não era nem torcedor, era torcedor do Independiente de Medellín, o torcedor do Nacional era seu irmão (Roberto Escobar). Da minha época até hoje, nunca fiquei sabendo de nenhuma influência. Era mais um torcedor, o mais famoso acho.
Mas ele acompanhava jogos do Nacional, não?
Nunca vi ele em campo. Porque quando eu joguei no Nacional, ele estava na prisão. Nunca o vi no estádio nem em vestiário.
Este time atual pode repetir o feito daquele time de 89?
Acho que sim, esperamos que sim. Mas vai ser difícil porque a equipe vinha em um nível muito alto, mas houve a paralisação, os principais jogadores foram para a seleção disputar a Copa América (nos Estados Unidos) e na volta têm pouco mais de uma semana para treinar e entrar de novo em competição. E continuar no ritmo não é a mesma coisa de parar e ter de recomeçar.
Mas o que faz você acreditar que é possível?
Acredito porque o Atlético Nacional tem torcida, tem jogadores muito importantes que jogam também na seleção e que interessam a equipes da Europa, então podem ganhar a Libertadores.