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Alexandre Lozetti, Diogo Venturelli e Marcelo Hazan
Presidente reconhece importância de Ganso e Kelvin, mas confia no trabalho do treinador para bater Atlético Nacional. “O técnico me passa muita confiança”, diz
Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, foi eleito presidente em meio a uma das maiores crises da história do São Paulo. Assumiu o cargo no fim de outubro, logo após denúncias de corrupção derrubarem o antecessor Carlos Miguel Aidar. Menos de nove meses depois, tempo necessário para gestação de uma nova vida, ele comanda o clube em uma semifinal de Taça Libertadores.
Prestes a iniciar duelo com o Atlético Nacional, nesta quarta-feira, às 21h45, ele recebeu o GloboEsporte.com em sua sala no Morumbi, palco do primeiro duelo. Falou sobre a gestão de reconstrução do Tricolor, do “louco amor” pelo São Paulo e das semifinais, nas quais confia no trabalho do técnico Edgardo Bauza para suprir os desfalques de Paulo Henrique Ganso e Kelvin, lesionados.
A esperança dele, aliás, é de que a dupla retorne para a partida em Medellín, onde será disputado o segundo jogo, na próxima quarta-feira. Ganso se recupera de um estiramento na coxa direita, e Kelvin da mesma lesão, na coxa esquerda. Os outros trechos da entrevista exclusiva você confere nos próximos dias.
GloboEsporte.com: Como fica o presidente do São Paulo perto de uma semifinal? Imagino que quando se tornou presidente talvez não passasse pela cabeça que pudesse viver tão rapidamente uma situação tão positiva como essa.
Carlos Augusto de Barros e Silva: Com a intensidade natural do momento. Com uma imensa expectativa e uma grande dose de confiança. Tendo sorte, que é a única coisa que fará diferença, nós estaremos em condições de qualidade para poder enfrentar esse desafio tão grande, passar por ele e sonhar mais alto com a conquista da Libertadores.
Aconteceu mais rápido que você imaginava?
Certamente. Mas tanta coisa boa aconteceu rapidamente. Eu coleciono momentos bons, enfim, uma reiteração de fatos, situações e sentimentos que me convencem de que eu realmente estou tendo um quinhão de bênçãos que cobrem o São Paulo. Por isso, me fazem muito bem.
Mas imagino que essas bênçãos não caiam do céu. Quando analisam, vocês devem enxergar que fizeram por onde para chegar aqui. Na sua visão, o que foi definitivo para o São Paulo chegar onde chegou?
Certamente. Claro que não cai do céu. Não é sem querer e nem é porque nós não mereçamos, ao contrário. Nós nos organizamos e desenvolvemos todos os esforços e inteligência para dotar o São Paulo de condições corretas, de governança, administração, credibilidade e as coisas se desdobram, porque, de uma certa forma, se harmonizam. Boa administração, porque é correta, transparente, verdadeira e com pessoas efetivamente interessadas no bem do São Paulo. Isso é uma constatação que fiz, faço a cada momento e faço questão de exaltar: muito além do que imaginava. Tenho contado com uma contribuição extraordinária dos meus diretores e colaboradores. Vivendo a mesma paixão que tenho, fazem muito pelo São Paulo. Há uma energia muito boa. O São Paulo voltou a ter confiança. Ouço do torcedor que agora o são-paulino voltou a ter orgulho.
Fala-se entre torcedores e nós que acompanhamos o time de perto que, assim como em 2010, a interrupção da Libertadores não foi positiva ao São Paulo, por ter cortado o embalo da equipe. Você tem essa visão? E os desfalques tiram o seu otimismo, abalam a sua confiança, ou são mais um obstáculo a ser superado?
É um fenômeno que pode ser encarado como negativo a interrupção. Os desfalques não ocorreram em função da interrupção, poderiam ter acontecido em outras circunstâncias. Há eventualidades que a dinâmica traz, ainda mais em uma atividade de tanta intensidade. O que espero é que a interrupção e os desfalques não tenham força suficiente para nos tirar o desejo, o ímpeto e a atitude de buscar esse objetivo maior, de vencer essa fase e depois a final da Libertadores.
É isso o que o senhor espera acima de tudo: atitude?
Sem dúvida. Mas esse time tem atitude, a partir de um determinado momento começou a ter. De uma certa forma demorou para revelar resultado, mas começou quando tivemos um resultado adverso muito grande e falei com meus jogadores, dizendo: “Nós precisamos mudar nossa performance, atitude e comportamento, porque só assim conseguiremos avançar”. E isso acabou acontecendo. Os nossos jogadores deixaram de julgar com indiferença um mau resultado e passaram a sentir a dor que ele causa. E aí veio o trabalho que é muito importante da estrutura de futebol do São Paulo. A estrutura em si, com os homens que a compõem, e a nossa comissão técnica, que tem na sua chefia um homem (Edgardo Bauza) muito competente, sereno, seguro e discreto. Próprio das pessoas grandes. Ele é e tem demonstrado isso. Ele transmitiu ao São Paulo não só uma qualidade técnica inegável, como sobretudo uma atitude de que o São Paulo precisa sempre jogar de forma honrosa. De forma que, mesmo colhendo um mau resultado, o seu torcedor compreenda e respeite.
O São Paulo tem alguns elementos novos nesse ano que não tinha em 2015. Você falou do Bauza. Além dele, Lugano, Calleri, Maicon e Mena. Qual a importância deles para o São Paulo adquirir esse comportamento novo?
Nesse aspecto de personalidade, liderança e tudo… indiscutivelmente. Essas figuras que você citou… o Kelvin também é importante no contexto do novo São Paulo. E o novo São Paulo apresentou um dado de especial relevância, que vem sendo observado e não passa mais em branco, que é a nossa força de meio de campo. Esse setor era desacreditado e hoje conta com alguns jogadores, quatro ou cinco, de inegáveis qualidades pessoais, técnicas e ardor na disputa. Tudo isso cria no conjunto uma força maior.
E esses jogadores já estavam aqui…
Esses todos estavam aqui. Alguns até nem estavam e voltaram, como o João Schmidt.
Nesse momento de desfalques, mais do que nunca, a mística da Libertadores, do Morumbi, sem o principal jogador… é a hora de a torcida fazer a diferença?
É tudo isso, mas não é só. Estou seguro de que a falta de um jogador da relevância do Paulo Henrique Ganso certamente seria motivo para causar uma preocupação maior. Nada de exageros. Nada além do que aquilo que infelizmente ele não está. Mas vamos tratar de compensar. Nesse ponto, o técnico me passa muita confiança. As ausências de Ganso e Kelvin, as quais espero que sejam só nessa partida, mas que possam vir a jogar na semana que vem, em Medellín, não vão, por si só, causar uma grande perda, deficiência ou redução da nossa capacidade. A isso, você somar o “clube da fé”, o amor dessa torcida e o apoio que nós temos recebido, vai nos dar uma condição muito forte para ter uma boa performance.