Pragmatismo de Bauza guia SP, que inicia luta por 7ª final de Libertadores

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UOL

Guilherme Palenzuela

O São Paulo de 2016 tem uma identidade que, seis meses após a chegada de Edgardo Bauza, se vê clara: domina o espaço, e não a bola, raramente joga bonito e, fora do Morumbi, abre mão até de Paulo Henrique Ganso em fina forma para se defender. Identidade cunhada pelo técnico argentino, que apesar dos resultados inconstantes, levou o clube a uma semifinal de Copa Libertadores depois de seis anos e poderá levar à sétima final da história.

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Nesta quarta-feira (6), às 21h45, o São Paulo enfrenta o Atlético Nacional, da Colômbia, no Morumbi, no primeiro jogo do confronto. Sem Kelvin e Ganso, dessa vez por lesão, o time titular é mantido em segredo porque Patón não deixou a imprensa assistir aos treinos de segunda e terça-feira. A única certeza é que o São Paulo será escalado da forma mais simples possível para defender com eficiência antes de chegar ao gol adversário: assim ensinou, em seis meses, o pragmatismo de Bauza.

 

Mesmo com um desempenho abaixo do esperado no Paulistão e uma campanha que quase terminou em eliminação precoce ainda na fase de grupos da Libertadores, os elogios a Patón são muitos entre a diretoria do São Paulo. Fora de campo, o principal foi ter sido capaz de comandar o vestiário numa reviravolta positiva a partir de março, quando havia jogadores insatisfeitos, greve de silêncio e mau desempenho.

Dentro de campo, elogia-se a simplicidade nas soluções táticas. Patón se marca por identificar aquilo que funciona e o que não funciona no time, e decide pelo mais simples. É assim com Ytalo, que deverá jogar no lugar de Ganso, mas em função completamente diferente. Em vez de manter o estilo do time, com um meia armador, e colocar João Schmidt em função mais avançada, à frente dos volantes, ou até o meia Daniel, Bauza prefere escolher aquilo que acredita resultar em maior eficiência: um segundo atacante.

Defesa antes do ataque, espaço antes da bola

O São Paulo precisava de um empate na altitude de La Paz, contra o The Strongest, na última rodada da fase de grupos, para avançar às oitavas. Dado o retrospecto positivo dos bolivianos em casa, o empate se mostrava improvável. Bauza, então, decidiu tirou Ganso, tido como melhor do time, e escalou Wesley como titular. Segurou o 1 a 1, terminou com o zagueiro Maicon no gol e foi às oitavas.

“Existe uma onda que diz que os únicos técnicos que servem são aqueles que arriscam e vão para a frente completamente, e para mim o futebol não é isso”, disse Bauza, em entrevista concedida ao UOL Esporte em abril. A onda acompanha o ciclo vencedor do futebol espanhol, da Copa do Mundo ao sucesso absoluto de Guardiola, no pleno exercício do domínio da bola. Bauza não tem nada a ver com isso.

A palavra que Patón gosta para definir o futebol que pratica é “equilíbrio”. Fala que é preciso defender com 11 jogadores e atacar com dez e prefere sempre as duas linhas de quatro jogadores quando não tem a bola no pé, como aplica desde que chegou ao São Paulo. Não se importa em dominar a posse de bola e prioriza dominar os espaços do campo, sem sustos para a marcação.

Estabilizador de um vestiário com menos conflitos

Bauza viveu situações específicas em seis meses de São Paulo que teve que lidar com problemas no vestiário. Alguns pequenos, outros nem tanto. O principal deles veio em fevereiro, quando um grupo de jogadores do qual faziam parte Paulo Henrique Ganso e Michel Bastos, segundo membros do clube, liderou um pacto de silêncio: não haveria entrevistas enquanto não se resolvesse uma pendência de pagamentos atrasados de direitos de imagem e premiações. Diego Lugano foi contra, o São Paulo perdeu dias depois para o The Strongest no Pacaembu, e o zagueiro uruguaio cooptou Jonathan Calleri e Denis para seu lado.

A cisão causou problemas no vestiário. Parte dos atletas, que havia comprado a ideia do pacto, se viu traída por Lugano. Outra parte deu o braço a torcer e concordou que o uruguaio teve a atitude certa pois não poderiam se esconder após uma derrota tão inesperada. Enquanto a diretoria quitou os atrasos e fez reuniões individuais com os idealizadores do pacto, Bauza aplicou panos quentes. Como treinador, não criticou nem puniu aqueles que defenderam o ato de rebeldia.

A diretoria do São Paulo elogia Bauza pela conduta nos conflitos internos. Entende que outros treinadores muitas vezes exigem autonomia para resolver da maneira que preferem, enquanto o argentino até aqui sempre preferiu esperar um posicionamento da direção antes de agir de qualquer forma.

FICHA TÉCNICA
SÃO PAULO X ATLÉTICO NACIONAL

Data: Quarta-feira, 6 de julho de 2016
Horário: 21h45
Local: Estádio do Morumbi, em São Paulo (SP)
Árbitro: Mauro Vigliano (ARG)
Auxiliares: Juan Belatti (URU) e Gustavo Rossi (URU)

São Paulo: Denis; Bruno, Rodrigo Caio, Maicon e Mena; Hudson e João Schmidt (Carlinhos); Thiago Mendes, Ytalo e Michel Bastos; Calleri. Técnico: Edgardo Bauza.

Atlético Nacional: Armani; Bocanegra, Sánchez, Henríquez e Farid Díaz; Mejía, Pérez e Guerra; Marlos Moreno, Ibargüen e Borja. Ténico: Reinaldo Rueda.