Desde o dia 18 de maio, quando se classificou heroicamente no Horto, diante do Atlético-MG, o São Paulo sabe que as semifinais da Libertadores seriam disputadas nos dias 6 e 13 de julho, contra o Atlético Nacional, melhor time da fase de grupos. A possibilidade de planejar esses 49 dias não evitou, porém, que o time chegasse à semana mais importante com graves problemas.
Ganso e Kelvin, dois dos principais responsáveis pela criação ofensiva, se machucaram nas últimas semanas e não jogarão. Mena, que já tinha problemas clínicos antes, voltou precocemente da Copa América,cortado pela seleção chilena por estiramento na coxa, mesma lesão que atingiu o meia, o atacante, e também os volantes Hudson e Wesley, que, ao lado do lateral-esquerdo chileno, ainda não têm presença confirmada na semifinal do Morumbi.
Lá atrás, o técnico Edgardo Bauza afirmou que tiraria os titulares dos jogos nos últimos 15 dias antes da partida. Depois reduziu pra 10, 7… O elenco curto e os desfalques por lesões impediram que ele pudesse preservar, por exemplo, Paulo Henrique Ganso.
Mas por que tantos estiramentos? Tantos problemas musculares? Azar ou negligência?
Consultada, a comissão técnica respondeu por meio da assessoria de imprensa:
– O São Paulo encarou o Campeonato Brasileiro com importância semelhante à Libertadores. Os atletas que lesionaram seus músculos entre maio e início de junho têm previsão de retorno para os jogos finais. Ganso e Kelvin, que se lesionaram mais recentemente, descansaram alguns jogos antes, e têm menos minutos jogados do que os demais. Estavam sendo cuidados. Há um trabalho de fortalecimento muscular antes de todos os treinos e jogos para prevenções de lesões. E outro de recuperação dos atletas depois de quaisquer atividades. O controle do desgaste é feito diariamente. Esporte de alto rendimento tem o imponderável.
De fato, a ideia era chegar à semifinal bem colocado na tabela do Brasileiro. Isso foi dito logo depois a classificação. A comissão técnica também alega que o padrão de jogo adotado neste ano, com maior intensidade, volume, desgasta além do que os atletas estavam habituados.
O GloboEsporte.com elaborou um pequeno relatório com quantidade de jogos e minutos (sem considerar acréscimos) de cada um dos 27 jogadores utilizados nas 11 partidas disputadas entre 22 de maio e 29 de junho, período em que a Libertadores parou e o São Paulo teve intenção de se preparar.
Em seguida, as lesões que o departamento médico tratou nesse mesmo intervalo. Veja:
GOLEIRO
Denis reinou absoluto. Disputou as 11 partidas e ficou todos os 990 minutos em campo.
LATERAL-DIREITO
O titular Bruno foi um dos que mais jogaram durante a pausa da Libertadores. Entrou em campo 10 vezes, ou como titular ou substituindo um companheiro ao longo da partida. Seu reserva, Mateus Caramelo, passou boa parte do tempo se recuperando de uma lesão na coxa direita. Quando voltou a ser relacionado, a diretoria liberou Auro, que oscilou entre a lateral e a ponta, para acertar seu empréstimo para o Sport.
Bruno: 10 jogos / 748 minutos
Caramelo: 3 jogos / 130 minutos
Auro: 4 jogos / 209 minutos
ZAGUEIROS
Um dos principais jogadores da equipe e contratado em definitivo na última terça-feira, Maicon chegará à semifinal da Libertadores como o titular que mais jogou durante a paralisação da Taça Libertadores. Só não participou de um dos 11 jogos do São Paulo nesse hiato. Lugano entrou mais em campo do que o outro titular, Rodrigo Caio, que passou quase um mês com a seleção brasileira e só participou de 12 minutos do amistoso contra o Panamá. Ainda assim, havia opção para rodar. Lucão só fez duas partidas e Lyanco nem sequer pisou no gramado.
Maicon: 10 jogos / 900 minutos
Lugano: 7 jogos / 630 minutos
Rodrigo Caio: 3 jogos / 270 minutos
Lucão: 2 jogos / 180 minutos
Lyanco: não jogou
LATERAL-ESQUERDO
As lesões do convocado Mena e do experiente Carlinhos tornaram Matheus Reis soberano no Campeonato Brasileiro. Ele é o único jogador de linha do São Paulo a ter entrado em campo em todas as rodadas até agora. O chileno já deixou o clube rumo à sua seleção para a Copa América com problemas médicos. Na estreia do torneio, lesionou a coxa direita e ainda luta para se recuperar em tempo de enfrentar o Atlético Nacional. Carlinhos, um dos que mais se machucam no elenco, por sua vez, está finalmente livre de uma lesão na coxa esquerda.
Matheus Reis: 11 jogos / 917 jogos
Carlinhos: 2 jogos / 100 minutos
Mena: não jogou
VOLANTES
João Schmidt e Thiago Mendes jogaram praticamente o mesmo tempo, já que Hudson, antigo capitão do São Paulo, passou praticamente o período inteiro tratando uma lesão mais grave na coxa, que afetou o tendão do músculo. Como Wesley, opção para o setor, também se lesionou, Edgardo Bauza teve que recorrer ao jovem Artur.
João Schmidt: 9 jogos / 698 minutos
Thiago Mendes: 9 jogos / 696 minutos
Wesley: 4 jogos / 268 minutos
Artur: 2 jogos / 153 minutos
Hudson: 2 jogos / 117 minutos
MEIA CENTRALIZADO
O titular Ganso perdeu duas dessas 11 partidas quando foi convocado para o lugar de Kaká, na seleção brasileira. Não disputou nem um minuto sequer da Copa América Centenário. No São Paulo, entrou em mais da metade dos jogos, e teve poucos substitutos: Ytalo, Lucas Fernandes, Rogério – emprestado ao Sport – e Daniel se alternaram. O peruano Cueva, que também pode jogar aberto, estreou contra o Fluminense, na última quarta-feira, e teve bom desempenho.
Ganso: 7 jogos / 512 minutos
Ytalo: 9 jogos / 440 minutos
Lucas Fernandes: 4 jogos / 132 minutos
Cueva: 1 jogo / 90 minutos
Rogério: 4 jogos / 57 minutos
Daniel: 1 jogo / 14 minutos
MEIAS ABERTOS
Michel Bastos e Kelvin são os titulares. O primeiro passou toda a primeira parte do período sem Libertadores em tratamento de uma lesão na coxa direita. O segundo teve o mesmo problema agora. Embora tenha sido poupado duas rodadas antes de estourar, contra o Vitória, Kelvin participou de seis jogos seguidos anteriores à lesão, e depois jogou mais dois consecutivos. Não suportou. Para seu lugar, na semifinal, o Patón poderá recorrer ao jovem Luiz Araújo ou improvisar jogadores como Carlinhos, Wesley e Ytalo.
Centurión: 9 jogos / 645 minutos
Kelvin: 8 jogos / 578 minutos
Michel Bastos: 5 jogos / 360 minutos
Luiz Araújo: 4 jogos / 118 minutos
CENTROAVANTE
O titular, nesse caso, está mais descansado do que o reserva. Calleri teve contratemposenquanto a Libertadores parou. Além de ter sido poupado em alguns jogos, foi liberado para tirar o passaporte europeu e não enfrentou o Atlético-PR porque seu melhor amigo faleceu na Argentina. Também cumpriu suspensão duas vezes, uma por expulsão e outra por três cartões amarelos. Está inteiro para enfrentar os colombianos, enquanto Alan Kardec disputou mais jogos.
Alan Kardec: 9 jogos / 563 minutos
Calleri: 4 jogos / 338 minutos
LESÕES SOFRIDAS E TRATADAS DURANTE A PARADA DA LIBERTADORES
Ganso: no dia 1º de junho, foi convocado para substituir o cortado Kaká na seleção brasileira, na Copa América Centenário. Viajou no dia seguinte, e apenas treinou no grupo comandado por Dunga. Voltou ao Brasil no dia 14, após a eliminação na primeira fase. No último domingo, não foi relacionado por Edgardo Bauza em razão de dores no músculo adutor da coxa. Na quarta-feira, ele ficou no banco e entrou a 30 minutos do fim, tempo suficiente para umestiramento no músculo posterior da coxa direita (diferente, portanto, do que preocupava dias antes). O camisa 10 não vai disputar as semifinais da Libertadores.
Mena: o lateral-esquerdo sentiu uma contusão no dia 9 de maio, no penúltimo treino antes do primeiro jogo contra o Atlético-MG. Saiu de campo para fazer tratamento e, com precárias condições, foi titular nas duas partidas (dias 11 e 18). Chorou muito no apito final com a classificação garantida. No dia seguinte, viajou para se apresentar à seleção chilena, e logo na estreia da Copa América Centenário, no dia 6 de junho, teve um estiramento na coxa direita. Cortado, voltou ao Brasil para se tratar no São Paulo, e ainda não voltou a treinar com o resto do grupo. A comissão técnica tem esperança de contar com ele na próxima quarta-feira.
Carlinhos: desde que chegou ao São Paulo, o lateral-esquerdo sofre com sequência de lesões. No dia 9 de maio, ele vivia a expectativa de voltar ao time após oito partidas afastado, em razão de um estiramento no músculo posterior da coxa esquerda. Porém, deixou o treino com nova lesão, na mesma região. Passou todo o período sem Libertadores no Reffis, e voltou a campo no último domingo, dia 25 de junho. Está apto, por enquanto, a jogar contra o time colombiano. No total, entre os problemas na perna esquerda, foram 19 partidas de ausência.
Hudson: logo no primeiro jogo pós-classificação na Libertadores, a derrota por 2 a 1 para o Internacional, no dia 22 de maio, o volante, então capitão do time, sofreu um estiramento no músculo adutor da coxa esquerda. O tendão foi afetado, e a recuperação se estendeu até o último domingo, 25 de junho, quando ele entrou no segundo tempo da derrota para o Santos. Entretanto, voltou a sentir dores e não tem presença confirmada na semifinal de quarta-feira.
Wesley:esteve em campo nos quatro primeiros jogos do São Paulo depois que a Libertadores foi paralisada para a Copa América, mas precisou ser substituído aos 15 minutos contra o Figueirense, no dia 1º de junho, por conta de um estiramento no músculo reto femoral da coxa direita. Um problema delicado, porém menos grave que os demais, deve fazer com que o volante volte a treinar ao lado dos companheiros na manhã desta sexta-feira.
Caramelo: mesmo com a pausa da Libertadores tendo se iniciado no dia 19 de maio, só jogou em 15 de junho, diante do Vitória, depois que se recuperou de trauma na coxa direita.
Kelvin: disputou seis jogos seguidos durante a parada da Libertadores, foi poupado no dia do 15 de junho, no triunfo por 2 a 0 sobre o Vitória, voltou para mais duas partidas e sofreuestiramento no músculo posterior da coxa esquerda, quando arrancava para tentar uma finalização diante do Sport, no dia 23. É outro que não poderá enfrentar o Atlético Nacional.
Michel Bastos: machucou a coxa direita no dia 4 de maio, ao fazer o único gol do São Paulo na derrota por 3 a 1 para o Toluca, que classificou a equipe para as quartas de final da Libertadores. Com tratamento intensivo, participou dos dois jogos contra o Atlético-MG, pela fase seguinte, nos dias 11 (entrou no segundo tempo e fez o gol da vitória) e 18 de maio (foi titular e saiu na etapa final). Com a vaga na semifinal assegurada, parou para tratar com mais calma um estiramento na coxa direita e só voltou a atuar no dia 15 de junho, contra o Vitória.
Lucas Fernandes: o jovem meia de 18 anos teve a pior das lesões. No treino do dia 14 de junho, o ligamento cruzado anterior de seu joelho esquerdo se rompeu no CT da Barra Funda. Ele foi operado e iniciou, na última quinta-feira, a recuperação no Reffis. Só deve voltar a jogar no ano que vem. Seu problema, ao contrário da maioria, não foi muscular.
Será que a solução é o Velhugano que está ultrapassado uns 200 anos, tomou uma caneta do Gabi Gol fez a falta que originou o gol e prometeu pegar o garoto, no fim foi expulso e gozado pelos meninos do Santos.
Para mim, o mau planejamento é visível. A diretoria sequer botou fé que o time chegaria tão longe na Libertadores – o contrato curto do Maicon junto ao Porto, com vencimento inicial para 30 de junho, é um exemplo.
No Campeonato Paulista, de importância questionável, deveriam ter usado muito mais os garotos da base. O Paulista serve, em primeiro lugar, para observar quem tem condição de compor o elenco principal.
Além disso, é preciso analisar o quê acontece no departamento médico. Ou os profissionais não estão à altura da grandeza do clube, ou erram feio nos métodos aplicados. Porque, mesmo com o rodízio dos jogadores principais e a pausa de quase dois meses, são muitos casos de estiramento muscular – e ainda estamos só no meio da temporada.
Para mim, parte é mau planejamento. O time sabia que ia disputar várias competições porém se manteve com um plantel pouco numeroso, cheio de garotos de Cotia sem experiência que fica difícil lançar muitos de uma vez. Depois do desmanche do ano passado (outro erro de planejamento, já que nos prejudicou nos campeonatos e não refrescou a situação financeira), pouco contratou, E também parte é o reflexo de uma realidade financeira apertada no clube, que impediu a vinda de maiores reforços na janela de Dezembro. Mas que melhorou com as premiações da Libertadores e dinheiro de luvas da TV.