Menos de um ano após ver colombiano sair para dirigir o México, Tricolor revive situação com chamado da Argentina a Patón. Cenários, porém, têm distinções claras
Por Marcelo Hazan – GloboEsporte.Com
Bauza é alvo da seleção argentina e pode sair do São Paulo (Foto: Rubens Chiri/saopaulofc.net)
A possibilidade de perder seu técnico para uma seleção não é nova para o São Paulo. O convite da Argentina para conversar com Edgardo Bauza poderá fazer o clube reviver situação de menos de um ano atrás: em outubro, Juan Carlos Osorio trocou o Tricolor pela seleção do México.
O São Paulo deu aval para a viagem de Bauza à Argentina, onde ele vai se reunir com a AFA nesta sexta-feira para discutir a possibilidade de assumir o cargo. Outros treinadores também serão consultados, como Miguel Ángel Russo. Ou seja: é uma espécie de entrevista de emprego.
Na véspera da semifinal da Taça Libertadores com o Atlético Nacional, no dia 5 de julho, o presidente Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, admitiu ao GloboEsporte.com que seria difícil manter o técnico em caso de um convite da seleção argentina.
O caso de Bauza lembra o de Osorio. Mas há diferenças importantes. Veja abaixo a comparação:
TREINADOR X GESTÃO
Osorio deixou o São Paulo rachado com o ex-presidente Carlos Miguel Aidar. O colombiano não confiava no dirigente, que renunciou dias depois sob denúncias de corrupção. Aidar se intrometia no trabalho do técnico e chegou a mandar mensagem criticando seu rodízio nas escalações (“Pare de inventar”).
Bauza, por sua vez, está em sintonia com a gestão do São Paulo. Ele é visto como um parceiro do clube. O treinador concordou em usar tecnologia no departamento de futebol, tornou real o aproveitamento dos garotos de Cotia no elenco profissional e deu uma identidade de jogo ao time. Esses pontos considerados fundamentais pela diretoria foram colocados em prática no dia a dia do São Paulo graças ao treinador.
O ponto de divergência se deu na contratação de reforços. Bauza mostrou insatisfação com as perdas do elenco (saíram Ganso, Calleri e Kardec). Ele fez cobrança pública por novos jogadores e condicionou sua permanência à chegada de novos atletas.
E é aí que mora a maior ironia: na mesma semana em que o São Paulo atendeu aos pedidos de Bauza, o técnico recebeu o chamado da Argentina, e seu futuro é incerto.
SELEÇÃO DE SEU PAÍS
Osorio nunca escondeu o sonho de dirigir uma seleção em uma Copa do Mundo. Quando teve a oportunidade, juntou o péssimo ambiente no São Paulo ao antigo desejo e aceitou o convite mexicano.
Bauza, por outro lado, recusou propostas das seleções do Paraguai e da Costa Rica, segundo Leco. Agora, porém, o chamado é do seu país. A possibilidade de assumir a Argentina mexe com o treinador, e o São Paulo sabe que não há como competir com isso.
SEM CRISE, NEM MATA-MATA À VISTA
Osorio saiu do São Paulo em meio ao caos político causado pelas denuncias contra Aidar. Ele se despediu no dia 7 de outubro, o ex-presidente renunciou no dia 13, e o Tricolor tinha as semifinais de Copa do Brasil contra o Santos, nos dias 21 e 28 do mesmo mês.
Com Doriva, o técnico substituto, o time foi eliminado após duas derrotas: 3 a 1 no Morumbi, e 3 a 1 na Vila Belmiro, partida que marcou a despedida de Rogério Ceni de jogos oficiais. O goleiro sofreu uma lesão no ligamento do tornozelo direito. Depois, ganhou festa de despedida no Morumbi lotado.
Agora, o Tricolor não tem jogos de caráter decisivo pela frente e está apaziguado politicamente. Eliminado nas semifinais da Taça Libertadores, o time é o nono colocado do Brasileirão, com 22 pontos. A única turbulência recente se deu com o rompimento da diretoria com as torcidas organizadas, atitude motivada pelo episódio de violência depois da primeira semi contra o Atlético Nacional, no Morumbi.
E AGORA?
O substituto de Osorio foi Doriva, última escolha de Aidar antes de deixar a presidência. O técnico foi confirmado no dia 7 de outubro e demitido praticamente um mês depois, no dia 9 de novembro.
Milton Cruz, então, assumiu o time na reta final do Brasileiro e conseguiu a vaga no G-4. Profissional com 22 anos de clube e acostumado à função de tapar buracos dos treinadores na história recente, ele foi demitido no fim de março.
Agora, caso Bauza acerte com a seleção da Argentina, o São Paulo teria duas opções imediatas: Pintado, que trabalha na comissão técnica, ou André Jardine, técnico do sub-20, antes de decidir se contrataria um novo comandante para o cargo.