Do pioneirismo ao abandono: o futebol feminino no SPFC

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ESPNFC.com

Pedro Cuenca

Você sabia que o São Paulo já teve uma equipe de futebol feminino e que as meninas davam show em campo? Talvez sim, pois os jogos passavam em TV aberta, mas acredite quando eu digo que grande parte da torcida desconhece esta história.

Nesta semana, o futebol feminino virou alvo de muita discussão. Primeiro, pela boa campanha na fase de grupos, enquanto os rapazes da modalidade tropeçavam em fracos adversários. Depois, após a semifinal, quando foram eliminadas pela Suécia nos pênaltis. No fim, uma unanimidade: ninguém valoriza o futebol feminino no Brasil.

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Em 1997, se aproveitando da boa campanha nos Jogos Olímpicos do ano anterior, em Atlanta, decidiram criar equipes de futebol feminino e um forte Campeonato Paulista. São Paulo, Corinthians, Santos, Portuguesa e Palmeiras, entre outros, disputaram aquele torneio pioneiro. As partidas eram, em sua maioria, disputadas no Estádio do Ibirapuera. Algumas eram transmitidas até mesmo em TV aberta.

 

Gazeta Press

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Kátia Cilene foi destaque do São Paulo, mas não conseguiu fazer com o que clube seguisse no projeto

 

O São Paulo se aproveitou para montar uma verdadeira seleção. Sissi, Kátia Cilene, Andreia Formiga estavam presentes naquele forte time que ganhou o torneio com facilidade. Todas elas eram constantemente chamadas para a seleção brasileira. O tratamento era bem parecido com o time masculino do Tricolor, inclusive treinando no CT da Barra Funda, uniforme semelhante, patrocinadores e tudo mais.

Aí veio a Copa do Mundo de 1999. Todos esperavam que o Brasil chegasse até a final, por mais difícil que fosse. O título não era uma ilusão, era totalmente possível. No fim, a terceira posição na competição frustrou muita gente, principalmente aqueles que esperavam que o torneio impulsionasse ainda mais o futebol feminino pelo país.

Após a competição, o São Paulo foi se desmanchando. Perdeu jogadoras para outros clubes brasileiros e de fora do país, se enfraquecendo, até que encerrou o projeto em 2001. A desculpa dos dirigentes, claro, foi a de sempre: falta de retorno financeiro. De pioneirismo ao abandono em poucos anos.

Em 2015, até tentaram voltar com o projeto no São Paulo. Mas está aí o Campeonato Paulista rolando e o Tricolor não está presente, diferente de equipes como Corinthians, Santos, Portuguesa e Juventus, que se arriscaram a dar oportunidades para as meninas atuarem nos gramados daqui, mesmo que a torcida e a imprensa não se importem muito com elas.

Porque o São Paulo, assim como muitos outros clubes brasileiros, mantém uma postura retrograda nessa questão. Preferem gastar milhões com jogadores medianos para ruins e perdem a chance de investir em grandes jogadoras, formando assim uma liga competitiva de futebol feminino. Depois, os espectadores não entendem porque as meninas não ganham torneios ou conhecem poucas atletas em campo.

O Tricolor, antes pioneiro nessa questão, está ficando para trás. Virou mais um refém do preconceito com o futebol feminino. Se você procurar no clube, vai encontrar poucas meninas jogando futebol. É ainda mais difícil achar uma base nessa modalidade, enquanto milhões são gastos anualmente revelando jogadores em Cotia.

E por que não dar espaço para elas também serem lapidadas lá no CT Laudo Natel? A primeira morte do futebol feminino no São Paulo Futebol Clube foi exatamente por falta de renovação após as saídas das grandes jogadoras. O clube, teimoso que é, insiste em seus erros.

E assim seguimos apontando os dedos quando a seleção brasileira perder, mas sem perceber que o apoio não existe nos clubes, nas federações e em nós mesmo, que só pensamos em Copa do Mundo ou Olimpíada, ignorando campeonatos estaduais ou nacionais de futebol feminino.

 

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As meninas do São Paulo atropelaram o Santos no Campeonato Paulista de 1997