De Vitor Birner
São Paulo 1×2 Juventude
A agremiação, rodada após rodada, jogo depois de jogo, tem menos pegada.
Tropeçou contra o Atlético, mas mostrou união no gramado. Diante do Botafogo, apesar de ainda lutar pelo resultado favorável, coletivamente foi menos intensa.
A força de grupo contra o Internacional desmoronou. O Juventude, que acima de tudo atuou como time, aproveitou a desunião do favorito em campo e conseguiu o resultado positivo.
No São Paulo houve jogadores que correram e tentaram ganhar.
Mas isso foi secundário. Enquanto os esforços forem individuais, em vez de com reciprocidade, a raça de alguns será muitas vezes superada pela garra de times piores tecnicamente e com maior força coletiva.
O de Antonio Carlos, por isso, hoje, comemora o feito no Morumbi.
Como foram posicionados
Ricardo Gomes optou pelo 4-1-4-1 com flutuação ao 4-2-3-1. O quarteto no meio de campo teve Kelvin na direita, Cueva do outro lado, além de Thiago Mendes e Hudson na mesma linha.
João Schmidt. em frente aos zagueiros e laterais, podia ter um dos colegas de posição mais recuado para formarem a dupla de volantes, se o Juventude quisesse e conseguisse fazer a transição de bola com maior quantidade de atletas do que tentou no Morumbi.
O favorito, por saber que tem qualidade técnica muito melhor, iniciou com Bruno e Carlinhos nas laterais. O técnico alterou os jogadores nas duas porque pretendia otimizar a criação. O treinador exigiu constante apoio dos substitutos de Buffarini e Mena.
Antonio Carlos montou o 4-4-2 e o ferrolho para investir no contra-ataque e acima de tudo marcar.
O meio de campo teve Bruninho e Vacaria como volantes, Wallacer na direita e Felipe Lima do lado oposto. Roberson e Hugo, os atacantes, completaram o time que atuou com todos os jogadores atrás da linha da bola tal qual necessário no Morumbi.
Os números contraditórios que mostram
Posse 71% x 29%; toques 495 certos e 46 equivocados x 1o3 e 39 incompletos; cruzamentos 50 x 7; escanteios 9×3.
As estatísticas foram melhores que o futebol da agremiação da qual se exige a classificação. Finalizou 16 vezes e acertou míseras duas. O Juventude necessitou oito para quatro terminarem nas redes ou no goleiro.
Metade das tentativas e o dobro de acertos. A precisão é, no futebol, muito mais importante que a quantidade.
É óbvio que o elenco de quem atua na elite é mais qualificado tecnicamente, .
A prática negou a a teoria. O time que permaneceu duas e vezes mais tempo com a bola, fez quase 5 vezes mais passes, obteve 3 vezes mais tiros de canto e impressionantes 7 vezes mais levantamentos na área – o que mostra a dificuldade e o repertório pequeno -, foi incapaz de transformar tais números em grandes oportunidades para ganhar.
Foi melhor no que é indispensável
Há noites em que qualquer equipe tropeça por falta de sorte ou porque, especificamente naquele jogo, rendeu menos que o padrão com o qual atua. A sequência de resultados do São Paulo no próprio estádio indica que a agremiação tem dificuldade para se impor e ganhar dentro do Morumbi.
Ou se equivoca nas finalizações, ou no último toque, ou na marcação por cima, ou na recomposição, ou o goleiro toma gols que outros da posição conseguem impedir como aconteceu muitas vezes na temporada.
Foi o que houve diante do time da serra gaúcha no primeiro momento que conseguiu o contra-ataque. Lance na direita do sistema de marcação, tal qual fizera o Botafogo no gol. Buffarini atuou naquela tarde e diante do Juventude foi o Bruno.
Roberson, na área, finalizou no canto direito, onde era possível Denis intervir, mas o goleiro não foi capaz. Aconteceu noutros momentos importantes como na fase de classificação contra River Plate e nas oitavas-de-final da Libertadores,
O gol foi consequência da dificuldade para recomposição do sistema de marcação, da cobertura do apoio do lateral, do problema técnico do goleiro, do acerto simples do Juventude, e acima de tudo da falta de ambição do semifinalista no torneio continental.
A cobertura naquele setor é mais simples do que o time faz parecer. Nos piores momentos do início de Bauza, raramente tomava gols na direita.
Atlético, Botafogo, Inter e Juventude, diante do São Paulo, construíram desse lado o resultado positivo.
Eis a grande questão. a correria pode ser apenas ‘enrolação’ no futebol.
Há jogadores crédulos que o esforço individual é o que devem oferecer para agremiações que os contratam. Se enganam porque no esporte onde a paixão goleia a razão, atleta que não sente resultados negativos e positivos, que pouco se incomoda, é incompleto como profissional.
Nesse São Paulo, isso acontece
Os atletas correram diante do Juventude, mas não uns pelos outros.
Foram esforçados por protocolo ou inércia ao invés de quererem muito ganhar. Mais que entrosamento, faltou união dentro do gramado.
Maicon criticou a postura do time na entrevista à beira do gramado. O ex-Porto, além de Cháves, autor do gol em cabeceio preciso e difícil após assistência de Carlinhos, são mais guerreiros que o lateral e Michel Bastos, mas a cobrança da torcida deve ser ao coletivo.
Internamente os próprios atletas devem exigir mais dos colegas.
Isso é parte da formação de time competitivo, se realmente há jogadores incomodados com o que o zagueiro classificou como falta de “intensidade”. Apontar o dedo para x ou y é inventar solução ineficaz. O treinador deve colocar no banco quem rende pouco. Há alguns candidatos.
Pulo a polêmica
Houve pequena melhora no rendimento após João Schmidt sair porque Michel Bastos entrou na esquerda e permitiu ao Cueva atuar mais ao centro do quarteto e ao lado de Thiago Mendes. Fou pouco para render as oportunidades que explicariam o volume de jogo.
O neo-pênalti que Roberson chutou no meio do gol foi daqueles tradicionais apenas em nosso país, mas concentrar os comentários nisso seria deixar de ressaltar a raça e a união do Juventude, e ofuscar aquilo que o favorito, blasé na postura, necessita incorporar para a construção do coletivo forte.
Momento testa mais que jogadores
A diretoria tem a ver com o que ocorre no futebol; necessita se mexer e exigir que os funcionários entreguem dentro do gramado o apego à camisa que afirmam nas declarações aprendidas em treinamentos de mídia. Se o time mantiver a falta de união, será mostra de incapacidade dos gestores.
A construção
A implementação de qualquer sistema de jogo exige apoio recíproco e esforço durante os jogos. Isso facilita a melhora coletiva de posicionamentos e preenchimento de lacunas, que proporciona mais acertos técnicos, e ambos geram grandes resultados.
No futebol são necessários pilares para o erguimento de times fortes. No São Paulo, os que há parecem insuficientes para fornecer estabilidade e regularidade em qualquer torneio.
Ficha do jogo
São Paulo – Denis; Bruno, Maicon, Lyanco e Carlinhos; João Schmidt (Michel Bastos); Hudson (Luiz Araújo), Thiago Mendes, Kelvin (Gilberto) e Christian Cueva; Andres Chavez
Técnico: Ricardo Gomes
Juventude – Elias; Neguete, Klaus, Ruan e Pará; Vacaria (Wanderson), Felipe (Lucas), Bruninho e Wallacer; Roberson e Hugo (Cajon)
Técnico: Antônio Carlos Zago
Árbitro: Wilton Pereira Sampaio (GO-Fifa) – Assistentes: Fabrício Vilarinho da Silva (Fifa) e Fabiano da Silva Ramires (ES)