A eleição para presidente do São Paulo é em abril de 2017, mas os bastidores políticos se agitam desde já. A invasão ao CT da Barra Funda, no último sábado, teve consequências neste aspecto do clube, em crise dentro e fora de campo. Oposição e situação trocam críticas públicas em um jogo político que o GloboEsporte.com detalha os personagens abaixo.
Invasão e agressão
Centenas de torcedores invadiram o CT da Barra Funda no sábado, quando agrediram jogadores e roubaram objetos do clube. A principal organizada do clube prometia a invasão durante a semana nas suas redes sociais. Situação e oposição se dividiram sobre o episódio.
A diretoria fez apuração interna e concluiu que não houve facilitação de funcionários, masnotificou a Polícia para saber o motivo pelo qual viaturas do Choque saíram do local perto do momento da invasão. Na véspera do protesto, o Tricolor solicitou reforço do Choque e recebeu sinal positivo. A oposição, por outro lado, questionou a falta de segurança e a ausência de Leco no CT, pois inaugurava um busto em homenagem ao falecido presidente Juvenal Juvêncio em Cotia. O compromisso estava marcado previamente e foi adiado para o último fim de semana antes mesmo do anúncio do protesto.
“Ato político”
Leco questionou a legitimidade do protesto e a consequente invasão ao CT. Em entrevista coletiva após as agressões e roubos, falou do momento ruim do time e ponderou:
– O cunho político é nítido porque, lamentavelmente, encontramos nas redes sociais manifestações de figuras da oposição que criticam a administração e tentam desestabilizar. Fazem referências de apoio, de que foi certo, foi bom… o que é algo impensável e inacreditável que o São Paulo tenha pessoas em seu seio que aplaudam isso (invasão).
Quem é essa oposição?
Newton do Chapéu, candidato derrotado por Leco na última eleição de outubro de 2015, por 138 votos a 36 – 19 votaram branco –, é um dos oposicionistas. Ele foi contra o voto “sim” que aprovou reforma no estatuto do clube, em assembleia de sócios.
Depois da invasão de sábado, o São Paulo divulgou nota com o seguinte trecho: “isso inclui a devida investigação contra os financiadores e apoiadores do ato, infelizmente fomentado por figuras que recentemente participaram de festejos com uma das torcidas presente”. Há imagens de Newton nas redes sociais em festas de uma das organizadas que estava na invasão (veja ao lado).
Newton, por sua vez, escreveu a seguinte mensagem depois da invasão: “Como membro da oposição, afirmo: somos radicalmente contra atos que venham a agredir/denegrir a instituição SPFC, e esperamos que as autoridades públicas façam seu trabalho e esclareçam todos os fatos”.
Outro oposicionista é Alex Bourgeois, ex-CEO contratado e demitido nas gestões de Carlos Miguel Aidar (renunciou em outubro de 2015) e Leco. Ele é alinhado ao megaempresário Abílio Diniz. Na gestão de Aidar, foi contratado para implantar plano de profissionalização e agradar o empresário, numa possível relação benéfica para os dois lados. Não houve sucesso e ele caiu. Após ajudar no processo da renúncia do ex-presidente, retornou com Leco e caiu pelo que o clube considerou quebra de hierarquia e vazamento de informações confidenciais à imprensa.
Bourgeois faz coro às críticas ao diretor Gustavo Vieira e ao próprio Leco. Nas redes sociais, considerou “muito estranho” e questionou um seguidor sobre se ele acreditava que o São Paulo havia pedido reforço na segurança ao Choque na véspera do protesto. O clube divulgou um e-mail com a solicitação feita e respondida no dia 26 de agosto.
Abilio Diniz fazia oposição a Aidar e, por tabela, se alinhou a Leco até a renúncia do antigo mandatário. Divergências com o novo presidente (leia-se principalmente a própria demissão de Alex Bourgeois e de Milton Cruz) o levaram de volta à oposição. Gustavo e Ataíde Gil Guerreiro, antigo vice e atual diretor de relações institucionais, também são alvos do empresário, que bancou auditoria da PricewaterhouseCoopers para fazer um pente fino nas contas do clube. Ele e Leco trocaram críticas públicas e em reuniões do Conselho Deliberativo.
Em seus textos no blog do portal UOL, Diniz faz seguidas críticas a Leco. A mais recente delas foi justamente à declaração do presidente de que a invasão foi um ato político. Em abril, a assessoria dele admitiu ter doado dinheiro para a maior organizada do clube antes do Carnaval.
Gênio e culpado: Gustavo Vieira
Boa parte da oposição do São Paulo e até torcedores comuns apontam suas críticas pela atual fase do time a Gustavo Vieira de Oliveira, diretor-executivo remunerado e principal responsável pelas decisões no departamento de futebol. Agora alvo preferencial, o dirigente foi muito elogiado há poucos meses.
Com a premissa financeira em primeiro lugar, ele iniciou o ano sob a seguinte meta orçamentária: reduzir a folha salarial do elenco em R$ 800 mil e vender 8 milhões de euros (cerca de R$ 30 milhões). Os valores foram atingidos com as saídas de Ganso e Calleri, mas também houve investimentos para reposições.
Sem dinheiro, Gustavo montou o time semifinalista da Libertadores com poucos recursos. Mena, Maicon, Calleri, Kelvin e Lugano vieram sem custos. Com exceção do uruguaio, todos viraram titulares de Edgardo Bauza. Kieza, contratado por R$ 4 milhões, jogou duas vezes e foi ao Vitória em troca do mesmo valor. O malabarismo do dirigente foi exaltado.
Mas veio a bola de neve: eliminação da Libertadores, saídas de Ganso, Kardec, Calleri, Rogério (pediu para ser negociado) e Centurión (alvo de críticas constantes), e a troca no comando técnico de Bauza por Ricardo Gomes. A atuação do clube na janela internacional ficou aquém do esperado: contratou Cueva, Maicon, Buffarini (pedido de Bauza perto de sair) e Chaves, o que diminuiu consideravelmente a qualidade e as opções ofensivas do elenco.
Entre o fim das saídas e a busca por peças de reposição sobraram poucos dias, uma falha de planejamento. A consequência é um novo time ainda em formação, com uma comissão técnica diferente, e um elenco bem menos criativo do que no primeiro semestre.
A crise técnica do time colocou o gestor em evidência. No jogo político, criticar Gustavo significa por consequência também bater em Leco. Isso porque ele é a figura mais forte do futebol e um dos pilares na gestão do presidente. No momento, ele recebe pressão de torcedores e da oposição para sair, movimento que não é encampado pelo presidente. Nesse contexto, a figura do ex-diretor Luiz Antônio da Cunha, que divergiu de Gustavo e mostrou sua insatisfação a Leco quando estava na direção, é lembrada pela oposição. Cunha, no entanto, diz ter mais amigos ligados à situação.
Nome de consenso
Em meio à guerra política dos bastidores, Marco Aurélio Cunha tem bom trânsito nos dois lados. O conselheiro e coordenador de futebol feminino da CBF ficou neutro na última eleição. Na semana passada, na véspera da invasão, visitou o CT autorizado por Leco, atitude amplamente elogiada por torcedores e aprovada pelos jogadores. A opinião pública tem ótima aceitação ao nome do ex-dirigente e constantemente pede seu retorno ao Tricolor. Pesa a seu favor a lembrança da participação como superintendente na última grande fase vitoriosa, de 2005 a 2008.
Nome da discórdia
Alinhado com a maior organizada do clube, o ator Henri Castelli divulgou um vídeo convocando para o protesto de sábado que culminou na invasão ao CT. Na gravação, ele cita administração corrupta. Leco falou em processá-lo, atitude criticada nas redes sociais. Torcedores citam a má fase do time e as pessoas que invadiram o local de treinos dos atletas como exemplos de assuntos que mereceriam maior atenção do presidente, no lugar do vídeo do ator.
Nova peça no tabuleiro
A maior organizada do clube agora quer entrar na política. A informação é do presidente da torcida, Henrique Gomes, o Baby, que estava na invasão ao CT, no último sábado, e aparece nas imagens xingando alguns jogadores e conversando em tom de apoio com outros.
– A partir dessa data (sábado), a Independente entra diretamente na política do clube. A gente vai reivindicar o que é certo. A gente quer saber para onde está indo o dinheiro, os ganhos com os jogadores, quem ganha e quem deixa de ganhar. Quem está sendo lesado é o clube (…) Até abril (data da eleição), vamos querer o melhor candidato para presidente. Vamos entrar na política do clube, discutir as propostas de todo mundo. Até abril estaremos na política do clube. Os protestos vão continuar, sim – disse o presidente da torcida, cujos principais alvos são Leco e Gustavo, os mesmos criticados por alas da oposição.
Baby e mais três integrantes da organizada prestaram depoimento na Polícia Civil na última segunda-feira. Os quatro foram intimados a depor sobre a invasão e depois liberados. A delegada Margarete Barreto, do Drade (Delegacia de Polícia de Repressão e Análise aos Delitos de Intolerância Esportiva), conduz a investigação.
Em janeiro, Leco admitiu que financiava as organizadas e citou medo dos jogadores. Em julho, o São Paulo anunciou rompimento com as torcidas. No último domingo, no Morumbi, o presidente chegou a dizer que não estava rompido com as organizadas. Mas depois voltou atrás, com a explicação de que não há qualquer relação para romper novamente, ou seja, que essa etapa foi vencida.
O que vem por aí
Leco pinta como o candidato da situação para a eleição de abril. A oposição se ampara nos erros da atual diretoria para ganhar relevância, mas se desencontra por um candidato. Não há um nome de consenso considerado forte o suficiente no momento e ex-presidentes como Fernando Casal de Rey inicialmente não se mostram dispostos a disputar o pleito.