Em décimo primeiro no Campeonato Brasileiro, a quatro pontos da zona de rebaixamento, a má fase do São Paulo se explica em boa parte pela desordem nas finanças. O clube teve mais de R$ 170 milhões em prejuízos em 2014 e 2015, as dívidas aumentaram, faltou dinheiro para investir em reposições para atletas caros como Rogério Ceni, Luís Fabiano e Alexandre Pato. Não tem jeito. A má gestão ora ou outra chega ao campo. Carlos Augusto Barros e Silva, o Leco, atual presidente, quer mostrar aos são-paulinos que já começou a reverter o cenário. Pelo menos, a começar, pela desordem financeira.
Adilson Alves Martins, diretor financeiro do São Paulo, vai apresentar a situação das finanças ao Conselho Deliberativo na noite desta segunda-feira (2). Vai também pedir autorização para renegociar dívidas e alongar os prazos de pagamentos delas entre três e cinco anos. O dirigente conversou com ÉPOCA por telefone e adiantou os números, auditados pela PricewaterhouseCoopers (PwC), referentes ao período de janeiro a julho de 2016. Eles atualizam – e quase sempre corrigem – as previsões que o departamento financeiro calculou no orçamento produzido antes de a temporada começar.
O São Paulo arrecadou mais do que imaginava. O financeiro esperava R$ 196 milhões em receita, e o clube conseguiu R$ 280 milhões. As vendas de atletas são a principal explicação para tanto dinheiro a mais. Foram R$ 92 milhões em arrecadação bruta com as transferências – como o time não tinha 100% dos direitos econômicos dos jogadores, deixou R$ 25 milhões irem para os bolsos de empresários, portanto a receita líquida ficou em R$ 67 milhões. A televisão, as bilheterias e o marketing completam o faturamento.
Do lado das despesas, o São Paulo também gastou mais do que imaginava. O orçamento previa R$ 150 milhões, e o real chegou a R$ 196 milhões. Quase a metade, R$ 90 milhões, representa pagamentos de salários e direitos de imagem de atletas. Os R$ 25 milhões perdidos com intermediações de transferências entram nessa conta.
A sobra, receitas menos despesas, é de R$ 85 milhões. E há mais. O São Paulo renovou antecipadamente o contrato de direitos de transmissão com a TV Globo pelo período entre 2019 e 2024 e, por isso, recebeu R$ 60 milhões em luvas, o nome que se dá no mercado esportivo ao bônus por assinatura. Por motivo contábil esse dinheiro não é computado como receita, mas ele chegou ao caixa. Chegou e já foi embora. O departamento financeiro usou o excedente para reduzir o endividamento do clube e aliviar o caixa para 2017.
As dívidas do São Paulo somaram R$ 251 milhões em dezembro de 2015 – o valor calculado pelo clube e auditado pela PwC difere um pouco do encontrado pelo Itaú BBA por distinções no método contábil, mas não há nada errado nisso. Do total, R$ 77 milhões equivalem a dívidas tributárias, impostos não pagos. Essa pendência foi parcelada por meio do Profut, a lei federal instituída em 2015 que permitiu aos clubes renegociar e alongar os impostos devidos por até 240 meses. Está resolvida. Basta não deixar de pagar as parcelas mensais para não perder as certidões negativas de débito.
A outra parte foi reduzida. O clube devia R$ 170 milhões a bancos, atletas e fornecedores em dezembro de 2015. Uma parte do dinheiro excedente da conta positiva de janeiro a julho e das luvas recebidas da Globo foi usada para reduzir esse endividamento. Alves Martins afirma que R$ 55 milhões foram pagos e que o débito em aberto hoje é de R$ 115 milhões. “A gente entende que o São Paulo só tem condições de ter perspectivas melhores se equacionar a dívida”, diz o diretor financeiro. Na noite desta segunda ele vai tentar o aval do conselho são-paulino para alongar essas dívidas remanescentes em até cinco anos. A jogada consiste em esticar os prazos para pagamentos e liberar dinheiro para reinvestir no futebol.
Esse é um processo que exige mão firme. Se as despesas saírem de controle e voltarem a ser maiores do que as receitas, os prejuízos reaparecem, e a jogada desanda. “A combinação que o presidente tem comigo é que quando ele vai comprar um jogador, se por acaso a conta não fechar, tem que vender outro jogador”, conta Alves Martins. “Se contratarmos um jogador para pagarmos um salário a ele, temos que pegar algum outro profissional e emprestar”. É o caso de Reinaldo, que foi cedido à Ponte Preta em fevereiro. O São Paulo, perseguido pelos maus resultados, ameaçado por torcedores organizados e alvo de uma guerra política nos bastidores, precisa de boas notícias no lado financeiro para se reorganizar.