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José Mourinho não é conhecido como Special One à toa. Dono de duas Uefa Champions League e um dos técnicos mais vencedores das últimas décadas, ele está mais acostumado à vitória do que à derrota, e raramente admite a superioridade de um adversário. Exceção feita ao dia em que ele cruzou com Rinaldo Francisco de Lima.
Se você não lembra dele pelo nome, talvez se recorde do apelido: trata-se do ex-zagueiro Nem, bicampeão paulista pelo São Paulo e campeão brasileiro em 2001 pelo Atlético-PR.
O pernambucano do Recife defendeu o Braga, de Portugal, por quatro anos, entre 2003 e 2007, após passar pelo Atlético-MG. Durante este período, disputou partidas épicas contra o Porto de Mourinho, e caiu nas graças do treinador após um triunfo inédito sobre os “Dragões”, com atuação destacada do defensor brasileiro, conhecido por seu estilo “xerifão”.
“Uma vez jogamos contra o Porto e ganhamos por 2 a 1, foi a primeira vez na história que o Braga venceu no campo deles. Aí quando desci ao vestiário, o Mourinho estava conversando com o presidente do meu time, o Antônio Salvador, que é meu amigo até hoje. Até hoje às vezes eu nem acredito no que aconteceu nesse dia”, conta Nem, ao ESPN.com.br.
“Apertei a mão do Mourinho e disse que acompanhava o trabalho dele fazia tempo, que era apaixonado pelo estilo de futebol que o Porto dele jogava. Daí ele elogiou a partida que eu fiz, me olhou e falou: ‘Eu queria um jogador como você, estou tentando convencer o presidente aqui, mas ele não quer te deixar ir embora (risos)'”, lembra.
Nem diz que ficou lisonjeado com o interesse, mas garantiu que ficaria no Braga.
“Eu fiquei meio sem jeito, mas aí falei pro presidente: ‘Pode ficar tranquilo que ainda vou ficar aqui um bom tempo’. Era um timaço, com jogadores muito bons, mas eu estava com 32, já nos últimos anos da carreira, não tinha como me levar”, relata.
Atualmente em início de carreira como treinador, com passagem recente pelo Hercílio Luz-SC, Nem voltaria a encontrar Mourinho algum tempo depois desta partida. Mostrando muito apreço pelo brasileiro, o Special One lhe prometeu até mesmo algo que muitos técnicos iniciantes tentam, mas poucos conseguem.
“A gente se encontrou em Londres, um dia em que fomos jogar contra o Tottenham e ele estava comandando o Chelsea. Falei pra ele, na lata: ‘Meu sonho é virar treinador’. Ele respondeu: ‘Pode deixar comigo. No dia em que você precisar, é só entrar em contato comigo e pode vir’. E eu vou, é claro. Já estou agendando para fazer o mais rápido possível um estágio com ele”, revela o pernambucano, hoje com 43 anos.
Nem já pode até mesmo dirigir equipes na Europa, já que possui o certificado da Uefa (União das Federações Europeias de Futebol) para trabalhar no “Velho Continente.
“Fiz o curso da Uefa em Portugal e tive aulas com o Carlos Queiroz e o Jesualdo Ferreira, que foi meu treinador no Braga por seis anos. Depois, fiz estágios com o Muricy Ramalho e o Geninho no Brasil. Estudei por muitos anos para seguir essa carreira e não quero fazer como a maioria faz. Quero começar de baixo, num clube pequeno, aprendendo e subindo aos poucos até conquistar meu espaço”, ressalta.
Nem conta que também é fã do estilo de Diego Simeone, do Atlético de Madri, e que quer ser um comandante lembrado por fazer suas equipes jogarem de maneira ofensiva, mas também aguerrida, lembrando seus tempos de defensor viril.
“Quero fazer meu time jogar com a minha cara. Vai ser aguerrido, um espalho do que eu fui, porque graças a Deus ganhei muita coisa deixando sangue e suor em campo. Quero um time pegador, que não desiste nunca, e que irá brigar para vencer sempre todos os jogos”, afirma.
“Eu adoro ver o Simeone à beira do campo, xingando, berrando, é a mesma coisa comigo. Fiz isso a vida inteira. Sempre fui capitão das equipes pelas quais passei e sei que o lance é assim mesmo: tem que gritar e xingar para fazer o time ser competitivo, até porque o boleiro entende bem essa linguagem (risos)”, ensina.
“Mas tem que lembrar também que não pode só querer ficar copiando as coisas lá de fora e esquecer nossa essência. Tem que ser um futebol com vontade, para ganhar, ir para cima, e quero resgatar isso. Quero montar times aguerridos, mas que não serão defensivos. Meu time vai ter que brigar para ganhar sempre”, assegura.
Nem também garante outra coisa: nunca usará terno à beira do campo, como costuma fazer José Mourinho, uma das suas grandes inspirações na carreira de técnico.
“Terno nunca (risos)! Não combina comigo. Sou mais estilo Telê Santana, Felipão… Gosto de agasalho ou uniforme do clube, até porque também costumo correr à beira do gramado ao lado dos jogadores, gritando e vibrando”, conta, antes de encerrar.
“Quando os caras me veem correndo que nem um louco ali do lado, acho que eles pensam: ‘Se o cara com 43 anos tá correndo assim, tenho que correr também’ (risos)”.