Solitário no Brasil, Chávez quer fazer 15% dos gols de Luís Fabiano no SP

432

UOL

José Eduardo Martins e Tales Torraga

Resultado de imagem para chavez spfc

A vida de jogador de futebol é cheia de contrastes. Mesmo depois de ouvir 50 mil pessoas gritarem o seu nome, é possível voltar para casa e se sentir sozinho.

Publicidade

Tal situação acontece com o atacante do São Paulo, Andrés Chávez. Longe da família, o argentino sente um pouco do isolamento. Bom no trato com os companheiros, ele mostra o seu lado mais introspectivo na hora de falar da rotina no Brasil.

“É a minha primeira vez fora do país e é difícil ficar longe da família. Estou sozinho aqui e tenho uma filha [de 2 anos]. Então, tento vê-la sempre. Por isso, trago-a para cá ou tento ir para a Argentina”, contou o atacante em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

Nestas viagens pessoais, o jogador, de 25 anos, também pensa no que vive dentro de campo. O jejum de gols no São Paulo, de dez partidas em branco, por exemplo, pesou em suas reflexões.

“É um pouco complicado também porque juntam as coisas difíceis, como a falta de gols. Eu ficava em casa, prefira ficar lá em vez de sair para comer. Mas, é normal, o futebol é assim. Encaro o dia a dia e sigo adiante”, afirmou o argentino

Chávez, que trabalhou de auxiliar de pedreiro, ainda mantém os sonhos de criança. Talvez, por isso, além de desejar tirar uma foto ao lado de Maradona e de ganhar uma camisa de Neymar, ele espera seguir os passos dos grandes ídolos. Curiosamente, no clássico com o Corinthians (dia 5), em que acabou com a seca de gols, ele ouviu a torcida do Tricolor gritar o nome de Luís Fabiano. Tal fato, não irritou o são-paulino. Pelo contrário, serviu para motivá-lo a repetir os feitos do antigo dono da camisa 9 e ser uma espécie de Martín Palermo do Morumbi. O ex-jogador argentino fez 235 gols pelo Boca Juniors.

“Palermo também é um ídolo meu. Sou torcedor do Boca desde criança. Então, outro dia quando me perguntaram se eu me compararia a Luís Fabiano, um dos maiores goleadores do São Paulo [o terceiro com 212 gols], eu não pensava nisso. Tomara que eu tenha 10 ou 15% dos gols que ele contribuiu ao São Paulo, o mesmo se diz do Palermo com o Boca. É algo incrível, ele bateu todos os recordes, tem uma mente goleadora única. Por isso, a gente o tem como ídolo”, disse Chávez, que tem oito gols em 21 jogos pelo São Paulo.

E, para não se levar pelas críticas e voltar a sentir um pouco do gosto de seu país, Chávez tem uma receita bem típica da Argentina.

“É preciso muito mate. Despejo os problemas e, quando saio do clube, penso que é um trabalho, um jogo. Não se pode colocar o futebol como algo de vida ou morte. É necessário ter limite com isso. As pessoas ainda não entendem, as torcidas pensam que você é jogador todo o tempo. Tento ficar tranquilo, sempre tratando todos com respeito, para jogar e dar tudo para me sair bem”, ensinou o argentino.

Confira abaixo e no vídeo mais alguns trechos da entrevista exclusiva de Chávez ao UOL.

Zagueiros brasileiros

“Aqui é um pouco mais tranquilo. É um jogo mais distraído, não há tanta pressão em todos os setores do campo. Na Argentina, mesmo se um time está em primeiro e outro em último, eles vão batalhar até morrer.  Mas isso te ensina e te faz crescer como jogador. Estou gostando desta passagem por São Paulo”.

Argentinos no Brasil

“Sim, há muitos jogadores argentinos que estão aqui ou passaram pelo Brasil. Falar de um brasileiro na Argentina não dá. É um jogo diferente, acho que nos adaptamos melhor. O argentino é mais cabeça solta, acho que se adapta mais rápido em qualquer lado. A diferença é essa. O Brasil é um mercado muito importante para o jogador. Tomei a decisão de vir a um clube grande como São Paulo porque ele abre portas na Europa. Então, se você perguntar a um jogador argentino se ele quer jogar em um clube grande aqui no Brasil, é difícil que ele não tenha vontade. O futebol brasileiro cresceu e é um mercado muito bom”.

Futuro no São Paulo

“Obviamente, preciso respeitar o contrato até junho do ano que vem. É terminar o ano da melhor maneira. O jejum de gols me impacientou um pouco, mas estou tranquilo. A gente sempre tenta fazer o melhor para si mesmo e para o clube. Estou tranquilo para terminar o ano e passar as férias da melhor maneira. Aí, quero ver em 2017 o que vai ser melhor para nós e para o clube. Isso está nas mãos do clube e do Boca. O São Paulo tem a opção de compra e isso vai ser visto depois das eleições [presidenciais do São Paulo, em abril].”

Jejum de gols

“Foi difícil para mim, pessoalmente. A negação e a bronca foram comigo, não com a torcida. A torcida quer que os jogadores estejam bem. Quando eles não estão bem, é isso o que ocorre. A verdade é que estou contente com a torcida tricolor, eles me tratam de uma maneira ótima. Alguns gostam do jogador, outros não gostam e isso é normal. A pressão foi minha. A cabeça começa a jogar contra, você parece que não vai marcar mais. Estou feliz de ter terminado, ainda mais em um clássico como o Corinthians.”

Torcedores argentinos são mais fanáticos

“Sim, isso não se compara. Os argentinos são fanáticos. O fanatismo existe em todos os lados, mas na Argentina isso é quase como uma coisa à parte, quando se olham os jogadores e o jogo em si, é bem diferente. É minha primeira experiência [no exterior] e está sendo muito linda. Estou gostando muito e aproveito o dia a dia.”

Comunidade estrangeira

“Contato não tenho, mas conheço vários companheiros que jogaram comigo e que estão aqui no Brasil, tenho a oportunidade de contar com Buffa [Buffarini], que está aqui no São Paulo também. Com os estrangeiros daqui do São Paulo, eu também me dou bem, como é o caso do Cueva e do Mena. Isso acontece muito também pelo idioma. A verdade é que eles me receberam de boa maneira. Eu também sou um tipo dado, me sinto cômodo, e também cruzei com outros jogadores daqui, como Pratto e Wanchope. Quero também deixar minha marca aqui como eles.”

Música

“Sim, escuto todo tipo de música. Gosto sim das músicas brasileiras, são muito boas. Quando cantam também as torcidas, elas parecem todas iguais, já que não entendo o que elas falam, mas eu trato de me adaptar. Mas quando venho treinar, no carro escuto cumbia argentina. Isso não se pode mudar, mas não me incomoda, eu vou me adaptando da melhor maneira.”

Comida

“Aqui no Brasil não muda muito. Apesar de gigante, a cidade é muito parecida com Buenos Aires. São Paulo é uma cidade linda, tranquila e com muita gente. A comida é bastante parecida. Nisso não há muito problema. Agora, churrasco não. É impossível trocar o argentino.”

Rotina

“Depois do treino da manhã, eu durmo. Depois, eu me junto com os colegas para sair e comer, ir a um shopping e passear, para conhecer um pouco da cidade. Aqui há muitos shoppings e coisas. Vou conhecendo um pouco e os lugares são tranquilos.”

Seleção argentina

“Impossível não pensar na seleção. Sendo jogador, a possibilidade sempre existe. Seria o sonho máximo estar na seleção, sei que há muitos jogadores, há muita competição entre os que estão e os que não estão. O importante é estar 100% para realizar este sonho um dia, ser convocado para a seleção seria o máximo.”