Pato traça meta de retornar à Seleção em 2017 e aposta no sucesso de Ceni

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Atacante se livra de lesões e resgata confiança. Em entrevista exclusiva, diz ser grato a Tite por bronca após pênalti perdido no Corinthians e revela que quase voltou ao SP

Por Ivan Raupp – GloboEsporte.Com

Alexandre Pato é considerado uma das maiores revelações do futebol brasileiro nos últimos anos. Surgiu de forma arrasadora com apenas 16 anos no Internacional e foi cedo brilhar no Milan. Mas após o bom começo na Itália, o atacante sofreu com muitas lesões e não evoluiu como poderia. Voltou ao Brasil de forma precoce e agora, no Villarreal, vai crescendo aos poucos e ressurgindo no futebol europeu. Livre das lesões, Pato recuperou a confiança que havia perdido e está feliz consigo mesmo. Mas falta uma coisa: retornar à seleção brasileira, de onde está fora desde 2013. Essa é grande meta do jogador de 27 anos para o ano de 2017.

Visivelmente mais maduro, Pato concedeu longa entrevista ao GloboEsporte.com e falou sobre todos os assuntos. Disse ser grato a Tite pela bronca que tomou após perder um pênalti com cavadinha e contribuir para a eliminação do Corinthians na Copa do Brasil de 2013, e afirmou que tem boa relação com o técnico e espera voltar a trabalhar com ele na Seleção. Revelou que, antes de acertar com o Villarreal, por pouco não foi negociado em definitivo com o São Paulo, onde passaria a usar a camisa 10. Contou que já teve desentendimentos com Rogério Ceni e disse que acredita muito no sucesso do ídolo como técnico. Influenciado pela namorada rubro-negra, revelou também que tem o desejo de um dia jogar pelo Flamengo. Relembrou histórias de bastidores de um Milan cheio de estrelas como Ronaldo, Ronaldinho e Kaká. E desmentiu notícias do passado de que vivia saindo com o R10 em Milão.

Alexandre Pato (Foto: Ivan Raupp)Alexandre Pato com sua camisa 10 do Villarreal em casa (Foto: Ivan Raupp)

A seguir, veja a entrevista com Alexandre Pato na íntegra:

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GloboEsporte.com: Começo te perguntando como está a vida no Villarreal?
Alexandre Pato: Estou bem, está sendo um bom começo de temporada. Demorei alguns meses para me adaptar, mas agora estou bem adaptado. Quando você sai do futebol brasileiro e vem para o europeu, tem que se adaptar. Estou feliz, entrosado com o grupo, que tem me ajudado bastante. Tenho feito ótimos jogos e espero fazer bem essa metade de temporada que falta, quem sabe com um título importante.

Você sempre jogou em grandes clubes e viveu em grandes centros. Como está sendo viver em um lugar mais tranquilo como este?
O Villarreal é um clube muito bem estruturado, com CT organizado. A estrutura é bacana, você tem tudo o que precisa. É um clube que está ali para chegar à Champions, para ficar entre os quatro primeiros do Espanhol. Ficar em primeiro é muito difícil, mas nunca se sabe. Para um jogador vindo do Brasil, é o clube ideal para jogar, se destacar, ser visto com bons olhos. Está bom. O Villarreal tem me dado tudo que preciso para jogar e espero retribuir esse carinho.

Como está essa vida em família? Planeja casar, ter filhos?
Está bem, a gente vive bem. Eu e Fiorella resgatamos dois gatinhos, temos a (cachorra) Panda. Temos vivido sempre em casa, vendo muita série de TV. Aqui é uma vida muito tranquila. Eu praticamente passo o dia em Villarreal e volto para cá umas 17h (Pato mora em Valência com Fiorella). Janto cedo, no máximo 19h, depois vou para a cama. Está bom, estou aproveitando mais ou menos a cidade.

O desempenho do time está dentro do que você esperava?
O começo foi meio diferente do que eu esperava, porque eu cheguei com um técnico (Marcelino García) e uma comissão e logo em seguida mudou (foram demitidos). Mas estou bem, feliz com a chegada do Fran Escribá. Ele tem feito um bom trabalho. A gente tem feito bons treinos e jogos. Estamos ali em cima lutando para quem sabe jogar uma Champions na temporada que vem. Temos um confronto muito difícil agora pela frente na Liga Europa, contra o Roma. Temos grandes coisas a fazer.

E o vídeo do pequeno Manuel todo feliz por ter tirado sua figurinha? Mostra que já é ídolo por aqui, né?
O Manuel me surpreendeu muito. Eu estava vendo minha rede social, aí me marcaram em um vídeo e fui ver. Ele começou a falar, a falar, e quando vê ele tira minha figurinha. Ele começou a falar umas coisas que me emocionaram bastante. Coloquei nas redes sociais para mostrar o carinho que é. Uma criança, um torcedor do Villarreal, me recebendo e me elogiando, mesmo eu estando aqui há pouco tempo. Para mim foi emocionante.

O Villarreal é um clube para você jogar por alguns bons anos ou uma ponte para voltar a uma equipe daquelas chamadas gigantes?
Eu saí do Brasil com o objetivo de jogar no Villarreal e me destacar aqui. Quero fazer coisas boas, ganhar títulos. Tem quatro times fortes – Barcelona, Real Madrid, Sevilla e Atlético de Madrid -, mas o Villarreal pode surpreender. Temos uma grande equipe, jogadores que jogam juntos há muito tempo, e estou tentando fazer o meu melhor. Me adaptei mais rápido do que imaginava. Os colegas de trabalho estão sendo muito importantes, e meu rendimento depende deles também. Estou bem e espero render cada vez mais. Vejo que neste ano estou muito mais participativo no time. Tenho jogado mais pelo meio, às vezes aberto, e estou participando muito mais do que estava no Brasil. Estou feliz com meu rendimento, o treinador também, e a torcida tem me dado carinho. Espero chegar ao fim da temporada com um objetivo atingido. Se não der o título, quem sabe a vaga na próxima Champions.

alexandre pato, villarreal (Foto: REUTERS/Umit Bektas)Pato tem seis gols em 24 jogos pelo Villarreal (Foto: REUTERS / Umit Bektas)

Pato, você sempre foi um nome muito badalado, acostumado aos holofotes. Hoje, talvez por você estar em um lugar mais calmo, está sendo menos badalado do que já foi. Sente um pouco de falta disso, de ser assunto constante? Ou é melhor?
Saí do Inter, fiquei anos no Milan, depois joguei em dois grandes clubes do Brasil, e isso gera muita mídia. No Chelsea também foi assim. O Villarreal não tem esse status, é mais tranquilo, não tem muita pressão. A imprensa fala do time, mas não muito. Mas para trabalho aqui é muito legal. É um time que te dá tudo, que luta. O estádio é sensacional, o campo é bom, e vou trabalhar para retribuir o carinho que eles me deram na minha vinda ao clube.

Você surgiu no futebol gerando uma expectativa enorme, e a opinião geral da mídia é que você não rendeu tudo aquilo que poderia ter rendido. Concorda com isso?
Eu fui bem no Inter e estava muito bem no Milan, mas aí começou uma série de lesões que é muito difícil para um jogador. Quando você começa a se lesionar, entra em uma coisa da qual não consegue sair. É lesão em cima de lesão, a cabeça fica mal. Acho que isso pesou muito, e fez com que as pessoas duvidassem do meu rendimento, que criassem muita dúvidas. Eu entendo, porque se está machucado as pessoas ficam se perguntando se vai ou não vingar. Tive que voltar ao Brasil para recomeçar, porque queria resgatar aquilo que deixei pelo caminho. Fui para o Corinthians, que me recebeu super bem e me deu confiança total. Consegui voltar a ter uma sequência de jogos, que não tinha no Milan.

No São Paulo também tive sequência boa, pude mostrar meu valor, e ali vi que estava resgatando aquilo. Surgiu a oportunidade do Chelsea, e infelizmente não tive a sequência que todo mundo imaginava, como eu gostaria de ter. Muitos jornalistas também criaram essa expectativa. Quando tive a oportunidade, mostrei que poderia jogar, mas por regras tive que respeitar a decisão do treinador e voltei ao Brasil. Agora é o momento em que eu pude resgatar aquilo e voltar à Europa. Ninguém imaginava que eu conseguiria voltar à Europa depois de passar muito tempo fora dos holofotes. Joguei uma prévia de Champions, estou jogando Campeonato Espanhol e Liga Europa, e tenho mostrado que estou ali. Estou bem, correndo, posso fazer o que sei, que é jogar futebol. A primeira pessoa que se importa mais com minha condição sou eu. Tudo que estou querendo fazer é graças à minha superação, vontade de querer dar a volta por cima.

O Abel Braga, que te lançou, acha que ter ido ao futebol italiano te atrapalhou, porque lá eles se preocupam muito com a força física, e ele acha que seu fortalecimento muscular tirou um pouco da sua velocidade. O que você acha disso?
Cheguei com um peso no Milan, e para o futebol italiano você tem que ganhar um pouco mais de massa. Eu era muito leve, e cada um que me tocava me jogava longe. Então, a cada ano eu ganhava um peso diferente e um tipo de massa diferente. Acho que o que me pesou muito não foi só a musculação, mas sim a parte de quando começaram as lesões. Elas me atrapalharam bastante. Quando voltei ao Brasil, notaram que o problema não era a parte de músculo. O que faltava era a igualdade de massa tanto na perna direita quanto na esquerda. A diferença de músculos de uma perna para a outra causou muito as lesões que tive. Quando eu voltava, fazia muito reforço para uma perna e machucava a outra.

alexandre pato brasil riveros paraguai copa américa (Foto: Agência Reuters)Pato com a camisa da Seleção, o que não acontece desde 2013 (Foto: Agência Reuters)

Acho que algumas vezes também voltei de lesão de forma antecipada daquilo que deveria ser. Eu deveria ter esperado mais. Mas como eu estava jogando bem, talvez tenham apressado alguns dos meus retornos. Depois de voltar ao Brasil e acertar a igualdade de músculos, não me machuquei mais. Desde que voltei ao Brasil até hoje me machuquei duas vezes só. Aqui no Villarreal cheguei um pouco acima do peso, porque vinha de seis meses quase sem jogar no Chelsea e depois de um mês de férias, mas perdi 6kg em uma semana. Hoje todo mundo fala que estou muito magro. Quando voltei ao Brasil, consegui resgatar aquilo que faltava: a confiança. Porque eu perdi a confiança no Milan. No São Paulo consegui um algo a mais que me deu ainda mais confiança. No Chelsea aconteceu aquilo, mas aqui resgatei meu futebol depois de ter ficado seis meses quase sem jogar.

No Milan você jogou com vários figurões: Ronaldo, Ronaldinho, Maldini, Kaká, Pirlo, Seedorf, Thiago Silva… Era muita resenha ali?(Assista ao vídeo abaixo com as histórias)
Cara, era muito bacana. Tem muita histórica bacana. A gente tinha um grupo que jogava videogame. Éramos eu, Kaká, Ronaldinho, Emerson, Seedorf, Dida, e toda noite nos encontrávamos para jogar. Tem uma história quando eu tinha acabado de chegar no Milan, e o Ronaldo me ofereceu uma carona. Fui na frente, e ele pediu para eu colocar o cinto. Ele tinha um carro que, quando fazia curva, o banco mexia também. Falei: “Que isso! Onde é que eu estou?”. Foram coisas muito legais. O Ronaldinho Gaúcho é muito parceiro, o Emerson… Com o Kaká eu encontro até hoje, temos apartamento no mesmo prédio. Conheci o (Daniele) Bonera lá em 2007 e hoje a gente voltou a jogar junto. Foi um período muito bom. Fiz muitas amizades.

Lembro até hoje que discuti com o Maldini em um jogo contra o Juventus. Ele falou algo no campo que não lembro, não sei o que retruquei também, mas aí eu vi: “Cara, olha onde estou. Estou conversando e jogando com os caras”. Lembro que nesse jogo o Ronaldinho me deu um passe e fiz o gol. Até hoje falo com o Maldini, a gente combina de se encontrar quando eu for a Milão. Acho que uma parte dos meus sonhos eu realizei. Jogar com caras assim… São caras que fizeram história no futebol, e para mim foi um sonho realizado.

E tem do Ronaldinho. Quando chegou ao Milan, ele me falou: “Pato, vou jogar com você, né? Quando eu pegar a bola, corre”. Falei: “Beleza”. Era um jogo contra o Udinese, a bola chega nele e eu lembro do que ele me falou. Corri. Ele, sem olhar, bateu na bola. Eu saí na cara do gol e fiz o gol.

Dizem que o Ronaldo Fenômeno sempre foi “dono” do vestiário por onde passou. Tinha isso mesmo?
Ele é um cara muito alegre e cultivava. Tinha muitas lendas como ele. No vestiário eu sentava entre o Ronaldo e o Maldini, como Kaká na frente. Mas o Ronaldo era o cara que fazia o vestiário de ponta a cabeça. O Inzaghi também pode não parecer, mas é muito engraçado. Foi um momento bacana, pude aprender muito. Lembro de um dia que estávamos jogando contra o Napoli, aí eu tocando a bola com Ronaldo e Kaká… Imagina, né? Jogava com eles no videogame e de repente estou ali com eles. Aí teve um lance em que o Ronaldo estava sozinho e ameaçou chutar, mas me deu a bola. Eu não esperava, chutei e o goleiro defendeu. Eu tinha 18 anos, e ele chegou para mim: “Pô, Pato! Você não quer me consagrar?” (risos). Foi sensacional.

Como foi essa história da Playboy que o Ronaldo te deu?
No meu primeiro dia me disseram onde eu iria sentar. Do meu lado tinha o Ronaldo. Na frente tinha o Kaká, com umas imagens de igreja, de Deus. Aí cheguei e o Ronaldo me chamou segurando uma revista da Playboy: “Pato, é assim: ou você vem comigo ou vai com o Kaká. Olha como o Kaká como é, ele é religioso”. Aí fiquei na minha, não falei nada. Só que ele colocou a Playboy no meu armário. Toda vez que eu chegava para treinar, estava a Playboy lá. Pensei: “O que vou fazer? Tiro ou não? Se eu tirar, o Ronaldo vai ficar bravo comigo, né? Ele colocou, então não vou fazer nada. Se eu deixar, é só vestiário, não tem nenhum problema”. Só que descobri que um mês depois foi uma escola cheia de criancinhas lá. E minha Playboy sempre lá, com a mulher toda aberta (risos). Mas o que eu ia fazer? Até que um dia eles tiraram, porque eu não ia tirar. O meu ídolo colocou, então deixa ali, ele que manda no meu armário.

Saiu muito na imprensa que o Ronaldinho Gaúcho te levava para festas em Milão e isso teria prejudicado o seu casamento da época. Até que ponto isso é verdade? Ou não tem fundo de verdade?
Faz muitos anos isso. Essa é uma pergunta que nunca recebi. E são coisas de muito tempo atrás. O Ronaldinho sempre foi um irmão para mim, um amigão. Eu não gosto de sair para a noite. Saí duas vezes em Milão: quando a gente ganhou um Campeonato Italiano e todo mundo foi para a discoteca com as famílias, e depois do título de uma Supercopa, e também todo mundo saiu. Eu ia na casa dele como todo mundo, porque ele tinha uma casa muito grande e convidada todos para irem lá. Todos os jogadores iam. Não sou um cara de sair. E eu estava começando no Milan, sair para quê? Naquela época eu pedia desculpa para o Ronaldinho pelo nome dele estar envolvido. Ele dizia: “Pato, isso é tranquilo, não se preocupa. Fazer o quê?”. Ele é um cara muito amigo, de coração muito bom e que se tornou meu amigo. Dentro do clube ele me ajudou muito. Até me ensinava muitas coisas de movimentação em campo que para mim foram essenciais. O que saía na mídia na época era tudo mentira, mas nunca vim a público para dizer se era verdade ou não, porque poderiam acontecer muitas coisas a mais, então sempre preferi ficar na minha. Depois de tanto tempo vem essa pergunta, mas posso falar que muitas coisas daquela época eram mentira.

Falando de Brasil: como você avalia sua passagem pelo Corinthians? Que nota daria?
O meu momento no Corinthians não o que todos esperavam. Poderia ser nota 5, não positivo mas também nem tão negativo. Recuperei minha forma física no Corinthians e fiz alguns gols, mas acho que errei no momento do pênalti. Pego a culpa, sim. Tive uma decisão… Não esperava que o Dida fosse ficar no meio e pegar meu pênalti. Ali tive uma culpa de tirar o time de uma competição tão importante. Se eu tivesse feito o gol, teria sido tudo diferente. Mas o Corinthians me deu tudo nessa volta ao Brasil. Naquele momento, errei em uma escolha minha. Se não tivesse errado, a nota poderia ser bem maior.

O que aconteceu no vestiário depois desse pênalti perdido gerou muita repercussão. Eu te pergunto: o que de fato houve ali?
Joguei muitos anos com o Dida no Milan e sempre treinamos pênalti. Tive uma escolha que pensei que daria certo naquela hora, só que errei. A culpa foi toda minha, eu que errei, bati um pênalti que prejudicou muito o time e repercutiu muito depois dentro do vestiário. Não houve discussão, mas o Tite falou coisas que ajudaram muito na minha formação, no meu jeito de pensar depois daquilo tudo. Muitas das palavras que ele me falou já saíram na mídia, ele também falou em um livro. Depois daquilo pude pensar em muitas coisas, na minha vida dentro e fora de campo. Fiquei muito triste e abalado. Depois dali fui para a casa do meu empresário, ele me pegou e fiquei lá. Eu tirei a realização de muitos ali – jogadores, comissão, famílias, torcedores. Pude aprender e sou grato ao Tite por aquelas palavras. Hoje penso diferente, me expresso diferente, vejo diferente alguns pontos da minha vida depois daquilo e do que aconteceu na sequência também, muitas ameaças e repercussão não muito boa. Tiro dali a parte que me fez crescer mais, mas não esqueço do momento em que deixei muitas pessoas tristes.

Antes de acertar com o Villarreal você voltou a treinar no Corinthians e por pouco não voltou a jogar também. Acha que haveria clima para continuar lá, se fosse o caso? Ou seria bem complicado?
Acho que eu daria tudo no momento em que eu pudesse entrar em campo. Nos treinamentos eu estava sempre querendo fazer o meu melhor e voltar à melhor forma física. Sei que errei ali na Copa do Brasil, e passou um período fui emprestado para o São Paulo… Acho que reverter aquilo que aconteceu, mas, além também de eu ter jogado no rival, o que seria muito diferente e difícil era a parte contratual, porque meu contrato no Corinthians estava acabando (eram mais seis meses somente), acho que isso poderia pesar muito naquilo que poderia ser. Então, eu e Corinthians entramos em um acordo do que seria melhor para mim e para eles, aí apareceu o Villarreal e vim para cá. Acho que foi o melhor para os dois.

A sua passagem pelo São Paulo foi bem melhor do que pelo Corinthians. Você criou uma boa relação com todos ali, certo? O Rogério Ceni se tornou seu amigo?
Muita gente não sabe, mas eu algumas vezes já tive alguns atritos com o Rogério na frente de todo mundo, em reuniões com o grupo. Eu e ele debatemos muitas coisas. O Rogério para mim é um ídolo. Como pessoa… Ele é um cara que, no jeito como se expressa, transmite aquela vontade de ganhar. Acho que ele tem tudo para dar certo agora no São Paulo. Espero que dê certo, que o São Paulo possa voltar a ganhar títulos. E minha passagem no São Paulo foi bacana. Conheci novos colegas, e o que aconteceu no Corinthians me fortaleceu para que eu pudesse mudar meu tipo de pensamento. E é normal, quando você vai para o rival, você dá o coração para o seu time. Era difícil minha ida para um rival, ainda mais sendo emprestado, e consegui manter uma boa relação com o São Paulo e a torcida, mesmo no começo sendo difícil.

Acho que conquistei os torcedores, a parte do São Paulo, mesmo no começo sendo difícil. Eles queriam ficar comigo. Lembro que, antes de aparecer o Villarreal, sentei com o pessoal do São Paulo lá na minha casa. Eles me trouxeram uma camisa pronta com o número 10. Só que algumas coisas não deram certo. E quando acertei com o Villarreal, falaram que deu certo. Só que aí é como se fala, o trem já tinha passado. Tive a oportunidade de jogar no São Paulo, gostei do clube e da torcida, me identifiquei muito lá. Agora desejo muita sorte ao Rogério, aos companheiros que conheci lá.

O Ganso tem uma história parecida com a sua. Começou badalado, hoje não está na Seleção e tenta um recomeço na Espanha. Como era sua relação com ele no São Paulo? Ele tem jogado pouco no Sevilla, acha que dará certo aqui na Europa?
Conheci o Ganso há muito tempo na Seleção. Depois tive o prazer de jogar com ele no São Paulo. É um cara fora de série, extraordinário, bacana. Quando vim para o Villarreal o pessoal do clube me disse que eles querem jogadores rápidos e ágeis, e acho que o Ganso aos poucos vai se adaptando, como eu estou me adaptando. Quando você passa muito tempo no futebol brasileiro e vem para a Europa, tem que dar um tempo. Não é tão fácil a ponto de conseguir em três, quatro meses conquistar o seu espaço, a sua vaga, dar logo de cara o resultado que todos esperam. Como o Ganso tem um nome muito forte, conquistou muitas coisas no futebol brasileiro, a mídia e a torcida criam uma imagem de que querem o resultado logo de cara. Mas não é assim. Tem que dar um pouco de tempo para que ele consiga se adaptar. Ele tem tudo para jogar aqui na Europa, e espero o melhor para ele.

Alexandre Pato Rogério Ceni São Paulo (Foto: Rubens Chiri/Divulgação sãopaulofc.net)Pato torce pelo sucesso de Rogério Ceni como técnico do São Paulo (Foto: Rubens Chiri / Divulgação saopaulofc.net)

No Chelsea você quase não jogou. Acha que merecia ter tido mais chances com o Guus Hiddink? Ele foi correto contigo?
O Guus foi muito correto desde o primeiro dia. Quando cheguei, a gente conversou bastante. O Chelsea tinha dois ou três jogadores machucados. O Guus me falou: “Olha Pato, você sabe que aqui tem hierarquia, tem as regras. Você vai estar aqui, e na hora que puder vou te dar uma oportunidade”. Ele foi muito correto. Fui para o Chelsea com uma ilusão de que jogaria e mostraria mais serviço, quem sabe podendo ficar mais tempo. Infelizmente não consegui jogar aquilo que poderia ter jogado. Nos dois jogos que joguei, demonstrei meu futebol, fiz gol na estreia. Mas ok, conheci uma cultura diferente, um tipo de trabalho, e isso me ajudou bastante. Queria ter jogado mais, mas entendo. Depois de 20 dias que cheguei, voltou todo mundo que estava lesionado. E eu era o último, tinha acabado de chegar. Não foi o que eu esperava, mas passou.

Agora sobre seleção brasileira: o Tite chegou a conversou com você alguma vez depois que assumiu o comando do Brasil?
A gente não chegou a conversar muito. Minha relação com o Tite sempre foi super profissional. Antes de eu chegar no Corinthians a gente conversava, se ligava, para eu ir para o clube. Depois aconteceu aquilo, errei o pênalti. Como tínhamos uma boa relação boa entre jogador e técnico, ele falou coisas que talvez poderia ter me falado em um lugar fechado, mas ele viu que a nossa relação era muito boa e falou na frente de todos. São coisas que serviram não só para mim, mas para muita gente que queria alcançar alguns objetivos. A relação que temos é muito boa, super profissional. Conheço toda a comissão dele, conheci o filho dele quando eu era pequeno. Ele sempre me tratou de forma super profissional. Espero voltar a trabalhar com ele, não vejo a hora, e espero que seja na Seleção. Quero voltar à Seleção.

Tem vaga para o Pato na seleção brasileira atual? E é uma coisa em que você pensa constantemente?
Vi uma entrevista em que o Tite disse que vai dar oportunidade para quem ele achar que merece. Vou trabalha ao máximo, dar tudo aquilo que posso dentro de campo para que possa receber uma chance. Quero ter uma chance para mostrar que posso estar ali na Seleção. E vou esperar. Meu objetivo é voltar à Seleção neste ano, quero ter essa oportunidade de vestir a camisa. Esse é meu primeiro objetivo.

Te frustra muito não estar na Seleção hoje?
É óbvio que quando você olha a convocação, ainda mais no momento bacana que estou, fica pensando que de repente pode aparecer uma chance. Mas cada vez que não vejo meu nome na Seleção foco cada vez mais para melhorar onde preciso e chegar lá. Estou trabalhando forte, tentando melhorar meu estilo de jogo, jogar em outras posições para ser útil não só em determinado momento da partida. Mas estou bem, tenho esse foco. Meu objetivo está logo ali e vai depender de mim para eu chegar à Seleção de novo.

O Pato é um camisa 9?
Posso jogar assim. Joguei no Chelsea, fiz isso nos treinos. O jogo que fiz lá foi de 9, mas não centralizado, e sim buscando a bola e ajudando a pressionar a defesa adversária. Vejo que posso jogar tanto de 9 quanto aberto ou no meio. O meu objetivo é sempre jogar.

O Neymar é seu amigo. Sonha em refazer o ataque da Seleção com ele?
Tudo vai depender de mim. Tenho que fazer por merecer também. Estou lutando para voltar e espero voltar logo, mas vai ser no tempo que Homem lá de cima decidir. Toda vez que encontro o Ney eu falo que estou querendo voltar à Seleção e jogar com ele novamente, porque a gente só joga contra. Quem sabe, se Deus quiser, eu possa ser convocado neste ano. Estou focado em ajudar o Villarreal. O clube estando em um bom momento, quem sabe eu possa voltar à Seleção.

Para o futuro você pensa em um novo retorno ao futebol brasileiro? De repente ao Internacional, clube que te formou, ainda mais porque saiu muito cedo de lá…
Não sei ainda. Também porque no começo da minha carreira no Milan eu não esperava voltar logo ao futebol brasileiro. Passaram uns anos e voltei. Joguei no Corinthians e no São Paulo e tive uma identificação muito bacana com o São Paulo. Quem sabe lá na frente eu possa voltar a jogar no São Paulo. Mas também… Depois que conheci a Fiorella me identifiquei muito, vejo e comento algumas fotos do Flamengo. Gosto do estilo do Flamengo. Quando vou para lá os cariocas falam: “Pô, Pato, por que não vem pro Flamengo?”. Aquele estilo bacana (risos). O flamenguista, o carioca em si é bacana. Quem sabe? O futuro a gente nunca sabe. O presente está bom hoje aqui no Villarreal, mas no futuro não sei o que pode acontecer.

Aproveitando o gancho, seu nome já foi ligado ao Flamengo algumas vezes. De fato já houve alguma proposta, alguma negociação em algum momento?
Conheço o Rodrigo Caetano (diretor executivo de futebol do Fla) há muito tempo, desde muito novinho, quando a gente jogava contra o Grenal – ele era do Grêmio e eu era do Inter. Houve boatos, algumas coisas que falaram, falaram com meu empresário, mas não passou disso. A única coisa que aconteceu mesmo foi (a proposta) do São Paulo, mas o Flamengo bacana e que chama muita atenção.

O Pato então está revelando o desejo de um dia, quem sabe, vestir a camisa do Flamengo…
Ah, o são-paulino me tratou muito bem, quem sabe voltar ao São Paulo pelo jeito que me trataram… Mas tem também o Flamengo. Depois que conheci a Fio, simpatizei bastante com o Flamengo. É bacana. Quem sabe? Não sei, vamos ver.

E a Fiorella fica te cobrando para jogar no Flamengo um dia?
Ela já fala que lá na frente… Ela quer que a gente um dia volte para lá e que eu jogue no Flamengo.

Para finalizar, um bate-bola rápido com Pato:

Melhor amigo no futebol: “Emerson, Ronaldinho, Kaká, Hudson, Neymar. Tem muitos, mas esses foram os caras com quem mais fiz amizade”
Melhor companheiro de ataque: “Tem muitos. Na Seleção lembro até hoje de quando eu e Ney, na estreia dele, fizemos o ataque lá nos EUA. Ele fez um gol de cabeça e eu fiz o outro. Foi bacana. No Milan com Kaká e Ronaldo… Ronaldinho Gaúcho”
Marcador mais difícil: “Dois me surpreenderam muito. A gente às vezes jogava contra nos treinos. Thiago Silva e Maldini”
Melhor atuação da carreira: “Ainda está para acontecer. Quero fazer um hat-trick. Meu sonho é levar a bola do jogo, e só tive a oportunidade de levar uma vez, pelo São Paulo”
Melhor gol: “Contra o Barcelona, pelo Milan (bela arrancada antes da finalização, em 2011). Pena que não vencemos”.

Alexandre Pato (Foto: Ivan Raupp)Alexandre Pato mora em Valência, uma vez que Villarreal é muito pequena (Foto: Ivan Raupp)