A vida de Sidão: drama pela mãe, fim da carreira e “molecão” do São Paulo

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GloboEsporte.com – Marcelo Prado

Há jogadores que desde seus 13, 14 anos, viram celebridades da bola e têm cada passo seguido tal qual um reality show. O completo oposto disso é Sidney Aparecido Ramos da Silva, o popular Sidão, goleiro que defendeu dois pênaltis contra o River Plate (ARG) e levou o São Paulo à final do Torneio da Flórida, neste sábado, às 21h (horário de Brasília), contra o Corinthians.

Personagem de 34 anos ainda desconhecido do grande público, já que só desabrochou para a fama em 2016, com boas campanhas no Audax e no Botafogo, Sidão tem muitas histórias a contar. Engraçadas, felizes, tristes… Histórias que você provavelmente nem imagina, reveladas em entrevista exclusiva ao GloboEsporte.com, antes da decisão do Torneio da Flórida.

Sidão São Paulo River Plate Torneio da Flórida (Foto: Chris O'Meara/AP)Sidão comemora classificação do São Paulo após defender pênaltis na semi (Foto: Chris O’Meara/AP)

Duvida?

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Então pegue esse resumo sobre Sidão, em 12 tópicos, homenagem à sua camisa:

1) Jogou no São Paulo em 1999
2) Tornou-se profissional no Corinthians
3) Passava por debaixo da catraca do ônibus para gastar o salário com bebida
4) Usou drogas
5) Entrou em depressão por se sentir culpado pela morte da mãe
6) Recuperou-se pela religião
7) Abandonou a carreira aos 25 anos de idade
8) Foi trabalhar como segurança
9) Voltou ao futebol por um convite do Taboão da Serra
10) Busca vídeos do colombiano Higuita na internet
11) Define-se um “molecão” para zoar os companheiros do São Paulo
12) Avisa que o torcedor tricolor terá que “aguentar o coração” em 2017

Sidão, fale de sua trajetória até chegar ao São Paulo.
Eu saí de casa aos 14 anos em busca do sonho de ser jogador de futebol. Fui para o União Bandeirante, no Paraná, e fiquei um ano no sub-17 do São Paulo. Depois, fui para o Nacional-SP e cheguei ao Corinthians, onde me profissionalizei. Rodei bastante, fui para vários times pequenos do interior. Quando eu não tinha proposta, treinava no Taboão da Serra. Em 2009, no Rio Claro, conseguimos o acesso para a Série A-1 do Campeonato Paulista. Em 2010, joguei a Série A do Brasileiro com o Grêmio Prudente. Voltei ao Rio Claro e, na sequência, o Audax.

Sua passagem pelo sub-20 do Corinthians foi conturbada? Há relatos de indisciplina.
Foi um momento de juventude. Antes de ir para o Corinthians, eu jogava no Nacional e recebia cinco reais por dia. Era o dinheiro da condução para ir e voltar pra casa. Eu passava por baixo da catraca e gastava em bebida. Quando fui para o Corinthians, passei a ganhar R$ 800 de salário, só que fazia a mesma coisa. Em 2001 isso era uma fortuna para mim, me afundei na bebida e comecei a usar drogas. Sem dúvida, o que me salvou foi o contato com a religião.

Foi nesse período que você perdeu sua mãe?
Sim, me culpei muito por isso. Eu aprontava demais, sumia de casa na sexta-feira e só voltava no domingo. Quando eu retornava, não dava nenhuma justificativa. Minha mãe adoeceu por causa disso, acabou morrendo e eu carreguei essa culpa comigo. Tive uma depressão forte. Não foi fácil, mas consegui dar a volta por cima.

Por que você abandonou a carreira e parou de jogar futebol em 2007?
Porque eu queria uma estabilidade na vida que a carreira de jogador de futebol não estava dando. Precisava colocar dinheiro em casa. Nem que fosse pouco, mas precisava saber quanto teria à disposição. Queria me casar, constituir família. Larguei o futebol e fui trabalhar de segurança e ronda nas ruas, com uma moto. Cheguei a fazer entrevista numa grande firma de Taboão da Serra, mas não passei. Hoje, comemoro que isso tenha acontecido.

E o que te levou de volta ao futebol?
Naquele mesmo ano eu encontrei o presidente do Taboão da Serra e ele me perguntou o que estava fazendo da vida. Respondi que trabalhava como segurança.  Ele falou para largar isso e voltar a treinar, que teria lugar para mim no Taboão. Resolvi arriscar mais uma vez, mas botei na cabeça que seria a última que tentaria ser jogador. As coisas começaram a dar certo. Até por isso, trabalho com o máximo de seriedade possível a cada dia da minha carreira.

Sidão e Rogério Ceni, do São Paulo (Foto:  Rubens Chiri / saopaulofc.net)Sidão ganha o abraço do técnico Rogério Ceni depois de defender dois pênaltis (Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net)

Em que goleiro você se inspirou no início de sua carreira?
Peguei várias gerações de goleiros. Vi um pouco do Taffarel na Copa de 1994, aquela final marcante contra a Itália. Depois, Zetti, Dida, Marcão (Marcos, do Palmeiras), Rogério. Eram os caras que me serviam de inspiração para vestir a camisa de um clube grande. O Higuita (colombiano que defendeu sua seleção na Copa de 90) também jogava com os pés e fazia umas loucuras, mas não pude acompanhar muito na época. Vejo bastante sobre ele no YouTube, mas não tenho vontade de fazer igual (risos). No calor da partida, você tem vontade de atacar para ajudar, mas é preciso ter responsabilidade.

O ano de 2016 foi um divisor de águas?
Sem dúvida, foi um ano maravilhoso. Primeiro no Audax, onde finalmente tive a oportunidade de jogar após dois anos. Fizemos um ótimo Campeonato Paulista, não fomos campeões por muito pouco (o time foi derrotado pelo Santos por 1 a 0 na final), mas isso abriu a porta num time grande que foi o Botafogo. E hoje estou no São Paulo.

Como é estar no São Paulo e ser treinado pelo Rogério Ceni, maior goleiro da história do clube? O que isso te traz de positivo ou negativo?
Aumenta muito a responsabilidade pelo que o Rogério representa, pelo goleiro que ele foi. Na minha opinião o goleiro mais famoso do mundo. Vão questionar se é o melhor tecnicamente, mas é o mais famoso, sem dúvida. Todo mundo sabe quem ele é e o que conquistou. Por ter sido uma indicação dele, é claro que pesa, mas estou pronto para assumir minha posição na equipe, se assim o Rogério quiser.

O Denis, primeiro a substituir o Rogério, cometeu falhas e foi muito criticado. Acha que agora será mais tranquilo, até pela presença dele como treinador? Ou pode ser pior?
O São Paulo tem uma história com goleiros que chama muito a atenção, é difícil suprir mesmo. O torcedor se acostumou a olhar debaixo das traves e ver um ídolo. Essa carência vai permanecer. Ninguém pode ser comparado ao Rogério. O torcedor precisará ter paciência e entender que são novos tempos. Quem jogar não pode ser comparado ao Rogério, ele é único. Cada um tem seu jeito. Acima de tudo, o torcedor tem que abraçar quem jogar.

Desde que o São Paulo chegou aos Estados Unidos, você tem postado vídeos nas redes sociais, quase sempre brincando com algum companheiro. Há também espaço para esse lado brincalhão, que tira onda com todo mundo?
O futebol é muito sério, e tem que ser mesmo. Mas também precisamos ter alegria. O sonho de criança que eu tinha lá atrás permanece até hoje. Isso não pode morrer. Nunca vou perder minha essência de ser um molecão .

O que o Sidão gosta de fazer na folga?
Gosto de ir ao cinema. Em casa assisto muitos filmes e vejo esportes. Mas agora que estou com um filho pequeno não tenho muito tempo de fazer nada, a atenção é toda para ele (risos).

Ouve música?
Gosto muito de hip hop e música cristã.

Sidão São Paulo (Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net)Goleiro voa para fazer defesa em treino do São Paulo na pré-temporada, nos EUA (Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net)

Como você desenvolveu habilidade de jogo com os pés, que pesou na indicação do Ceni?
Nos recreativos eu sempre gostei de atuar na linha. Isso me ajudou a ganhar habilidade, mas acredito que no Audax se desenvolveu. No sistema escolhido pelo Fernando Diniz, o goleiro era muito utilizado e isso impressionava muita gente. O Rogério está tentando implantar isso no São Paulo. Dá para fazer, só que vai precisar jogar adiantado para fazer a leitura do jogo.

E isso não vai provocar calafrios no torcedor?
O torcedor terá que aguentar o coração porque vamos jogar adiantados e ajudar bastante na posse de bola defensiva.

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