51 mil sorrisos e um belo rascunho do que pode vir

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Por Pedro De Luna – Blog do Torcedor

 

“Vai ser 2 a 1”, previu a simpática mulher do caixa da padaria ao me ver com a camisa do Rodrigo Caio. “Pena que vou ter que ficar trabalhando, mas leva sorte lá pro Rogério”. Naquele calor senegalesco da tarde de domingo, entrei no carro ciente de que transportava comigo mais do que uma namorada igualmente uniformizada, uma nota de 50 reais e um saco de pão de queijo, mas também a esperança de um dia grandioso para nós, tricolores, que andamos precisando tanto disso ultimamente.

 

No caminho para o Cícero Pompeu de Toledo, de repente o céu começou a ganhar aquela mesma cor dos muros da 23 de maio e das fardas da PM, um cinza chumbo que anunciava o pé d’água que cairia. Mau presságio? Que nada. Encontramos alguns amigos na banca de revistas em frente ao estádio, como de praxe, esperamos a chegada do ônibus do time e entramos na fila debaixo da mais paulistana das chuvas. O que era essa meia dúzia de pingos de verão para quem sobreviveu a três anos de Jean e Júlio Santos formando dupla de zaga?

 

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Já acomodado na arquibancada azul, pensei com meus botões que Rogério não se sentava naquele banco de reservas do Morumbi desde que Zetti usava a camisa 1 são paulina, 20 anos atrás. Seu debute como treinador, assim como a recepção aos aguardadíssimos novos reforços Pratto e Jucilei, foram motivos mais que especiais para que 51 mil pessoas arrumassem um tempo entre a macarronada dominical e os reclames do plim-plim e comparecessem ao estádio para empurrar um time em formação que, para azar da Ponte Preta, se encheu de confiança.

 

Prato Jucilei Leco São Paulo

 

Ceni mandou a campo o seu já habitual 4-3-3 com quatro crias de Cotia entre os titulares – e mais duas, Araruna e Shaylon, entrando no segundo tempo. Com o início do jogo, a chuva cessou e a temperatura bem mais amena do que antes permitiu que o São Paulo jogasse com alguma intensidade, como tanto apregoa o treinador. Nem mesmo o balde d’água fria que foi o belo gol de Matheus Jesus para a Macaca, aos 21 minutos, em erro de Thiago Mendes e falha de Sidão, foi capaz de frear o ímpeto dos anfitriões são paulinos, que, embora tivessem dificuldades para criar oportunidades cristalinas de gol, dominaram o jogo do início ao fim sem grandes sobressaltos.

 

A virada foi natural, a partir de quando Cueva decidiu dar as caras infiltrando-se entre as linhas do precavido 4-1-4-1 pontepretano: com um gol de rebote e uma bela assistência para Gilberto, o maestro peruano comandou a reação tricolor num primeiro tempo morno e me fez pensar que a moça do caixa da padaria pudesse ter acertado sua previsão. Em vantagem (ainda que mínima) no placar e com um jogo duro frente ao Santos na Vila Belmiro quarta-feira, esperava-se que o Tricolor tirasse o pé do acelerador no segundo tempo e administrasse o score de 2×1 construído.

 

Ledo engano. Com atuações de gala do oportunista Gilberto, do atrevido Junior Tavares e do imparável Luiz Araújo na segunda metade do confronto, o São Paulo jantou a Ponte Preta com farofa de maneira surpreendentemente rápida, o que ainda permitiu a Rogério fazer alguns testes. Com 4×1 no placar, aos 15 minutos, Ceni colocou Diós Lugano em campo, deixando a equipe no 3-4-2-1, um esquema que deixaria Jorge Sampaoli a sorrir. A partir dali, a tarefa do time foi fazer o tempo correr com a pelota nos pés. Os mais de 70% de posse de bola do São Paulo e os 5×2 tranquilos não me deixam mentir.

 

Mais importante que o placar largo, porém, foi a forma não-acidental com que ele se construiu. Em vez de se acomodar com a vantagem, o time teve ímpeto e agressividade, e parecia jogar em comunhão com a vontade das arquibancadas. Assim como o revés diante do bom Audax não justificava tempestades em copo d’água domingo passado, é sensato dizer que a goleada dessa semana não deve omitir que essa equipe ainda tem muito a melhorar. É a repetição, somada ao pouco tempo de treinamentos que a agenda permite, que darão forma a um escrete que gerou aproximadamente 51 mil sorrisos ontem no Morumbi.

 

Público Total São Paulo x Ponte Preta

 

A essa altura, já começam a ficar claras algumas características que pautam o trabalho do novo treinador e, em alguns casos, o diferem de seus antecessores de 2016: 1) o rodízio no elenco; 2) a grande confiança em peças da base; 3) a importância a algumas inusitadas jogadas de bola parada ofensiva; 4) a exigência de que os zagueiros saiam jogando sem chutões, com passes verticais que quebrem a primeira linha de marcação; 5) a instrução para que os laterais “pisem na linha lateral” e ofereçam amplitude às jogadas; 6) os pontas livres para flutuarem pelo meio, deixando as alas para os laterais; 7) a importância do jogo de posição para sair da marcação pressão adversária na saída de bola; 8) as mudanças de posição de peças durante o jogo (por ex: Araújo foi ponta-esquerda no 1T e ponta-direita no 2T, Gilberto atuou pelo setor direito na primeira etapa e pelo centro na segunda); 9) a utilização mais frequente do goleiro como jogador de linha; e 10) o foco na retomada rápida da bola, como o Liverpool de Jürgen Klopp (em que Michael Beale treinava o time sub-23 e Rogério passou por estágio) é mestre em fazer.

 

Amanhã, ainda sem Pratto (não regularizado) e Jucilei (longe da forma física ideal), o Tricolor desce a serra e visita Santos. O Sansão põe frente a frente os dois melhores ataques da competição, seus dois artilheiros renegados – Gilberto e Rodrigão, ambos com 3 gols – e dará ao franco atirador São Paulo um belo teste: encarar um fortíssimo adversário que não perde em casa pelo Paulistão há 5 anos e 10 meses. Devagar e sempre, vamos observando curiosos a evolução do novo São Paulo. Domingo tivemos um excelente tira-gosto do que pode estar por vir: depois da tempestade, a bonança.

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