Por que o sucesso de Rogério Ceni te incomoda tanto?

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Maurício Barros – ESPN

Poucos personagens do futebol brasileiro nos últimos 20 anos despertaram tanto amor e ódio quanto Rogério Ceni. A razão primeira e óbvia é que o goleiro passou a personificar o São Paulo, despertando sentimentos clássicos e opostos em tricolores e seus rivais.

Mergulhando um pouquinho mais na questão, não era difícil achar outros motivos para os adversários alimentarem sua repulsa a Ceni. O goleiro são-paulino era vaidoso, ambicioso, egocêntrico, autossuficiente, tinha dificuldades em admitir falhas e soava, por muitas vezes, arrogante.

Conforme foi galgando sucesso, os sentimentos em relação a Rogério foram se exacerbando, tanto no amor quanto no ódio. Virou um dos melhores do planeta na sua posição e, ainda por cima, passou a marcar gols em profusão. Colecionou recordes. Tornou-se, pelo currículo, o maior jogador da história do São Paulo. Mas também o é porque o são-paulino sente seu tamanho na dimensão do incômodo que Rogério desperta nos adversários. O tricolor se alimenta do fato de que Ceni é um ídolo só seu, um sujeito que os adversários sempre adoraram odiar. Se o rival atira-lhe facas, o são-paulino se joga na frente do Mito para poupar-lhe a vida.

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Mas era preciso ir um pouco mais fundo para encontrar outras razões da repulsa a Ceni, inclusive na imprensa: sua capacidade de confrontar as críticas. Rogério, um competidor obsessivo, um fanático por tudo o que se relaciona a futebol, sempre leu, viu e ouviu muito sobre bola. E discutia, mesmo quando não tinha razão. E avançava, mesmo quando era sábio recuar. Por isso, amargou dissabores. Mas havia um certo preconceito às avessas. “Olha esse jogador de futebol, que petulante. Como pode querer debater no mesmo nível que eu, falando palavras difíceis, arriscando entrevista em espanhol, em inglês? Gosta de rock e não de pagode? Ponha-se no seu lugar!”

Plantou-se até uma suposta rixa com seu amigo Marcos, do Palmeiras, que seria o exemplo de humildade e camaradagem, em oposição ao pedante Rogério – uma comparação besta e simplista, que reduzia injustamente ambos a extremos de personalidade e comportamento. Ceni, o sujeito de nariz empinado. Marcos, o matuto que fica na praça coçando o pé. Ridículo.

Pois, agora, Rogério é treinador do São Paulo e inicia a profissão com uma disposição ao novo extremamente salutar e necessária ao futebol. Em pouco tempo, já é um expoente dessa nova geração de técnicos promissores, que inclui Roger Machado, Eduardo Baptista, Fernando Diniz, Jair Ventura, Daniel Paulista, Zé Ricardo e Fábio Carille. Torço por todos eles.

Você aí, que quando vê Rogério fica com o coração peludo, experimente parar um pouco para ouvi-lo. Suas entrevistas como treinador são muito boas. A leitura de jogo, a proposta de rodar o elenco, a predileção pelo futebol ofensivo, a maneira como inclui seus auxiliares gringos como construtores do trabalho, o modo como cobra e defende seus comandados. Veja também as coletivas pós-jogo: ele chega com tudo marcadinho, as estatísticas, o percentual de posse de bola, coisa e tal. Não tem migué, o cara trabalha muito.

Evidentemente, há grandes problemas no time atual, principalmente a parte defensiva, curiosamente o setor mais próximo a Rogério nas suas mais de duas décadas de carreira como atleta. Ceni engatinha na nova profissão, sabe-se lá se vai se tornar um grande treinador ou será apenas mais um ex-craque a decepcionar na função, como Falcão, Maradona, Matthäus. Mas sua continuidade no futebol deveria ser saudada por todos os que amam esse esporte. A não ser que os motivos sejam, confessadamente, mesquinhos. Com sinceridade, tudo bem, porque o futebol também vive de mesquinharia.

 

6 COMENTÁRIOS

  1. O Rogério jogador tem uma careira irreparável, construída com sangue, suor e erros, como toda história de um ídolo. No SPFC ele amargou tempos difíceis, foi campeão de tudo e se tornou o maior ídolo da história do clube.
    Eu apenas acho que nem toda carreira do Rogério foram acertos, no meu ponto de vista ele muitas vezes causou desconforto no elenco, criou intrigas, em alguns momentos colocou seus interesses acima dos do clube e assim fez o time passar por momentos complicados. Sua aposentadoria foi muito postergada, mas tudo perdoável, pois ele sempre defendeu o clube de uma forma que nenhum outro jogador fez.
    Como técnico eu não tenho dúvida ele vai se dar bem, precisa apenas a torcida ter paciência e a diretoria ajudar.