Por Abrahão de Oliveira, da redação
Já começo respondendo a pergunta do título: na projeção que eu fiz agora, não. Ele não vai durar. E vou explicar as razões.
No dia 2 de fevereiro desse ano, no site Sneakers BR, uma curiosa matéria foi veiculada. O título, apesar de não mencionar o SPFC diretamente, é um pouco preocupante para quem enxerga o futebol como um negócio além das 4 linhas. A frase era: “Novo Relatório Derruba Ações e CFO da Under Armour”.
Logo no começo fala-se em um crescimento de 11,7% que não foi o suficiente para evitar a queda das ações em 25%, além de um prejuízo de U$$104,9 milhões. E essa não é a informação mais assustadora, afinal, a marca teve queda significativas em 2016 quando, em novembro, foi registrada uma perda de 600 milhões de dólares em valor de mercado e uma queda de 5% nas ações. Diante desses resultados, Chip Malloy, CFO da empresa, acabou saindo alegando razões pessoais.
Mas, você caro leitor, deve se perguntar: o que, exatamente, isso tem a ver com o São Paulo Futebol Clube?
Para deixar o ponto bastante claro, vamos lembrar que o contrato inicial da empresa americana com o São Paulo é de cinco anos, envolvendo R$ 75 milhões em dinheiro e R$ 60 milhões em materiais esportivos, dando um total de R$ 135 milhões de reais investidos no clube, receita amplamente comemorada por todos nós na época.
Levando em conta esses valores surreais que temos de patrocínio, a nota da Veja, publicada nesse ano de 2017 (se eu não me engano), não me parece uma mentira.
Apesar do clube ter divulgado uma nota oficial, o pedido para que acontecesse a redução de R$ 10 milhões de reais ao ano de contrato não me parece impossível. Digo impossível de ter acontecido da parte da empresa que, como vimos lá em cima, não vem bem.
Alguns podem alegar que a UA pegou o Flu e isso seria apenas uma teoria da conspiração, mas lembrem-se que os valores do time carioca não foram divulgados. Particularmente eu acho que é um valor pequeno tendo em vista que o Flu ganha 20% de cada peça vendida, o que me parece mais uma aposta do que uma certeza em investir no tricolor carioca.
De uma maneira geral, olhando pelo lado da empresa, não compensa patrocinar um clube no Brasil. Pensemos que, uma camisa em preço normal, custa R$ 230,00. Para conseguir ter um lucro razoável, é preciso vender 100.000 camisas NO ANO por esse preço inicial, que é o praticado pela SPMania. Isso daria R$ 23 milhões, lucro de oito milhões, se comparado ao que a empresa investe ANUALMENTE no SPFC.
A grande questão é: quem, no Brasil, paga isso em uma camisa? Levem em conta que TODAS as camisas precisam ser vendidas por esse preço e, particularmente, só compro camisas em promoção. Essa variável faria com que a empresa tivesse que vender mais produtos licenciados (agasalhos, bonés, mochilas, etc), que TAMBÉM SÃO CAROS, para chegar em alguma margem de lucro. Isso, com certeza, não acontece.
Nós, enquanto torcedores, compramos camisas do SPFC, não da UA. E a distribuição deles, em lojas físicas, é ruim. Ouso dizer que é tão ruim quanto a da Penalty, que tanto reclamavam. Agasalhos, camisas de treino e outros produtos não são encontrados em lojas de departamento, como a Centauro e outras do gênero. Só online, com frete caro e preços exorbitantes.
Vão dizer que os outros produtos e a exposição na mídia alavancam a venda e o comércio dos produtos deles no BR, mas isso é pura utopia, afinal, das linhas esportivas, tudo da UA é muito caro. A maior prova de que eles SABEM DISSO é a falta de lojas espalhadas por aí.
Se a ideia, depois da parceria com o SPFC, fosse aumentar o alcance e abrangência da marca, deveriam investir mais em novas lojas, certo? E não é isso que ocorre. A distribuição é ruim, produtos atrasam e a logística não é boa. Não acredito que, no fim do contrato, haverá renovação com valores MAIORES.
Tanto pela demanda de vendas quanto pelo momento da empresa. Claro que o SPFC pode levantar muitos canecos até 2019/20 e ajudar a diminuir esse déficit, mas duvido que os empresários americanos pensem assim.
Antes que digam que a matéria é parcial, ouso dizer que nenhum clube ajuda a fechar a conta do patrocinador, por mais dinheiro que ele invista, mas no caso de NIKE e ADIDAS, que possuem produtos mais acessíveis, o retorno em TERCEIROS (tênis de corrida e outras roupas), com certeza ajudam a equilibrar as contas. O problema é que a UA é uma marca cara, que não é de fácil acesso para a grande MASSA da torcida.
Qual a opinião de vocês sobre tudo isso que foi exposto?
Dúvidas? [email protected]
Vamos conversar!
Respeito sua opinião, mas fazendo uma rápida busca é possível questionar alguns pontos.
Primeiro, quando diz que não compensa para uma empresa patrocinar um clube no Brasil, está tentando fazer um comparativo de “retorno sobre investimento” olhando somente o retorno com produtos do clube. Ainda que isso fosse verdade, a análise das camisas também está incorreta, o SP vendeu 977.000 camisas no ano passado (e obviamente não é todo o valor de R$ 230,00 que fica com a UA). Porém, como você menciona posteriormente, o patrocínio tem um retorno intangível que é sim a exposição da marca e consequentemente a construção de sua imagem, não é por acaso que a UA escolheu SP e Fluminense para patrocinar (isso tem muito a ver em como a empresa quer se posicionar). E, apesar dos resultados GLOBAIS da empresa terem sido ruins, no Brasil eles estão em seu melhor momento e com a maior projeção de vendas da história. Claro, a distribuição não se compara ainda ao de outras marcas, mas isso é natural para quem está no país há pouco tempo, o investimento necessário para você ver as coisas da UA em tudo que é lugar é alto e realmente vai ser de modo progressivo.
Outro ponto é que globalmente grande parte do retorno da empresa ainda não vem do futebol, não se esqueça que a marca surgiu para o futebol americano e também é muito maior quando o assunto é o basquete e corrida. O investimento no futebol ainda é pequeno, mas se os resultados desse segmento não fossem satisfatórios eles não teriam tentado negociar com o Real Madrid uma nova parceria (ainda que tenha sido frustrada, você pode imaginar o investimento necessário no clube mais caro do mundo).
Enfim, claro que o mundo corporativo é muito dinâmico e uma simples mudança de estratégia ou um corte de custos forçado (como me parece que tenha sido o motivo do “desconto” pedido no nosso patrocínio) pode jogar tudo por água abaixo rapidamente. Porém, não acredito que os retornos sobre o futebol, sobre o Brasil e sobre o nosso tricolor seriam os motivos disso acontecer.
Também confesso que aí tem um pouco de torcida pessoal, sou muito fã da marca e para quem mora em SP o acesso aos produtos do nosso time nas lojas do estádio e do shopping Morumbi são muito tranquilos. A distribuição a nível nacional realmente ainda não é bacana mas isso só reforça o potencial de crescimento da marca no país. E quanto à comparação com a Penalty, a qualidade do material é incomparável, fora que quando éramos patrocinados por eles eu nunca vi nada além da camisa de jogo disponível para compra do torcedor comum. Com a UA eu já vi para comprar uniformes de treino, agasalhos, roupas de viagem, mochilas, etc. E como um bom torcedor fanático, sempre que sobra algum dinheiro corro para a loja para adquirir algum desses itens!
Espero ter contribuído! Abraço