Rogério Ceni assumiu o comando técnico do São Paulo coberto de confiança da diretoria e dos torcedores. Afinal, trata-se do maior ídolo da história do clube e nem mesmo seu pouco tempo de estudos diminuiu a crença de que estaria pronto para realizar um bom trabalho.
O começo do trabalho trouxe mais altos do que baixos. Um time mais veloz e que privilegia a posse de bola, bastante ofensivo, algo que pouco se via no time do ano passado, apenas 10º colocado no Campeonato Brasileiro e com campanhas ruins no estadual e na Copa do Brasil.
Mas algo estava errado. No começo, a velha máxima do tempo de adaptação sustentava a calmaria, mas, após a derrota por 3 a 0 no clássico contra o Palmeiras, o São Paulo, apesar da liderança em seu grupo, passou a ocupar o posto de pior defesa do Campeonato Paulista ao lado da Linense, com 17 gols sofridos – média superior a 2 por jogo.
O sistema falha em conjunto. As laterais do São Paulo há tempos são frágeis defensivamente, com Bruno e Buffarini oscilando entre atuações medianas e ruins. A zaga pena para achar a dupla ideal. Maicon sofre com lesões, Rodrigo Caio fica sobrecarregado, Lugano não é sombra do que já foi e por aí vai. Mas o verdadeiro drama está no gol.
Costuma-se culpar Rogério Ceni por não ter preparado seu sucessor, mas a responsabilidade por esse “buraco” na transição é da própria diretoria tricolor. Acostumada a se escorar no ídolo, mesmo quando ele não exibia mais a mesma capacidade técnica, deixou de olhar com atenção o desempenho de quem estava na fila à espera de uma oportunidade. Uma situação que provocou até um momento insólito, quando a mulher de um goleiro reserva reclamou publicamente da falta de espaço. Era a mulher de Denis.
Rogério Ceni atrasou em um ano sua aposentadoria e, em 2016, Denis enfim ganhou a tão sonhada chance. Sob a pressão de substituir um ícone do clube, Denis falhou. E falhou mais uma vez. E falhou tantas outras. A ponto de na temporada seguinte o São Paulo ir ao mercado buscar mais uma alternativa. Sidão chegou como um dos destaques do Botafogo que surpreendeu vindo da Série B e conquistou uma vaga na Libertadores deste ano. A tendência era assumir a titularidade, mas, assim como Denis, cometeu erros grosseiros, o que provocou uma espécie de rodízio na posição.
A indefinição sobre a vaga abriu uma porta até para Renan Ribeiro, terceiro goleiro que seria testado em partidas menos importantes no Paulistão e que agora “corre o risco” de ganhar a posição por pura falta de convicção da comissão técnica. A paciência da torcida já se esvaiu e a atuação risível no clássico cravou Denis no papel de vilão.
Na coletiva pós-jogo, Rogério elogiou o gol de cobertura de Dudu, mas não admitiu a falha de Denis. Natural não expor o elenco publicamente, assim como dificilmente admitia suas próprias falhas durante a vitoriosa carreira. Mas internamente sabe que tem um problema gigante para resolver: encontrar um camisa 1 confiável o bastante para impedir que seus planos para atingir o sucesso como treinador desmoronem.
Fabio Chiorinó – Blogs Lance