Obs.: As opiniões expressas neste espaço pertencem apenas ao autor do texto
Por Alexandre Guariglia – Blog Super Raio X, LANCE!
O jornalista esportivo é, por natureza, um entusiasta, não fôssemos assim talvez nem estaríamos na profissão. Muitos de nós seguiram este caminho por suas paixões clubísticas que não nos deixam jamais, embora alguns afirmem o contrário.
Contudo, no momento em que passamos para o lado de cá, é necessário controlar esse entusiasmo, por mais que o coração esteja envolvido, a imparcialidade deve falar mais alto, para sempre ter a consciência de que aquilo que falarmos vai ter um peso enorme naqueles que buscam nossa informação e nossa opinião. Eu já errei, continuo errando e devo errar em outras oportunidades.
Quantas vezes vemos discussões entre torcedores que constroem argumentos absurdos, muito distantes da realidade? Pois é, algum de nossos colegas provavelmente citou ou insinuou algumas dessas pílulas de sabedoria. Está aí um simples exemplo de como temos o poder de ‘emburrecer’ o debate.
O início de temporada é um prato cheio para o show de distorções e previsões baseadas em parâmetros furados que, por mais absurdos que sejam, são sintomas da busca pelo ‘viés positivo’. Não se trata de um mau humor ou somente ter olhos para as coisas ruins, mas de medir o momento e a circunstância, tendo como objetivo SEMPRE o ‘viés da realidade’.
Talvez o exemplo mais clássico seja o de Rogério Ceni como técnico do São Paulo. O maior ídolo da história do clube assume o cargo de treinador e consegue em pouco tempo arrumar a casa, dar novo estilo e espírito de jogo à equipe, sem contar as partidas com muitos gols. Vemos aí grandes méritos do ex-goleiro e de sua comissão técnica.
Sem dúvidas até o torcedor menos esperançoso tem motivos de sobra para se entusiasmar e sonhar alto, rasgando elogios e escancarando o brilho nos olhos a cada movimento do comandante de seu time, mas isso, vale insistir, é o papel do TORCEDOR.
A nós jornalistas cabe mostrar que nem tudo são flores e nem tudo são espinhos. Ceni não completou nem dez jogos oficiais à frente de um time de futebol, por mais que ele tenha experiência no esporte, é muito cedo para dizer que deu certo ou que deu errado.
Desses nove jogos oficiais, apenas dois foram contra equipes de Série A, dois contra times de Série C, dois de Série D e três contra clubes sem Série garantida para 2017. Veja na lista:
Osasco Audax – Série D
Moto Club – Série C
Ponte Preta – Série A
Santos – Série A
Mirassol – Sem Série
São Bento – Série C
Novorizontino – Sem Série
PSTC – Série D
Santo André – Sem Série
Como o próprio blog já publicou, o São Paulo, em média, tem o melhor ataque e a pior defesa entre os clubes que disputam a Série A. Está mais do que claro que o ataque funciona, mas será que o fato de tomar tantos gols é tão tranquilo assim?
Sete dos nove adversários enfrentados até aqui estão em um patamar muito abaixo dos desafios que serão encontrados ao longo da temporada. Não me parece normal sofrer quase dois gols por partida de rivais deste nível. O ano não é Paulistão, o ano não é estadual.
Isso sem falar nos muito comuns elogios às alterações de Ceni durante as partidas. Algumas realmente fizeram a diferença, como no clássico contra o Santos na Vila, porém outras (quase) colocaram a perder duelos controlados, como por exemplo contra Mirassol, São Bento e Novorizontino. Talvez tenha faltado destacar também quando as mudanças não deram certo.
Se os elogios não custam a sair, não dá mais para evitar as críticas só porque é início de temporada. É preciso dar o mesmo peso, nada pode estar imune. A idolatria em torno de Rogério Ceni não pode se tornar um jornalismo chapa-branca.
O exemplo do São Paulo é apenas um entre tantos outros que poderiam ser utilizados, a escolha por ele se dá pela proporção com que o assunto tem sido difundido. Está divertido ver o São Paulo jogar, é muito mais legal ver um jogo que acabe 5 a 4 do que um que fique no 1 a o, mas é preciso responsabilidade na hora de estabelecer opiniões tão precoces.
Estadual não pode ser parâmetro para elogios, é obrigação vencer, golear, ir bem, convencer… Paulistão, Carioca, Mineiro servem para observar as falhas, e pensar no quanto elas podem ser perigosas, caso persistam em torneios cujos adversários estão em nível superior ou igual.