O clima nos bastidores do Morumbi tem esquentado a cada dia por causa da eleição de abril que vai definir o novo mandatário ou a manutenção de Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, na presidência do clube no próximo triênio. E um dos temas que mais chama a atenção é o fato de Roberto Natel ter deixado o cargo de vice-presidente geral em setembro do ano passado para abrir concorrência a Leco e agora ter aceitado voltar para ocupar a mesma função na chapa “São Paulo de Verdade”. À Gazeta Esportiva , Natel explicou o caso e tentou colocar um ponto final na história, mas não negou o momento de divergência.
“São coisas muito pessoais, seriam coisas entre eu e ele. Talvez um pouco de falha (de Leco) por expor antes de acontecer as coisas. Acho que você está em um processo, você está junto. Mas isso não é por maldade, nada. Conversamos muito e ele prometeu rever e eu também prometi rever o meu lado que não agrada ele. Estamos todos na mesma direção”, explicou, tentando contemporizar a situação. “Você estando na administração tem problemas que ficam entre o presidente e você, mas isso não significa que os dois não estejam com o mesmo desejo, que é o bem do São Paulo”.
Sobrinho de Laudo Natel – ex-presidente do clube, de 1956 à 1972, e um dos principais responsáveis pela construção do estádio do Morumbi, além de também ter sido governador do Estado duas vezes, de 1966 à 1967 e de 1971 à 1975 – , Roberto participa da gestão do São Paulo há 12 anos e não nega que sonha em sentar na principal cadeira diretiva do Tricolor. Esse foi um dos motivos para sua renúncia à época.
“Naquele momento eu estava aborrecido, tinha o desejo de sair candidato. Saí, senti que chegou uma hora que estavam apenas me usando para dividir uma situação. Acho que a gente tem que olhar a instituição São Paulo Futebol Clube, não é o Roberto. O Roberto tem um desejo, mas esse desejo não é agora. A gente tem que ter ciência de que quando não é o momento, volta atrás, reflita, vamos pensar na instituição e fazer o bem ao São Paulo. Se lá na frente vai ser o momento, vamos esperar a hora certa”, vislumbrou, ciente de que, caso sua chapa vença a eleição contra José Eduardo Mesquita Pimenta, os próximos três anos servirão também como campanha sua para o pleito seguinte, provavelmente com o apoio do atual mandatário.
“Eu acho que isso vai acontecer desde que você faça um bom trabalho. Isso é automático. Não adianta prometer agora nesse momento e fazer um trabalho muito ruim nesses três anos. Por mais que você prometa, não acontece. O meu objetivo é trabalhar os três anos muito bem para, lá na frente, os conselheiros decidirem se é o meu momento ou não”, opinou.
Na tentativa de ganhar novos aliados e se fortalecer para a disputa, a chapa liderada por Pimenta e que tem o empresário Abílio Diniz como principal apoiador, tentou convencer Roberto Natel a mudar de lado e se unir na luta para bater Leco na eleição de abril, segundo contou o próprio dirigente.
“(A oposição) procurou. Houve essa procura, não vou dar nomes, mas desde o primeiro momento eu fui muito coerente. Disse ‘estou saindo, quero fazer uma disputa interna na situação, não vim para dividir de maneira alguma’. Quando não me deram uma chance eu tentei sair por uma terceira via. Quando eu saí pela terceira via e senti que naquele momento – eu havia conversado com algumas pessoas – não ia acontecer, e sim apenas para dividir uma situação onde o presidente Leco tem uma intenção muito boa, é uma pessoa correta, é um grande são-paulino, está há anos na instituição, e o grupo tem conhecimento há 12 anos da situação. Eu não podia olhar só para o Roberto apenas e dar sequência. Tirei meu sonho, por enquanto”, afirmou.
Roberto Natel aproveitou para reforçar que o compromisso da chapa ‘São Paulo de Verdade’ “é olhar essa dívida, controlar essa dívida, fazer com que o São Paulo cumpra o novo estatuto e dar sequência”. Ele também refutou qualquer favoritismo contra Pimenta, que já fora presidente no início dos anos 90, período de muitas glórias do clube dentro de campo, mas, contraditoriamente, antes de encerrar, ao ser questionado sobre o legado que a atual gestão deixará, caso seja derrota em abril, Natel foi enfático. “Nós não vamos perder”.
Gazeta Esportiva